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Raquel com seus pais, o casal Wellington Vera e Elaine Fancher | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Raquel com seus pais, o casal Wellington Vera e Elaine Fancher| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Espetáculo ajuda a recontar histórias

A vida da jovem solista Dieine Thaise de Souza, 18 anos, também mudou com participação no coral do Palácio Avenida.

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Conhecimento Neste ano, o Natal de Raquel Fancher Vera, 11 anos, terá dois ingredientes diferentes: um pai e uma mãe. A vida dela começou a mudar como um passe de mágica após participar do Coral do HSBC, apresentado todos os anos no Palácio Avenida, na Boca Maldita. Uma série de acasos do destino fez com que a garota pudesse enfim ter uma família após anos de abandono. Em 2007, ela participava pela primeira vez da apresentação. O casal Wellington Vera, 30 anos, e Elaine Fancher, 29 anos, assistia ao evento e decidiu conhecer como funcionava a função de anjo (responsáveis por auxiliar e cuidar das crianças nas janelas). Esse foi o início de uma história que tem uma pitada de conto de fadas. No mesmo dia em que o casal resolveu subir e conhecer os bastidores da apresentação, o anjo de Raquel teve alguns problemas e precisou de ajuda. Wellington se sensibilizou com o apuro do voluntário e decidiu auxiliar. Foi quando viu Raquel pela primeira vez. Na hora de ir embora, a garota, com 9 anos na época, abraçou as pernas do homem desconhecido e pediu para levá-la junto. Wellington, que nunca tinha pensado em adoção, emocionou-se.

Raquel morava em um abrigo desde os 7 anos e tinha uma história de abandono digna do famoso conto infantil "A gata borralheira". O casal se sensibilizou com a infância desprotegida e perguntou aos organizadores do evento como encontrar as crianças do coral. E mais uma vez o acaso teve sua participação na história da família Fancher Vera: entre as dezenas de abrigos participantes, o casal recebeu a indicação justamente daquele em que Raquel estava.

Depois de dois anos de voluntariado no abrigo, Wellington e Elaine acabaram por estabelecer um vínculo grande com Raquel, mas não haviam pensado em adoção. Durante dez anos, Elaine havia tentado engravidar, sem sucesso. Após um processo doloroso e desgastante, o casal tinha de­­­­sistido da ideia de ter filhos.

Adoção

Em novembro de 2009, Raquel teve finalmente seu processo de des­­­­tituição do poder familiar concluído e ficou disponível para adoção. A direção do abrigo indagou ao casal se eles não gostariam de se tornar a família da menina. A resposta foi "sim". "Já éra­­­­mos pais dela. É um amor sem tamanho e sem explicação", diz o pai.

Em uma semana o casal reuniu uma pilha de documentos e deu entrada no processo de adoção. "Não sei como conseguimos tanto dinheiro naquela semana. Todos os documentos e certidões eram caros e complicados de se obter, mas a vontade era tanta que nem pensávamos", conta Elaine. A sorte também sorriu mais uma vez e eles conseguiram ser encaixados em todos os cursos que são pré-requisitos para os futuros pais.

Como Raquel já estava com 10 anos, o processo foi mais rápido e não atrapalhou a fila do Cadastro Nacional de Adoção, que reúne, geralmente, pessoas interessadas em adotar bebês. "A adoção de uma criança mais velha foi nosso maior presente", explica a mãe.

Os trâmites burocráticos do processo de adoção demoraram seis meses e neste período o contato com a menina foi diminuído por orientação da vara de adoção. Raquel não poderia saber da possibilidade de ser adotada para não criar expectativas que poderiam ser frustadas caso houvesse algum problema. "Queríamos poupá-la. E, além disso, achávamos que só poderia adotar quem fosse rico. Nós temos uma condição de vida boa, mas acreditávamos que não seria suficiente. Percebemos que o que importa de verdade é o amor", afirma Elaine.

No dia 11 de junho, Raquel foi finalmente para a casa nova. Quando recebeu a notícia, não acreditou. Ao falar com a avó no telefone disse: "Agora você será minha avó para sempre." A mãe de Wellington, Ani Marli Vera, 67, conta emocionada que a frase martela até hoje na memória. De­­sacostumada com a individualidade, difícil de se cultuar nos abrigos, Raquel não confiava que teria um quarto, brinquedos e roupas só para ela.

Vida nova

Agora Raquel dedica parte de seu tempo a conhecer e estabelecer vínculos com a nova família. Gosta de viajar para a praia com os padrinhos "recém-adquiridos" e começa a ter as primeiras "implicâncias" com os primos. A adaptação com os pais foi tranquila. "No começo ficávamos com receio de falar sobre limites, mas percebemos que ela não é uma ‘coitada’ por ser adotada", conta Elaine. O pai diz que não imaginava uma mudança tão grande e tão boa na vida. "Já sentimos saudades dela até durante o dia." Os planos da família agora incluem dar um irmão para Raquel, que quer um menino menor. O casal continua como voluntário no abrigo e neste ano será anjo no­­­vamente no coral.

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