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Sobrevoo mostra a mistura dos tipos de vegetação, com áreas de várzea, campo e florestais e o encontro dos rios Iguaçu e Barigui. | Antônio More/Gazeta do Povo
Sobrevoo mostra a mistura dos tipos de vegetação, com áreas de várzea, campo e florestais e o encontro dos rios Iguaçu e Barigui.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A preservação ambiental não deve ter fronteiras, afinal nem os recursos naturais, nem as consequências da degradação respeitam limites ou divisas. As cidades de Curitiba, Araucária e Fazenda Rio Grande decidiram levar em consideração essa característica natural e criaram, juntas, uma unidade de conservação: o maior refúgio de vida silvestre do Brasil e o único que é metropolitano. Trata-se do Refúgio do Bugio – que ganhou esse nome por causa das famílias desse tipo de primata que vivem nas matas do local. A assinatura dos decretos de criação e a solenidade de inauguração acontecem na manhã deste sábado.

Bugio capturado em Curitiba em 2014: espécie dá nome à área.Albari Rosa /Arquivo/ Gazeta do Povo

A área tem proporções consideráveis: só a porção curitibana equivale a seis parques Barigui. As partes de Fazenda Rio Grande e Araucária são do tamanho de 600 e 330 campos de futebol, respectivamente. Além disso, depois de tantos esforços para criar áreas na região Norte de Curitiba, o refúgio representa um grande investimento na região Sul – a unidade de conservação fica na confluência dos bairros Tatuquara, Campo de Santana e Rio Bonito. A área fica às margens da Rodovia do Xisto, na BR-476, nas proximidades da Refinaria da Petrobras (Repar) e do antigo aterro da Caximba.

O morador José Anselmo de Souza, conhecido como Zé da Chácara, comenta que era comum encontrar macacos na região.Daniel Castellano / Gazeta do Povo

O biólogo Mauricio Savi, assessor da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba, acredita que o refúgio é a primeira área criada realmente para a conservação ambiental – os demais parques da cidade são importantes opções para lazer e para a redução de impacto de enchentes, mas são pouco representativos para a preservação da fauna e da flora nativas.

Areeiros

A área tem dragagens de areia que, aos poucos, devem ser desativadas. Alguns areeiros já teriam se comprometido a recuperar as áreas degradadas. À medida que as licenças ambientais começarem a vencer, elas não serão renovadas. A legislação entende que os direitos coletivos são mais importantes que os direitos individuais. Entre os beneficiados está José Anselmo de Souza, 82 anos, que é morador nas proximidades. Conhecido como Zé da Chácara, é um dos pioneiros do lugar. Ele conta que, antigamente, era muito comum encontrar bugios no local. Agora com algumas facilidades de acesso, ele espera frequentar mais o local.

No refúgio do Bugio foram encontradas mais de 20 espécies de mamíferos e 112 espécies de aves, algumas migratórias, que usam o capão como parada estratégica enquanto estão se deslocando. A unidade ambiental é cortada pelo Rio Iguaçu e dentro dela está a foz do Rio Barigui. Os dois cursos d’água se encontram dentro do refúgio – o Barigui aparenta estar mais poluído. O refúgio também protege as margens do Rio Maurício, um dos poucos com qualidade hídrica na região.

Depois da criação da área, por decreto, a etapa seguinte é a elaboração do plano de manejo, que vai identificar quais as espécies animais e vegetais existentes na área e vai determinar os possíveis usos para o espaço. Assim, a definição de todas as estruturas que serão instaladas no local e quais serão as opções de lazer permitidas ainda depende do plano de manejo. Já é permitido o acesso de grupos de estudantes para visitas guiadas. Basta entrar em contato com as secretarias de meio ambiente.

A área já recebeu melhorias, como o asfaltamento do acesso e de uma ciclovia e a construção de um pórtico. Bancos de madeira foram colocados em meio a árvores para criar uma sala verde para aulas de educação ambiental.

Nas margens dos rios, estão sendo retiradas espécies invasoras e substituídas por nativas. Toneladas de lixo foram tiradas dos rios. Uma ponte, uma passarela e um deque – todos em madeira –foram construídos para facilitar a locomoção.

Numa das bordas do refúgio é possível observar o antigo curso do Rio Barigui (antes da canalização). A “vala aberta” será mantida, até como forma de conter a água em caso de chuvas intensas.

Modelo mescla áreas pública e particulares

O Refúgio do Bugio é um modelo diferente de unidade de conservação – nem todo o domínio é público. Em Curitiba, metade é pública. Já em Fazenda Rio Grande e Araucária, mais de 90% da extensão pertence a particulares. Não devem acontecer desapropriações. Os proprietários teriam recebido explicações e ficaram sabendo que podem continuar ocupando o terreno. A promessa de que a área será valorizada também serviu de incentivo.

O refúgio mistura áreas de várzea, manchas de campos, floresta de araucária e floresta montana (típica de serra). Chama a atenção a quantidade de lontras e bugios, que são indicadores da qualidades ambientais do espaço. O bugio é um macaco nativo da região, de médio porte, pesando cerca de 40 quilos. Estima-se que ainda existam no espaço cerca de 20 indivíduos divididos em até cinco famílias (que disputam espaço e dificilmente se “misturam”).

Na quarta-feira, quando a Gazeta do Povo esteve na área, equipes da secretaria municipal de meio ambiente encontraram uma armadilha para aves no local. Às vésperas da inauguração, parte do espaço havia sido pichado, mas a prefeitura de Curitiba informou que iria pintar as estruturas e pedir a presença de guardas municipais.

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