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Victor Meirelles retratou a batalha do Riachuelo: navios e topografia são mais fiéis à realidade que a cena em si |
Victor Meirelles retratou a batalha do Riachuelo: navios e topografia são mais fiéis à realidade que a cena em si| Foto:

Um quadro para valorizar a vitória

A pintura que ilustra esta página tem 4 metros de altura por 8 de largura. A grandiosidade da obra é proposital: foi pintada por Victor Meirelles para "retratar" a batalha do Riachuelo, sob encomenda da Academia Imperial de Belas Artes. Trata-se de uma pintura histórica, que, assim como as outras, quer supervalorizar os combates que o Brasil venceu. "O pedido da produção de quadros como este já fazia parte de uma tradição da Marinha, que desejava criar um arquivo próprio para contar sua história", explica o historiador Luis Carlos da Silva, que estudou o assunto para sua dissertação de mestrado.

A mensagem do quadro é exagerada: o comandante da frota brasileira, Francisco Manuel Barroso da Silva, está na ponta do navio como se fosse um superguerreiro e os paraguaios estão jogados no rio e no chão, com roupas de maltrapilhos. "Eles foram colocados assim no quadro para engrandecer o triunfo da Marinha, portanto a cena da pintura não é fiel à batalha", diz Silva. Por outro lado, Meirelles viajou com a Marinha durante cerca de quatro meses, logo depois da batalha do Ria­chuelo, para fazer um levantamento topográfico da região, e por isso os navios e as características geográficas da cena são mais fiéis. O pintor percorreu a região da Fortaleza de Humaitá, no Paraguai, onde o Brasil também guerreou – Meirelles tem, inclusive, uma outra obra com este tema.

A obra, que leva o nome Batalha, começou a ser pintada em 1868 e ficou pronta em 1872. O quadro original chegou a ir, em 1876, para uma exposição nos Estados Unidos, onde foi estragado por completo depois de pegar chuva. Meirelles decidiu repintar a obra; dizem que ela recebeu mais detalhes, mas que é tão perfeita quanto a anterior. O primeiro quadro custou ao governo brasileiro 16 contos de réis (o pintor teria de trabalhar três anos para conseguir juntar este dinheiro). Atualmente a obra está no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. (PM)

  • Entenda o que se passou na batalha

Pela grandiosidade e quantidade de homens envolvidos, certamente a batalha naval do Ria­chuelo (somada aos outros combates da Guerra do Paraguai) foi mais importante para o Brasil do que a participação do país na Segunda Guerra Mundial. Mas, ao contrário das inúmeras pesquisas feitas em torno do maior conflito do século passado, há poucos interessados, por exemplo, em levantar a quantidade correta de combatentes no Ria­chuelo, mesmo que cada província do Brasil tenha sido obrigada pelo império a enviar um certo número de homens para o combate (eles foram chamados de "voluntários da pátria"). Acre­dita-se que foram entre 100 mil a 150 mil homens para toda a Guer­­ra da Tríplice Aliança, en­quanto na Segunda Guerra foram enviados 25 mil à Itália.

O Riachuelo também é tema quase desconhecido na história escolar do país, mas foi justamente nesta batalha que o Brasil, pela primeira vez, desenvolveu um espírito de nacionalidade, onde um povo heterogêneo se reconheceu como único. Antes do Ria­chuelo, os atuais estados (que eram províncias) eram vistos como regiões independentes: a população não se enxergava como brasileira; primeiro dizia que era baiana, gaúcha, mineira.

A batalha naval do Riachuelo marca o início da Guerra do Paraguai e começou às 9h25 do dia 11 de junho de 1865 (há 145 anos). É errado pensar que ela ocorreu por interesses da In­­glaterra, que queria "destruir" a possível industrialização do Paraguai, que seria alcançada sem se submeter ao império inglês. "Essa ideia é fruto de trabalhos e especulações feitas em 1960 e 1970. Está mais do que provado que não havia uma possível industrialização no Para­­guai", explica o historiador Fran­cisco Doratioto, do departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) e autor do livro Mal­­dita guerra: nova história da Guerra do Paraguai.

Na verdade, a batalha foi motivada porque o ditador Solano Lopez temia o poderio brasileiro na América Latina, e também por causa do interesse do Paraguai na navegação pelo estuário do Rio da Prata (veja mais sobre a batalha no quadro ao lado).

Acredita-se que, por causa da batalha do Riachuelo, o Paraguai já saía perdedor na guerra. A questão, porém, não pode ser simplificada. Doratioto explica que o Riachuelo ajudou a enfraquecer o exército paraguaio, mas que mesmo assim a Guerra do Paraguai durou cinco anos (1865 a 1870), o que mostra que eles eram valentes. A vitória do Riachuelo permitiu ao Brasil, junto com a Argen­tina, fazer o bloqueio naval dos navios paraguaios. Este bloqueio estratégico reduziu a capacidade militar do Paraguai, que ficou impossibilitado de comprar armamento na Europa.

Muitas baixas

O resultado do combate também foi a morte de mais da metade do exército enviado (tanto de brasileiros como de paraguaios), por isso o número de homens para guerrear começava a ficar escasso. "Curioso notar que grande parte das mortes não ocorria por ferimentos de guerra, mas porque estes homens lutaram em uma região pantanosa. Alguns eram picados por cobras, muitos morreram de cólera ou por falta de comida", afirma Doratioto.

O Paraguai poderia ter vencido, não fosse um problema em um dos sete navios da frota e que atrasou o ataque: Lopez queria pegar o exército brasileiro de surpresa, durante a madrugada, mas, quando conseguiu arrumar o navio que havia estragado, os brasileiros já haviam despertado e os navios da Marinha do Brasil estavam com as caldeiras em aquecimento: quando avistaram os paraguaios, reagiram de imediato.

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