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hidroxicloroquina
Bolsonaro defende tratamento precoce. Imagem de arquivo| Foto: Reprodução / Arquivo

O presidente Jair Bolsonaro surpreendeu ao conceder uma entrevista à rádio Acústica FM, de Camaquã (RS), um município brasileiro com menos de 70 mil habitantes. O assunto da entrevista da sexta-feira (19) foi o caso da médica Eliane Scherer, desligada do hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã, depois de ter feito nebulização de hidroxicloroquina em um paciente de Covid-19. Há um conflito de versões sobre os motivos do desligamento.

O paciente era Dalvi Soares de Freitas, vereador e ex-prefeito do município próximo de Dom Feliciano (RS). À Gazeta do Povo, ele afirmou que o tratamento prescrito por Eliane salvou sua vida: “Ao mesmo tempo em que eu fazia a nebulização, eu olhava para o oxímetro, e eu via a minha oxigenação melhorando: 87%, 88, 89, 90, 91… Chegou a 97% de saturação. E eu me senti bem a partir dali. Terminada a nebulização, oito minutos depois de iniciada, a médica me coloca de volta no oxigênio com cinco litros por hora, e eu passo a me sentir bem. E ela diz para a enfermagem: ‘Pode levar para a internação, porque este aí está salvo’”.

Tanto Freitas como Eliane conversaram por telefone com o presidente, que manifestou seu apoio aos dois e aproveitou o caso para defender o direito dos médicos de usarem tratamentos “off-label” (fora da bula) como a nebulização de hidroxicloroquina. “Conversei com a doutora agora há pouco. Conversei com o vereador Dalvi, também. Ele falou que estava em uma situação complicada, sentindo a morte a seu lado”, afirmou o presidente à rádio Acústica.

Eliane, que trabalha para a Promed, uma empresa que presta serviço terceirizado para o pronto-socorro do Hospital Nossa Senhora Aparecida, afirma que não sabia, no momento do procedimento, que Freitas era um político conhecido. Ela relata que é falsa a informação de que o caso do vereador não era tão grave para caracterizar risco de morte. Segundo ela, a Promed a informou, depois do ocorrido, de que o hospital queria que ela saísse imediatamente das escalas de atendimento do pronto-socorro. Uma semana antes do caso de Freitas, outro paciente de Eliane já tinha se recuperado logo após uma nebulização de hidroxicloroquina.

O caso ganhou grande repercussão nas redes sociais e em apps de mensagens, onde prevaleceu a versão de que a médica teria sido afastada do hospital por ter usado tratamento precoce. O hospital e a Promed apresentam uma versão diferente.

Médica e enfermeiros tiveram discussão pesada antes da nebulização de hidroxicloroquina

Para fazer a nebulização de hidroxicloroquina, Eliane Scherer entrou em conflito pesado com os enfermeiros que acompanhavam Dalvi Freitas. Eles se recusaram a seguir instruções da médica para respeitar o protocolo do hospital. Segundo o assessor jurídico do hospital Nossa Senhora Aparecida, Maurício Rodrigues, a briga sobre o tratamento de Freitas teria sido o estopim para o afastamento, mas a decisão também foi fundamentada em relatos dos enfermeiros sobre a conduta da médica em outras ocasiões.

“A decisão foi no sentido de resguardar a equipe. Não decorreu de ela ter praticado um ato médico experimental, mas da forma como ela tentou impor essa prática, de forma agressiva, aos funcionários do hospital”, afirma Rodrigues.

À rádio Acústica FM, o diretor-técnico do Hospital Nossa Senhora Aparecida, Tiago Bonilha, afirmou que o tratamento precoce não faz parte do protocolo do hospital, mas que todos os médicos têm autonomia para aplicá-lo com a anuência do paciente.

Segundo Freitas, a discussão entre médica e enfermeiros foi “bem pesada”. “A doutora solicitou à equipe de enfermagem que fizesse uso desse procedimento comigo. A equipe de enfermagem não fez, alegando que não estava nos protocolos do hospital. Eu assisti à discussão, foi uma discussão bem pesada. Já que a enfermagem não fez, a médica sozinha me tirou da maca”, explicou.

Sobre a quebra de protocolos do hospital, a médica se defende afirmando que simplesmente cumpriu seu juramento médico. “Eu tenho um juramento! Eu trabalhei em UTI muito tempo. Quando tem pacientes graves, eu não tenho que pensar. ‘Ah, será que eu faço?’ Eu tive que agir, e eu agi. Não me arrependo do que eu fiz, porque hoje eu tenho dois pacientes vivos”, diz ela, em referência a Freitas e a outro paciente que ela tratou uma semana antes com o mesmo método.

O Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (Coren-RS) publicou uma nota técnica sobre o caso, defendendo os enfermeiros que cumpriram o protocolo do hospital. O Coren afirma, entre outras coisas, que ao profissional de enfermagem “é assegurado o direito de recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica, científica, ética e legal” e que “é proibido ao profissional de enfermagem administrar medicamentos sem conhecer indicação, ação da droga, via de administração e potenciais riscos, respeitados os graus de formação do profissional”.

Por meio de sua assessoria jurídica, o hospital Nossa Senhora Aparecida afirmou que levou as denúncias sobre a conduta da médica ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).

Correção

Maurício Rodrigues é assessor jurídico do hospital Nossa Senhora Aparecida, e não da Promed, empresa que presta serviços terceirizados para o hospital, como afirmava esta reportagem anteriormente.

Corrigido em 25/03/2021 às 14:22
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