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NOVIDADE | Mauro Campos
NOVIDADE| Foto: Mauro Campos

R$ 7,2 mi para VLT

Projetos que não saem do papel também consomem recursos públicos. Nem todos os estudos e projetos para a instalação de meios alternativos de transporte que constam do acervo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) foram desenvolvidos pelo órgão. No acervo, constam estudos elaborados por profissionais e escritórios de engenharia de outros estados, além do Instituto Jaime Lerner, que pertence ao ex-prefeito e ex-governador.

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Não é de hoje que o metrô e veículos com capacidade de transporte superior aos ônibus expressos circulam no imaginário dos administradores curitibanos. As discussões e os estudos de formas alternativas de transporte de massas começaram há mais de 30 anos, sem que nenhum dos projetos tenha saído do papel. Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), os primeiros registros de estudos prévios sobre a instalação do bonde elétrico, mais conhecido como Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), datam de 1975. Até hoje, de acordo com o Ippuc, foram elaborados pelo menos 30 estudos prévios sobre meios alternativos e dois projetos básicos de instalação do VLT, em 1990 e em 2001.

A preocupação com a saturação do sistema de transporte em Curitiba começou logo após a criação do Eixo Norte-Sul, com a adoção das canaletas exclusivas de ônibus expressos, na década de 1970. Hoje, as prateleiras da biblioteca do Ippuc abrigam uma quantidade considerável de papéis amarelados com projetos de ônibus elétricos, trilhos de bondes modernos que cruzam o centro da cidade, estações de embarque e desembarque na Travessa da Lapa e até caminhos suspensos sobre a BR-476. Ao longo das últimas três décadas, no entanto, os administradores optaram por aumentar a capacidade do sistema já existente, com a adoção de medidas pontuais, como os ônibus biarticulados e o Ligeirinho.

Os estudos mais antigos, de 1975, previam a instalação de bondes elétricos, que fariam um trajeto semelhante ao dos ônibus expressos. A idéia foi abandonada, mas o formato dos abrigos e das estações acabaram sendo utilizados nos pontos e terminais de ônibus. Em 1978, um estudo assinado pelo engenheiro Adriano Murgel Branco, ex-secretário dos Transporte e de Habitação do Estado de São Paulo, previa a instalação do trolebus, ônibus elétrico até hoje utilizado na capital paulista. A idéia do trolebus ganhou ainda mais força na década de 1980, quando o então prefeito Maurício Fruet (1983-1986) determinou que um novo estudo fosse feito. A principal motivação na época era a busca de uma alternativa ao petróleo, mas o projeto foi outro que não saiu do papel.

No início da década seguinte, os projetos migraram de vez para o VLT. Em 1990, durante o terceiro mandato de Jaime Lerner como prefeito, foi elaborado o primeiro projeto básico, com o objetivo de obter financiamentos para a obra. O projeto previa a instalação do VLT no Eixo Norte-Sul, mesmo local para onde está previsto metrô nos dias de hoje. A idéia foi abandonada pelo sucessor de Lerner, Rafael Greca, prefeito entre 1993 e 1996. Outro projeto básico só seria feito mais de uma década depois, em 2001, na segunda administração do ex-prefeito Cassio Taniguchi. A diferença era o local – a idéia era construir um elevado sobre a BR-476, o trecho da BR-116 que cruza a capital. A proposta ficou no papel devido à falta de financiamento.

Na semana passada, a reportagem tentou contato com técnicos que participaram da elaboração dos projetos anteriores e com os três últimos ex-prefeitos de Curitiba. Entre os técnicos, nenhum se dispôs a falar. Para o arquiteto curitibano Ricardo Amaral, um dos principais problemas do sistema de transporte coletivo em Curitiba é a vaidade dos antigos administradores. "Tem muita discussão e pouca ação. É muita vaidade dos ex-prefeitos, mas ações efetivas, como colocar os planejadores na prancheta, nós não vemos mais", afirma.

Para Amaral, diante das dificuldades que o sistema vem enfrentando, o Ippuc deveria dar respostas criativas, como as da década de 1970, quando foi adotado o sistema de canaletas exclusivas. "Onde estão as soluções criativas do Ippuc?", questiona. "Nos últimos anos, os prefeitos foram contra a idéia do metrô e disseram que o sistema de transporte de Curitiba era o melhor do Brasil. Alguns anos se passaram, será que ainda temos o melhor sistema?"

A opinião de Fábio Duarte, professor do Mestrado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), é semelhante. "Nos anos 70, Curitiba fez uma inovação radical em seu sistema de transporte, todo o sistema foi repensado. O que se está fazendo agora é uma mudança incremental, temos um tipo de modal de média capacidade (biarticulado), agora cria-se o modal de alta capacidade (metrô)", comenta. "Aumenta-se a capacidade, mas não se dá nenhuma outra alternativa. É preciso fazer estudos para o metrô, mas não só isso, é preciso estudar perspectiva da nova matriz modal para Curitiba." Para Duarte, Curitiba deve voltar a inovar. "Um dia, Curitiba mudou o paradigma do transporte no Brasil. Hoje, quer copiar São Paulo."

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