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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

É pouco. Números impactantes foram apresentados pela presidente Dilma Rousseff à Organização das Nações Unidas (ONU) no domingo (27), mas a promessa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, tendo 2005 como ano-base, não representa uma mudança no modelo de consumo de recursos naturais no país. Um novo acordo de medidas para reduzir os impactos do aquecimento global deve ser assinado pelas nações em Paris, onde acontece no final de novembro a COP 21, 21.ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

A proposta brasileira chegou a ser considerada um avanço, mas a verdade é que o plano é relativamente fácil de ser cumprido. Ou seja, não exige muitos esforços reais. Para Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, o Brasil perdeu uma grande oportunidade de agir efetivamente para mudar os rumos da história. “Com a proposta que fez, o Brasil não se constrange, mas também não avança”, comenta.

Ao contrário da China, em que a queima de carvão é a principal fonte de emissões de gases, no Brasil o vilão sempre foi o desmatamento. E, como o ritmo de destruição de florestas caiu drasticamente no Brasil na última década, o país já está numa posição relativamente confortável. Os dados mais recentes – de 2013 – indicam que as emissões foram de 1,57 bilhão de tonelada de dióxido de carbono equivalente (CO²). Em 2005, ano de comparação, o lançamento foi de 2,3 bilhões.

Assim, sem precisar novos esforços relevantes, o Brasil já reduziu em 33% as suas emissões. Faltaria pouco para alcançar a meta. É preciso reconhecer, contudo, que foi o país que mais contribuiu com redução de emissões no mundo nos últimos anos.

Apesar de listar entre as metas algumas ações na área de uso de energias renováveis, o Brasil já tem uma das mais limpas matrizes energéticas.

Só a Amazônia?

A proposta brasileira de se comprometer apenas com a redução de desmatamento na Amazônia foi duramente criticada. Outros biomas – como a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga –, tão ou mais ameaçados, não foram considerados. Como ainda não foram explicadas quais medidas serão tomadas imediatamente, para alguns ambientalistas, a sensação é de que o problema foi apenas empurrado para frente. “O mais importante é ela [Dilma Rousseff] dizer o que vai fazer ainda dentro do mandato dela”, diz André Ferretti, gerente de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e um dos principais especialistas em mudanças climáticas no Brasil.

Pesquisadores ligados ao estudo das mudanças climáticas agora aguardam o detalhamento da proposta anunciada pelo Brasil. É importante saber, por exemplo, se o porcentual prometido de redução de emissões de gases de efeito estufa será calculado a partir de dados brutos ou líquidos. O ideal seria considerar o valor total de quanto gás o país lançou na atmosfera porque o uso de números ponderados (líquidos) desconta, por exemplo, o desmatamento evitado a partir da criação de parques e outras unidades de conservação. Se o Brasil usar os números líquidos, o país pode bater a meta proposta apenas criando unidades de conservação. (KB)

Proposta mais ambiciosa poderia acelerar a economia

Ao contrário do que muita gente pensa, investir em projetos menos poluentes pode impulsionar a economia brasileira. A ideia de que a preocupação ambiental representa apenas mais gastos foi questionada por um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O levantamento indicou que o Brasil pode crescer mais até 2030 se acelerar ações para reduzir emissões de carbono. O incremento no Produto Interno Bruto (PIB) poderia ser de até R$ 609 bilhões. Sim, alguns produtos teriam elevação de preço, mas o balanço na economia, com a geração de empregos, seria amplamente positivo.

O estudo foi financiado por instituições internacionais em parceria com o Santander e apresentado pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas em setembro. Além de melhores resultados ambientais e mais segurança para a atuação das empresas, com garantias de matéria-prima, o aumento no investimento para redução de gases de efeito estufa melhorariam taxas de emprego e de desigualdade social.

Para Linda Murasawa, superintendente-executiva de Desenvolvimento Sustentável do Santander Brasil, é uma necessidade criar oportunidades de negócios com o foco no cumprimento da meta. A área de desenvolvimento de energias renováveis, por exemplo, tem muito para crescer. Ela destaca que o fato de o Brasil ter altíssima incidência solar e muita força nos ventos ainda não foi aproveitada. Também a área de tratamento de resíduos é um mercado com potencial para ser explorado.

A superintendente não acredita que as metas são tímidas porque avalia que as dificuldades operacionais são muitas. Conter o desmatamento em áreas de proporções continentais, como a Amazônia, é complicado. E o impacto ambiental precisa cair enquanto o Brasil deve crescer.

Promessas

Confira o que Brasil se comprometeu a fazer:

Meta

Entre 2005 e 2025, reduzir emissões de gases causadores do efeito estufa em 37%. Até 2030, chegar a 43%.

Ampliar para 66% a participação da fonte hídrica na geração de eletricidade.

Ampliar para 23% a participação de fontes renováveis (eólica, solar e biomassa) na geração de energia elétrica.

Garantir 45% de fontes renováveis na matriz energética.

Acabar com o desmatamento ilegal.

Restaurar 12 milhões de hectares de florestas.

Recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas.


Integrar 5 milhões de hectares de lavoura-pecuária-florestas.

Aumentar em cerca de 10% a eficiência elétrica.

Aumentar para 16% a participação de etanol carburante e das demais biomassas derivadas da cana-de-açúcar no total da matriz energética.

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