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Uma das nascentes do Rio Miringuava que brota na propriedade de Nelson Koggy, em São José dos Pinhais. Preservar a água não rende um centavo ao agricultor | Priscila Forone / Gazeta do Povo
Uma das nascentes do Rio Miringuava que brota na propriedade de Nelson Koggy, em São José dos Pinhais. Preservar a água não rende um centavo ao agricultor| Foto: Priscila Forone / Gazeta do Povo
  • O crescimento urbano ameaça as belas paisagens do Rio Pequeno
  • Confira no mapa as localidades por onde a reportagem da Gazeta do Povo passou

Com seus 946 quilômetros quadrados, São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, não se destaca apenas pelo aeroporto, comércio movimentado ou indústrias pujantes. Na zona rural, a cidade abriga um patrimônio ecológico exuberante, especialmente na região das bacias hidrográficas dos rios Pequeno e Miringuava – importantes mananciais da RMC cujas áreas de influência correspondem a metade do território do município.

A reportagem da Gazeta do Povo percorreu um trecho de 60 quilômetros de estradas de terra para conhecer de perto as belezas e fragilidades da região. Para nos guiar nesta miniexpedição, convidamos o engenheiro florestal Eduardo José Jankosz e o diretor do Departamento de Controle Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de São José dos Pinhais, João Teixeira da Cruz.

Partida

Partimos do Centro de SJP em direção à localidade de Costeira, subindo em direção às nascentes do Rio Pequeno. A primeira parada foi na estação de tratamento de água (ETA) Rio Pequeno, da Sanepar, que capta e trata boa parte da água que abastece a cidade e outros municípios da RMC. Eduardo, que na infância nadava no Pequeno, hoje lamenta os sinais de degradação ambiental causados pela ocupação desordenada e pelo desleixo de quem joga lixo nas margens do rio. "Isso tudo é um reservatório de água e o pessoal aterra, joga caliça de construção, achando que é um banhado. E é justamente isso que evita as enchentes", explica, mostrando uma grande área de várzea às margens da estrada.

Mais adiante, chegamos à Colônia Mergulhão, região produtora de vinhos e com grande potencial turístico. Ali, o aspecto do Pequeno melhora: há vegetação nas margens e até dá vontade de entrar na água. O comerciante Antonio Iluir Przybicien conhece bem o potencial da região. Ele administra um pesque-pague que nos finais de semana chega a receber mil visitantes. Como depende da água para sobreviver financeiramente, Antonio adota medidas preventivas: isola o esgoto em fossa séptica (não há rede coletora naquela área); oxigena constantemente os tanques d’água; e procura manter limpa a área de pesca. Tarefa, aliás, complicada. "Olha quantos baldes de lixo tem aqui. Ainda assim, tem cliente que prefere jogar no chão ou na água", reclama. Segundo ele, há menos peixes hoje no Rio Pequeno do que antigamente. Bagres, tilápias e carpas só mesmo nos tanques de sua propriedade.

Capão Grosso

"Estamos em plena área de proteção ambiental estadual e os loteamentos estão surgindo, meio que aleatoriamente", alerta João Teixeira ao chegarmos a Capão Grosso. Ele explica que, naquela localidade, grandes áreas estão sendo subdivididas para dar origem a novos imóveis, trazendo lixo e risco de contaminação dos mananciais. Mais adiante, já no distrito de Curralinho, paramos diante de uma área particular. João indica um pequeno afluente que cruza o terreno. "Aqui o proprietário roçou o mato e desprotegeu a água. Isso é um crime ambiental", sentencia. "Cada propriedade dessas tem que respeitar o corpo hídrico. Lá embaixo, todo mundo vai beber essa água", pondera Eduardo. Compensar financeiramente quem preserva ajudaria a reverter esse quadro, garantem ambos.

Transição

Continuamos subindo até Papanduva da Serra, há 25 quilômetros do Centro, e entramos na zona de transição entre as bacias hidrográficas. Um pouco mais a frente, chegamos em Gamelas, na bacia do Miringuava. É nessa região montanhosa e bem preservada que mora Nelson Koggy, 56 anos, um verdadeiro ambientalista "disfarçado" de agricultor. Este simpático descendente de poloneses, de hábitos simples e pouca instrução, arranjou até briga com os vizinhos por não concordar com a derrubada de árvores.

Seu Nelson planta hortaliças orgânicas e há 13 anos não usa uma gota de agrotóxicos sintéticos. Além disso, preserva quatro nascentes do Miringuava em da propriedade. "Isso aqui é que nem sangue na veia: se não tiver, a gente morre. É a mesma coisa com as nascentes", ensina o sábio agricultor. Apesar de toda a dedicação, ele não recebe um centavo a mais por seus produtos. "O pessoal acha que a gente ganha um rio de dinheiro. Não é verdade", desabafa. Nas mãos, segura maços de salsa e pés de alface de um verde exuberante.

Já no caminho de volta, passamos pela Colônia Murici, famosa pelo turismo rural e gastronômico, baseado na produção de vinhos, queijos e salames. O ambiente italiano, rústico e acolhedor, aliado à generosidade da Mãe Natureza, dá ao lugar a condição de transformar-se em futuro polo turístico. Basta preservar.

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