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O "progresso" fica a 18 quilômetros

A indústria de erva-mate gerenciada por Reginaldo Matana é um dos poucos empreendimentos instalados em Coronel Domingos Soares -- Sudoeste do Paraná. Para chegar à cidadezinha, de 7.864 habitantes, é preciso percorrer 14 quilômetros de estrada de chão (vindos de Mangueirinha) ou 18 quilômetros nas mesmas condições (partindo de Palmas). "Eu já acostumei a tirar um caminhão do conserto e deixar outro", comenta Matana, cujo caminhão faz uma viagem diária até Palmas para descarregar erva-mate.

O prefeito Mauro Corrêa de Almeida (PDT) lamenta a situação. "Para nós, o asfalto resolveria tudo." Segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), de 2007, o município tem taxa de 0,5742, o que o coloca entre os oito piores do estado. O que empurra o indicador para baixo são emprego e renda. Nesse quesito, Coronel Domingos Soares cai para o índice 0,3306. "As empresas vêm, conhecem e quando veem a estrada desistem", revelaAlmeida.

Isso se repete com médicos. A prefeitura tem de pagar R$ 15 mil por profissional para manter o atendimento no município. "Eles não querem trabalhar aqui por causa da estrada", adianta o chefe de gabinete Oilson Pires. Para qualquer atendimento de média e alta complexidade, a população tem de se deslocar até cidades vizinhas.

O projeto de pavimentação da estrada que dá acesso a Palmas está engavetado. A obra custaria R$ 15 milhões, ou seja, R$ 1 mi-lhão a mais que o orçamento municipal anual do município. Resta cascalhar a estrada.

Maria Gizele da Silva, da sucursal de Ponta Grossa

Dois caminhos levam o motorista ao pequeno e pacato município de Mato Rico, no Centro-Sul do estado. Para quem segue por Pitanga, a aventura de 60 quilômetros de cascalho, pedras, buracos, barro e despenhadeiros dos dois lados da estrada leva duas horas. O motorista que faz a opção em viajar a Mato Rico, seguindo por Roncador, enfrenta 22 quilômetros de estrada com as mesmas condições de quem segue por Pitanga. Rodovia asfaltada é promessa que não convence mais ninguém.

"Cansei de escutar promessas, principalmente em período de campanha. Depois das eleições todos os candidatos se esquecem da estrada e das promessas", critica o agricultor Moises Anacleto Cardoso, 55 anos, e que há 40 mora às margens da estrada, via Pitanga. Ele lembra que por causa das péssimas condições da estrada perdeu cargas de soja e milho. "Os caminhões não conseguem subir o morro e a carga fica parada na estrada. Essa 'rodovia' só me trouxe prejuízos", diz.

O aposentado Frederico Moreira de Lima, 91, e que há 87 mora na estrada, que liga Ron­cador a Mato Rico, também é cético em relação às promessas. "Não acredito mais em asfalto", afirma. Lima fez parte de um grupo de trabalhadores que ajudou a medir a rodovia. "Há uns 30 anos, um grupo de engenheiros esteve medindo a pista, achei que sairia asfalto, mas eles sumiram e até hoje nada".

Campina do Simão

Odete Foz Betim, 52, proprietária de um pequeno ponto de comércio na beira da Rodovia Municipal João Cláudio Sil­vestre, já começou a perceber mudanças em Campina do Simão, na Região Central do estado, com a conclusão das obras da rodovia que liga o município à PR-364. "Percebi um movimento maior de veículos seguindo em direção à cidade, as vendas aumentaram e as mercadorias estão chegando no prazo. Acredito que o município vai crescer", diz animada.

Odete lembra que há um ano se recusava viajar com medo de ficar na estrada. "A gente saia, mas não sabia se conseguiria chegar ou se teria de voltar para casa com o carro guinchado. Esse asfalto foi uma bênção", comemora.

Segundo o secretário municipal de Administração e Plane­jamento, Heber Luiz Scarpim, a conclusão dos 25 quilômetros ligando Campina do Simão à PR-364, rodovia de acesso ao município de Goioxim e à BR -277, trará desenvolvimento à cidade. "Essa pavimentação já começou a mudar as nossas vidas. O município recebeu algumas propostas de empresas interessadas em se instalar na cidade". Scarpim acredita que a prefeitura fará economia anual de R$ 100 mil ao deixar de custear a manutenção na antiga estrada sem pavimentação e consertos na frota de veículos.

Diamante do Sul

Até o ano passado, moradores de Diamante do Sul, no Centro-Sul, sofriam com a dificuldade de acesso que isolava o município. A pavimentação dos 13 quilômetros da PR-670, que liga o perímetro urbano à BR-277, mudou a vida da população. Carros quebrados, atolados e viagens interrompidas pela falta de acesso passaram a ser assuntos do passado. O asfalto trouxe um novo alento aos moradores, que no início do ano fizeram a "Caminhada da Fé" para agradecer a Deus pela obra.

Nos últimos 16 anos, o motorista de ambulância Acir Pereira de Morais fez centenas de viagens transportando doentes para Cascavel, Guaraniaçu e outras cidades. Ele lembra das dificuldades nos dias de chuva para chegar até o hospital mais próximo. "Já tive que dar uma de parteiro", conta. Em quatro das viagens que fez até uma maternidade de Guaraniaçu, as pacientes entraram em trabalho de parto dentro da ambulância e os bebês nasceram no interior do veículo. "Uma das crianças nasceu com o cordão umbilical no pescoço e morreu asfixiada", relata.

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