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Ele responderá ao processo em liberdade

O empresário Eduardo Miguel Abib, de 27 anos, que na semana passada se envolveu em um grave acidente de trânsito que deixou quatro mortos no bairro Batel, em Curitiba, foi solto na noite de sábado (12). Ele havia sido preso em flagrante na manhã do dia 7, logo após a batida, sob a acusação de homicídio com dolo eventual – quando o autor assume o risco de matar. Segundo testemunhas, ele estaria em alta velocidade e teria furado o sinal vermelho antes da colisão, e, de acordo com os policiais que atenderam à ocorrência, apresentava sinais de embriaguez.

A decisão pela liberdade provisória de Abib foi tomada pelo juiz Pedro Luiz Sanson Corat, da Vara de Inquéritos Policiais de Curitiba, e cumprida por volta das 20h30 do sábado. "(...) O requerente possui ocupação lícita, residência fixa e é primário, restando portanto, face a aparente ausência de periculosidade do agente nesta fase inquisitorial, que o pedido [de liberdade provisória] merece acolhimento", disse o magistrado nos autos judiciais.

Corat ainda considerou haver contradições nos depoimentos das testemunhas, o que não confirmaria as informações de que Abib estaria embriagado e que teria furado o sinal vermelho. "Restou claro que o airbag do motorista da Pajero foi acionado, sendo público e notório que este equipamento ofende a integridade física do motorista, (...), situação que pode ter gerado a sua aparência de desnorteado, cambaleante e a vermelhidão no rosto e olhos", afirmou.

O juiz ainda destacou o fato de Abib não ter omitido socorro, demonstrando "não ser um marginal ou irresponsável que se furtou à responsabilidade". "A situação remete ao paradigma de que a liberdade de um suposto culpado pode gerar uma injustiça, contudo a prisão de um provável inocente com certeza causa a injustiça e um mal sem volta", informa o texto da decisão.

Até esta manhã, o delegado Armando Braga de Moraes, responsável pelo inquérito que investiga o caso e titular da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), onde o empresário estava preso, não havia tomado conhecimento do teor da decisão. "Recebemos apenas o alvará que determinava a soltura, sem fiança, e cumprimos", explica. "Mas a investigação não muda em nada, ele apenas responderá ao inquérito em liberdade", afirma.

A colisão ocorreu às 6h30 da segunda-feira passada (7). Uma Mitsubishi Pajero, conduzida por Abib, descia a Rua Francisco Rocha. Ao chegar ao cruzamento com a Avenida Batel teria furado o sinal vermelho, colidindo com o Citroën C3, que seguia sentido Centro/bairro. Dos cinco ocupantes do Citroën, quatro morreram, e Felipe Pires, pastor da Igreja Mundial do Poder de Deus, foi hospitalizado com ferimentos considerados graves.

O pedido de liberdade provisória foi feito pelos advogados Alessandro Silvério e Bruno Vianna, que defendem Abib, na última quarta-feira (9). Embora o Ministério Público (MP) do Paraná tenha dado parecer pelo indeferimento do pedido, o juiz acatou a solicitação e assinou a concessão de liberdade na sexta-feira (11). Os advogados de Abib não foram localizados pela reportagem nesta manhã.

Investigação

O prazo para a conclusão do inquérito é de 30 dias, mas o delegado diz que pode ser prorrogado por mais 30 caso os laudos do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico Legal (IML) ainda não tenham sido finalizados. "Os laudos de local de morte, necropsia e lesão corporal ajudarão a detalhar a dinâmica do acidente no inquérito", explica o delegado. Segundo ele, para este caso foi descartada a necessidade de uma reconstituição. "Não há dúvidas sobre o que ocorreu para que precisemos confirmar materialmente", diz.

Nos próximos dias, Moraes espera colher o último depoimento do inquérito, do pastor Felipe Pires, que dirigia o Citroën C3 e sobreviveu ao acidente. Além de Pires e de Abib, foram ouvidas testemunhas da batida e policiais que atenderam a ocorrência.

Até a manhã desta segunda-feira (14), Pires continuava internado no Hospital Evangélico, com quadro estável. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, ele sofreu uma lesão no tórax, mas não houve fratura. A previsão é que ele receba alta nos próximos dias.

Mortes em acidentes

Este foi o terceiro acidente grave neste ano que resultaram em morte e gerou repercussão em Curitiba por envolver motoristas com sinais de embriaguez. Em maio, o então deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho se envolveu em um acidente que matou os estudantes Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida em um acidente de carro.

Além de ter a carteira de habilitação suspensa, o exame de sangue apontou que Carli estava embriagado. Em fevereiro ele deve prestar depoimento no processo que apura a responsabilidade no acidente. Ele responde, em liberdade, por duplo homicídio com dolo eventual. Em julho, na única vez que falou à imprensa, em entrevista à Gazeta do Povo, Carli disse que ainda estava avaliando se irá encerrar a carreira política. Atualmente ele é um dos diretores da rádio 92 FM, em Guarapuava.

Outro caso que causou repercussão foi o atropelamento que envolveu o estudante Krystopher Martins Salvador Lopes, de 20 anos. Em outubro, quando voltava de um Atletiba, o jovem, coxa-branca, atropelou um torcedor do Atlético, que acabou não resistindo aos ferimentos. Krystopher foi indiciado por homicídio e lesão corporal com dolo eventual e está preso no Centro de Triagem II, em Piraquara, a espera de julgamento.

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