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Rose Mari  e Vanilde se tornaram “agricultoras” urbanas depois de entrar para a horta da Comunidade Vitória Régia | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Rose Mari e Vanilde se tornaram “agricultoras” urbanas depois de entrar para a horta da Comunidade Vitória Régia| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Problema

Expansão do projeto esbarra no receio de donos dos terrenos

As hortas comunitárias de Curitiba são parte do programa Nosso Quintal, organizado pela Secretaria Municipal de Abastecimento (Smab). Segundo a pasta, a produção anual de alimentos nesses espaços chega a 4,7 toneladas. Grande parte da produção é para consumo próprio das famílias, mas não há restrições quanto à venda.

Os espaços utilizados variam conforme a disponibilidade. As mudas podem ser plantadas em quintais, terrenos baldios, escolas, creches e terrenos sob linhas de transmissão de alta tensão – desde que haja concordância do proprietário, por meio de uma intermediação que é feita pela Secretaria de Abastecimento.

Hoje, a Eletrosul é um dos principais parceiros da prefeitura. Dos 1,3 mil lotes, pelo menos 600 estão embaixo de redes de energia, como nas comunidades Vitória Régia e Vila Verde, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Segundo o engenheiro agrônomo da Smab Mario Kunio Takashina, o número de hortas só não é maior devido à resistência de muitos proprietários particulares em ceder temporariamente os terrenos vazios para as famílias da região fazerem o cultivo. "O programa é limitado mais ao sul da cidade porque nas outras regiões não há mais tantas áreas de vazios urbanos. Normalmente, como os proprietários particulares não querem ceder a área, acabamos nos restringindo aos espaços públicos", afima Takashina.

Ao conseguir o espaço, a secretaria fornece técnicos que ensinam as famílias a preparar a terra e a cultivar os alimentos. Uma vez por mês, são doados sementes, mudas e insumos para as hortas. (RW)

Produção

4,7 toneladas de alimentos são produzidas anualmente nas hortas comunitárias de Curitiba, espalhadas principalmente nas regionais Bairro Novo e Pinheirinho. Os produtos, geralmente hortaliças, são usados na maior parte para consumo próprio – da família ou dos vizinhos. O programa municipal que estimula a formação das hortas, no entanto, não veta a venda dos alimentos, que em alguns casos garantem uma renda extra aos moradores.

Pero Vaz de Caminha, 512 anos atrás, já dizia animado que, no Brasil, "em se plantando tudo dá". Imagine então que sorriso despontaria no rosto do célebre português se, hoje, virasse uma certa esquina na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e desse de cara com alfaces, beterrabas, couves-flores, brócolis, abobrinhas, rúculas e até pimentas ocupando o mesmo espaço, rodeados pelo asfalto e linhas de alta tensão. Vegetarianos mais sedentos podem até achar que trata-se de miragem, mas o terreno em questão existe há 10 anos na Comunidade Vitória Régia e, pasmem, multiplica-se por outros tantos bairros da capital.

Conhecidas informalmente como hortas comunitárias, os pequenos espaços foram adotados ao longo dos anos por curitibanos com jeito e paciência para lidar com a terra e hoje já somam 1,3 mil lotes, concentrados principalmente ao sul de Curitiba, nas regionais Bairro Novo e Pinheirinho. A prefeitura fornece os insumos – de sementes e mudas a adubo – e ensina a teoria. Cabe, então, a cada família passar para a prática e cuidar da horta pela qual é responsável.

Somente na Comunidade Vitória Régia, no CIC, 140 famílias têm seu próprio pedacinho de terra com que se ocupar – um retângulo de 6,5 metros por 30 metros, para ser mais exato. As hortas comunitárias ficam dispostas em três terrenos, como um tapete que se estende ao longo das torres de energia da Eletrosul. Assim, o espaço, impossível de ser utilizado para receber construções, devido às linhas de alta tensão, ganha uma finalidade mais nobre – e saborosa.

Que o diga a aposentada Rose Mari Szkulny, responsável pela "horta nº 16". Sortuda, ela foi agraciada com um lote bem em frente à casa onde mora com o marido. Fosse dois quilômetros mais pra frente, não importava. Disposição ela tem de sobra para ir para lá e para cá munida da enxada e da sacola para colher as salsinhas. "A gente planta de tudo, para se distrair. É para consumo nosso, mas também sobra pra repartir com a turma", diz. A vizinhança agradece.

Integração

As doações e trocas de alimentos entre os moradores parecem ser mesmo um dos principais trunfos do projeto municipal, que tem mais de 25 anos. Até porque os pequenos agricultores são, na maioria, idosos, aposentados e desempregados, em busca de distração e ocupação. A presidente da Associação de Moradores da Comunidade Vitória Régia, Vanilde Tibúrcio de Souza – que também tem a própria horta – garante: há quem se empenhe tanto que consegue até transformar as hortaliças em renda. Mesmo que seja para pagar somente as contas de luz e água de todo mês.

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