O surgimento dos chamados “musos fitness” – homens e mulheres cujos corpos esguios e delineados mobilizam séquitos de adMmiradores que acompanham via redes sociais a rotina diária de exercícios, saladinhas e shakes – inaugurou o que se pode chamar de “Era Fitness”.
O fenômeno levou a busca por um corpo saudável e fortalecido a outro patamar, mas esconde uma armadilha: as altas taxas de inscrição em programas de atividades físicas não significam que os indivíduos de fato pratiquem exercícios tempo o suficiente para obter ganhos de saúde reais.
A constatação é dos pesquisadores Sandro Sperandei (Fiocruz), Marcelo Vieira (Instituto de Cardiologia Aloysio de Castro) e Arianne Reis (Sydney University), que acompanharam durante dez anos as idas e vindas de mais de cinco mil pessoas em uma academia no Rio de Janeiro. Eles descobriram que a procura por treinos físicos é alta; o verdadeiro problema é a permanência: 64% das pessoas abandonam o programa de exercícios no terceiro mês e apenas bravos 3,7% persistem por mais de 12 meses.
Na avaliação dos autores do estudo, os resultados são alarmantes, pois mostram que embora exista uma consciência geral sobre a importância de se praticar atividades físicas, poucas pessoas conseguem estabelecer a rotina necessária para gerar os efeitos positivos almejados.
Ponteiro da balança incomoda, mas não o suficiente
A manutenção de uma rotina de exercícios depende de uma série de fatores, que vão desde a idade até o motivo que levou o sujeito a contratar logo de uma vez o plano de 12 meses com todas as atividades possíveis e imagináveis incluídas.
Academias apostam em personalização para segurar alunos
Para combater os índices elevados de desistência, as academias costumam desenvolver estratégias em três frentes: capacitação dos profissionais; programas de atividades variados e preços mais convidativos.
“A qualificação é importante para que o professor consiga entender o que o aluno quer e explicar qual é o caminho até esse resultado. Oferecer atividades diferentes, como aulões temáticos, também é um caminho para fugir da rotina que tem funcionado”, explica Evelyn Babisz, coordenadora da Corpus, que tem uma média de 40 desistências e até 100 novos alunos por mês.
Nas duas academias da rede em Curitiba, o aluno pode aderir a pacotes entre R$ 98 e R$ 127, conforme o plano.
Há ainda academias que investem pesado em estratégias de marketing e personalização dos serviços para segurar os alunos.
Com mensalidades que vão de R$ 390 a R$ 430, a BodyTech de Curitiba realiza um acompanhamento periódico para saber se o aluno está satisfeito, se está bem adptado à rotina de exercícios e se está com as avaliações em dia. Estratégia simples que, aliada a um ambiente mais moderno, funciona.
De acordo com a coordenadora Beatriz Meinhardt, a baixa evasão pode ainda ser atribuída à proposta da rede e ao perfil da clientela, formada principalmente por adultos na faixa dos 40 anos. “A BodyTech tem mais a ver com wellness (bem-estar) do que com fitness. A maioria dos nossos alunos quer se sentir bem e melhorar a saúde e não se tornar atleta ou ganhar massa.”
De acordo com a pesquisa, os maiores frequentadores de academias são adultos entre 26 e 35 anos, inativos antes da matrícula e motivados pelo desejo quase universal de perder peso (68%).
Condicionamento físico e lazer aparentemente não são motivos bons o suficiente para ir à academia e foram mencionados por apenas 3% e 1,2% dos entrevistados. Bem-estar e saúde também não são grandes estímulos, sendo citados por apenas 9,6% e 21% dos alunos.
O irônico é que a maior taxa de abandono está justamente entre os frequentadores mais jovens, com idade inferior a 25 anos, que querem perder uns quilinhos – o que sugere que a balança talvez não seja tão persuasiva quanto se imagina. Já o sujeito com mais de 35 anos que busca desenvolver hipertrofia ou melhorar a saúde é mais propenso a manter uma rotina de exercícios por mais tempo.
Pressa por resultados e angústia afastam alunos
A pesquisa não é conclusiva sobre as razões do abandono precoce dos exercícios, mas sugere que a principal é a demora em alcançar resultados visíveis. Para a educadora física e coordenadora de ginástica da Corpus em Curitiba, Evelyn Babisz Silva, a desistência motivada pela pressa é resultado do imediatismo típico do nosso tempo.
“As pessoas têm pressa e buscam o exercício para obter um resultado imediato. Mas o objetivo real da atividade física é fortalecer o corpo – perder peso ou desenvolver massa muscular é consequência de uma rotina que demanda tempo e persistência.”
Uma outra hipótese lançada pelo estudo é a de que a desistência, mais comum entre pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) elevado, pode ter a ver com o desconforto e a angústia sentidos durante as sessões de exercício.
O professor de inglês Thomas Castegnaro, 28 anos, concorda. “O ambiente é opressivo e desestimulante porque não vemos ‘gente como a gente’ na academia, mas pessoas que já estão com tudo em cima. Academia para mim é quase sinônimo de desconforto psicológico e físico”, conta ele, que chegou a criar um blog para verbalizar os dissabores vividos em uma academia. Nem assim: a empreitada durou poucos meses.
O estudo aponta os ganhos de saúde e bem-estar como caminhos para tornar a ida à academia prazerosa – apesar de menos visíveis, esses ganhos são sentidos mais rapidamente, elevando a satisfação imediata e renovando o fôlego para encarar mais um plano trimestral.
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