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Peças foram criadas a partir de uma oficina de comunicação | Divulgação
Peças foram criadas a partir de uma oficina de comunicação| Foto: Divulgação

Entrevista

"Campanhas direcionadas a esse público são necessárias"

Diego Antonelli

O sociólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Boneti, acredita que a campanha publicitária do governo federal reflete a realidade em que vivemos. Ele realizou pesquisas focadas em prostituição, afirma que essa atividade sempre existiu e que só irá desaparecer quando os conflitos sociais forem extintos.

O que o senhor achou da iniciativa do Ministério da Saúde em lançar uma campanha publicitária focada na prostituição?

A campanha trabalha com duas perspectivas: a de evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis; e a de mostrar que existe prostituição. A prostituta é um produto social. As contradições da sociedade fazem a figura da prostituta existir. Este é um aspecto que a campanha também deseja mostrar.

A campanha fere os princípios da dignidade humana?

Não. A realidade está aí e a campanha relata o real. A prostituição é histórica. O ideal era que essa atividade humana não existisse, que não fosse necessária. Mas se ela está presente na sociedade, é necessário ter campanhas direcionadas a esse público.

Qual é o significado de o governo federal abordar as prostitutas na campanha?

No momento em que o governo reconhece essa atividade, é mais fácil implantar programas de prevenção. Se o Estado não reconhece as prostitutas, não tem como realizar políticas públicas de saúde.

A campanha choca parte da sociedade?

Sim, pode chocar muita gente. Mas com esse tipo de ação surge o debate público. E nos debates públicos surgem as grandes transformações da sociedade.

Interatividade

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O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, mandou retirar ontem a peça "Eu sou feliz sendo prostituta" do site do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Padilha também exonerou o diretor do departamento, Dirceu Greco. O material fazia parte de uma campanha do ministério nas redes sociais para prevenção de aids e redução do preconceito e foi lançado para celebrar o Dia Internacional das Prostitutas (2 de junho). Padilha afirmou que o material estava em teste. "Enquanto for ministro, uma peça como essa não fará parte de campanha", disse.

Outras peças, como vídeos em que profissionais do sexo afirmam: "Sou puta, a minha presença te incomoda?", foram mantidas. Esta é a terceira vez que o ministro determina a retirada de material polêmico depois da publicação. Em março, a pasta, por determinação do Palácio do Planalto, havia mandado recolher um kit de prevenção de aids dirigido a adolescentes. O material abordava temas como homossexualidade, drogas e gravidez.

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Mário Scheffer, classificou a medida como um retrocesso histórico. "Desde a época do governo Fernando Collor não se vê tamanho equívoco", afirmou. Ele observou que a política brasileira de prevenção à aids sempre se destacou por promover a autoestima dos grupos mais vulneráveis e a inclusão. "Associada à testagem, ao tratamento, a estratégia dá bons resultados", completou.

Scheffer observou que, com o enfraquecimento das estratégias de prevenção, há risco de aumento de casos de aids. "O Brasil perde uma oportunidade histórica de reduzir os casos. É preciso usar estratégias combinadas, com testagem, prevenção, tratamento precoce. E não varrer o problema para baixo do tapete."

Evangélicos

Deputados da bancada evangélica usaram a comissão de Direitos Humanos, presidida pelo pastor Marco Feliciano (PSC-SP), para fazer críticas à campanha do Ministério do Saúde de prevenção à aids e redução do preconceito, que tem uma peça com a frase "Eu sou feliz sendo prostituta".

O assunto entrou em debate com uma manifestação do deputado João Campos (PSDB-GO). "Esse governo tem uma capacidade de buscar uns temas que me assusta. Não tem outra política pública decente para fazer?", questionou. "Já vejo os títulos das próximas campanhas. Sou adúltero, sou feliz. Sou incestuoso, siga-me. Sou pedófilo, sou feliz, sou realizado."

Outros parlamentares fizeram manifestações na mesma linha. "Estamos combatendo a prostituição infantil e vem uma campanha incentivando. Você está combatendo, tirando das ruas, aí vem a campanha dizendo que é feliz. Ninguém é feliz", disse a deputada Liliam Sá (PSD-RJ). "A mulher não nasceu para ser prostituta, nasceu para ser mãe de família", afirmou Costa Ferreira (PSC-MA).

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"Outros grupos já haviam sido contemplados. Era essencial a mensagem para essas profissionais."

Santinha Tavares, presidente da Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos.

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