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Lutero Couto, coordenador do NeuroBanco: objetivo é diminuir a “exclusão financeira” | Antônio More/ Gazeta do Povo
Lutero Couto, coordenador do NeuroBanco: objetivo é diminuir a “exclusão financeira”| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

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é o número de bancos comunitários no Brasil. O Instituto Palmas, que abriga o banco de mesmo nome, gere toda a rede e fornece orientação, materiais e software para implantação da iniciativa.

Radiografia

Número de bancos comunitários ainda é baixo no Brasil

Além dos 103 bancos conhecidos e cadastrados pelo Instituto Palmas, é possível que haja mais algumas dezenas de iniciativas parecidas no Brasil. Ainda assim é um número muito baixo se comparado à quantidade de comunidades pobres do país. "Em tese, o banco pode ser implantado em qualquer região carente, urbana ou rural", avalia Diogo Tsukumo, coordenador do Núcleo de Economia Solidária da Universidade de São Paulo (USP). "A industrialização tardia do Brasil gerou periferias pobres, onde o sistema financeiro oficial não atua". Para Tsukumo, é imprescindível que a própria comunidade exerça o controle sobre a instituição. Somente dessa maneira ela conseguirá se arraigar na cultura local e ser assimilada pelas pessoas. "Moradores registrados no Serasa, mas que são conhecidos pelos vizinhos como pessoas de boa fé, podem recorrer ao empréstimo comunitário", diz. (OT)

  • Neuro: parece de brinquedo, mas vale muito

Nem real, nem dólar, nem euro. Neuro é o nome da moe­­da que os moradores da Vila Pantanal terão à disposição para empréstimo a partir de abril, quando entra em operação o primeiro banco comunitário do Paraná. Os moradores desse bolsão de pobreza do bairro Alto Boqueirão, em Curitiba, terão linhas de crédito de até R$ 15 mil por pessoa, com juro de 0%. O tomador pagará apenas uma taxa administrativa. O valor, porém, será disponibilizado em uma moeda própria aceita apenas no comércio local. O objetivo é estimular o consumo e a oferta de serviços e produtos na região, dinamizando a microeconomia local e criando oportunidades para os moradores.

Lançado há algumas semanas, o NeuroBanco começa agora a fase de implantação efetiva. O principal entrave é a instalação de uma instituição financeira em uma região de alta criminalidade. Por isso, será um "nanobanco" – neologismo criado por um de seus coordenadores. Agentes financeiros farão o trabalho de inscrição dos interessados e repasse das quantias, sem a necessidade de uma sala fixa. "Existe uma forte exclusão financeira nessa região. A maioria dos moradores nunca teve uma conta bancária", aponta Lutero Couto, um dos coordenadores do NeuroBanco.

Linhas de crédito

O NeuroBanco será um correspondente da Caixa e oferecerá duas linhas de crédito. Uma de microcrédito tradicional, em reais, e outra de microcrédito local, em neuros, para produção ou consumo. A moeda criada tem conversibilidade em real de um para três, e está lastreada nos depósitos compulsórios feitos pelas instituições financeiras no Banco Central.

De acordo com uma norma vigente desde 2003, os bancos podem aplicar 2% dos depósitos em conta corrente em modalidades de microcrédito. O capital inicial do NeuroBanco é de 250 mil neuros (R$ 750 mil).

Antes mesmo do projeto bancário, a moeda neuro existia e circulava entre os participantes do Parque de Tecnologia Social, rede de participação política e cidadã entre pessoas físicas existente desde 2003. Como a ação não tinha capital próprio, criou-se a moeda como uma forma de proporcionar troca de trabalho entre os participantes. "O nome da moeda remete a ‘neurônio’, porque é um capital humano e intelectual", explica Couto.

Na Vila Pantanal, os neuros serão emprestados conforme a capacidade produtiva ou necessidade dos tomadores. "Produtores de comidas podem passar a vender para os próprios vizinhos. É um ganho nas duas pontas", projeta.

Fortaleza foi cidade pioneira na iniciativa

A história dos bancos comunitários no Brasil começou em 1997, num bairro favelizado da periferia sul de Fortaleza, no Ceará. O Conjunto Palmeiras, surgido duas décadas antes, começava a sofrer um processo de esvaziamento e perdia moradores. Apesar de ter 18 mil habitantes (mesmo tamanho do bairro Barreirinha, em Curitiba) e consumo de R$ 1,3 milhão por mês, a região não se desenvolvia. Era carente de comércio, emprego e infraestrutura pública.

Foi então que um grupo de articuladores percebeu que era necessário manter o dinheiro circulando entre os muros da comunidade. "Tínhamos 80% do consumo sendo feito fora do bairro, até porque não tinha nada para ser comprado aqui dentro", lembra o coordenador do Banco Palmas, Joaquim Melo. O banco foi fundado com um capital de poucos milhares de reais doados por organizações não governamentais e outros parceiros. O empréstimo mais alto nos três anos iniciais da iniciativa foi de R$ 500 e o tempo de quitação mais longo, de seis meses. "Como era pouco capital, tínhamos que fazer o dinheiro circular rápido", diz Joaquim.

Sucesso

Passados quinze anos da fundação do Palmas, os objetivos foram alcançados com sobras. Atualmente, 93% do consumo é realizado no próprio bairro. O Conjunto Palmeiras é endereço de seis empresas: uma confecção, uma agência de turismo, e fábricas de material de limpeza, artesanato, calçados e artigos de couro. O lugar dobrou de tamanho, chegando a 32 mil habitantes. "O comércio local cresceu muito, e o bairro também. Com a chegada do banco, chamamos a atenção da imprensa, da prefeitura, do governo do estado. Hoje temos postos de saúde, escola, transporte coletivo", enumera Joaquim.

O capital do Banco Palmas, hoje, é de R$ 3 milhões, valor conseguido a partir de contratos com o Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

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