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Toque feminino nas mesas de pôquer: sedução é uma das estratégias do jogo | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Toque feminino nas mesas de pôquer: sedução é uma das estratégias do jogo| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Risco

Jogo de azar pode levar a doença

Jogo de estratégia, o pôquer tem sido considerado um esporte. Mas a obsessão por jogos de azar pode ser patológica. O transtorno é classificado como ludopatia, uma alteração progressiva do comportamento de um indivíduo que sente uma incontrolável necessidade de jogar, desconsiderando qualquer consequência negativa. Trata-se de um vício. Em alguns países, é justificativa para divórcio.

A doença é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na sua classificação Internacional de Doenças no ano 1992. No entanto, essa não foi a primeira vez que, como categoria, foi diagnosticada e com o nome de Jogo Patológico. Já em 1980 aparece no Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM III).

É preciso mostrar inúmeras variações de raciocínio e de ações. E a vitória pode render muito dinheiro, pois são movimentados milhões de dólares no mundo todo, ao vivo ou virtualmente. Assim é o pôquer, um fenômeno mundial que vem conquistando adeptos a cada dia e foi reconhecido como um esporte que envolve inteligência, percepção, estratégia, disciplina, habilidade e matemática.

A mulher no mundo do pôquer ainda é tida como figura frágil, porém decidida. Lá fora, elas estão em evidência e conquistam patrocinadores. No Brasil, ainda há poucas jogadoras, mas com enorme potencial. Torneios e circuitos estão sendo realizados em todo o território nacional. As transmissões pela tevê aumentaram a popularidade. Jogadores que não querem se expor ainda têm a possibilidade de jogar pela internet – estima-se que 2 milhões de pessoas pratiquem o pôquer pela rede, segundo o Brazilian Series of Poker (BSOP).

"Espero que possamos al­­­cançar o espaço que as mulheres lá fora já têm. Para isso, precisamos de mais união", diz a jogadora Alê Braga, uma das grandes referências nos torneios. Alê tem 32 anos, é formada em Administra­ção de Em­­presas, trabalhou em bancos e empresas de tecnologia e começou a jogar há três anos, quando viajou com o marido, também jogador, para Las Vegas.

Antes de voltar para o Brasil, compraram vários livros sobre o tema e começaram a estudar. Um ano depois, o hobby rendeu frutos. "Aí percebi que o jogo era realmente de habilidade e pedi para meu marido me treinar. Peguei gosto e passei a me dedicar. Os resultados vieram na sequência", conta.

Destemida

Seu estilo de jogo é o tigh-agressive: ou seja, aposta para valer. Também se adapta à mesa, observando a forma de jogar dos adversários e tentando encaixar a me­­­lhor estratégia para cada um. "É o segredo."

Alê já participou de mais de cinco mesas finais (formadas pelos dez melhores) nos torneios do Venetian, em Las Vegas, todos com algo entre 400 e 700 participantes. Constam no seu currículo também mais de três mesas finais no campeonato brasileiro, um segundo lugar em um dos maiores torneios do Brasil, além de várias conquistas em torneios com menor número de participantes.

Ficou encantada quando teve a chance de jogar com muitas pessoas que admira. Mas seu sonho é estar ao lado de Doyle Brunson, que, segundo ela, é a pessoa mais querida e experiente no mundo do pôquer. Ele tem 77 anos, joga profissionalmente desde os 18 e até hoje não perde um torneio importante. "É um exemplo maravilhoso de profissional bem sucedido", diz.

Alê diz que seu marido controla e administra os retornos obtidos pelo casal com o pôquer. "Conseguimos comprar um bom apartamento, temos carros novos e viajamos muito. Nosso padrão é superior ao de antes."

Seu último campeonato foi o Venetian Deep Stack, este ano. Jogou dez torneios e fez dois grandes resultados. No primeiro, pegou o 13.º lugar, entre 532 jogadores, e no segundo ficou em 6.º, entre 649. "No ranking geral, tenho boa colocação e estou em primeiro entre todas as mulheres."

Sua meta é jogar no evento principal da WSOP (torneio com US$ 10 mil para entrar e premiação média total de US$ 70 mi­­lhões, com 7 mil participantes), e outros deste porte. "Enquanto tiver saúde e energia, quero continuar jogando. Como é um es­­­porte da mente, sei que o pôquer vai me ajudar a ser sempre ativa, pelo menos enquanto estiver praticando."

Sedução

A arquiteta Hemily França Guimarães tem 25 anos e começou a jogar pela internet, diariamente, há dois anos e meio. Conheceu o pôquer por meio de um programa de tevê, que, coincidentemente, falava das vantagens que as mulheres levam nesse esporte, já que intimidam os homens, por se tratar de um jogo em que se usa muito o olhar para identificar o oponente.

"Coloquei (na web) uma foto provocante, porque eles perdem a atenção." Conta que tem até jogador homem que usa foto de mulher como estratégia para tirar a concentração do adversário. Hemily aprendeu os truques direitinho. Pois já notou, também, que os homens querem mostrar que são gentis e abrem mão de ganhar o jogo para flertar. "Aproveito bastante", brinca.

Quando começou a jogar, a mãe e o namorado foram contra, com medo de que ela ficasse viciada. Já o padrasto apareceu com quatro livros, lhe deu dinheiro e já formatou uma divisão dos lucros. "Só quando perceberam que se tratava de um jogo de inteligência é que me apoiaram." Por meio do pôquer, Hemily juntou US$ 700 em dois meses. Tem a meta de chegar a US$ 2 mil, até o fim do ano.

Seu último namoro não du­­rou muito, porque o pôquer gerava ciúme, já que dedica muito tempo a isso. "Ensinei meu novo namorado a jogar para não ter problemas." Para não ficar viciada, Hemily tem uma regra: se perde três partidas, para. "Aprendi com outros jogadores que precisamos nos controlar quando estamos perdendo", ensina. E mais: lembra que a concentração feminina é prejudicada quando há algum problema pessoal, mesmo que seja uma briguinha boba com o namorado. Nesses dias, é bom passar longe do pôquer.

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