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O monitor ambiental Vilmar Poleza na Gruta do Bacaetava, em Colombo: visitas guiadas | Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
O monitor ambiental Vilmar Poleza na Gruta do Bacaetava, em Colombo: visitas guiadas| Foto: Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Destruição autorizada

As cavernas brasileiras voltaram a ser ameaçadas no fim do ano passado depois que o governo federal publicou um decreto autorizando a destruição dessas formações, desde que obedecidos alguns critérios. Assinado em 7 de novembro, ele ainda não foi regulamentado.

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  • O Rio Bacaetava passa pela caverna:

Mais de um século de exploração pela atividade econômica e apenas duas décadas de proteção fizeram com que grande parte das cavernas da região metropolitana de Curitiba fosse total ou parcialmente destruída. A bióloga Gisele Sessegolo, que faz parte da diretoria do Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná – Açungui, diz que no estado existem cerca de 300 cavernas, sendo que as mais importantes estão concentradas principalmente na área Norte da região metropolitana: Rio Branco do Sul, Itaperuçu, Colombo, Campo Magro, Almirante Tamandaré, Campo Largo, Cerro Azul, Adrianópolis e Doutor Ulysses.

Somente na Constituição de 1988 essas formações passaram a ser consideradas bens da União, ou seja, deixaram de pertencer à iniciativa privada e passaram a ser protegidas. Mas até então, muitas cavernas tinham sido destruídas, principalmente em Colombo, Rio Branco do Sul e Almirante Tamandaré, conta Gisele. Ela lembra que as mineradoras costumavam iniciar a exploração de uma área justamente pelas grutas porque elas representavam uma facilidade por ser uma abertura já existente na rocha.

Além da atividade econômica, a ação do homem também colabora para a degradação das cavernas. Quando não há controle da visitação, não são raros os casos em que são feitas pichações ou que as pessoas decidem levar uma "lembrança" do local, destruindo parte da formação. Por isso, hoje é possível considerar que estão realmente protegidas somente aquelas que estão dentro de unidades de conservação: a de Bacaetava, que faz parte do Parque Municipal Gruta do Bacaetava, em Colombo; a Gruta da Lancinha, em Rio Branco do Sul, transformada em monumento natural em 2006; as Grutas dos Jesuítas e da Fada, que estão dentro do Parque Estadual de Campinhos, criado na década de 1960 em Cerro Azul; e a Gruta do Itaperuçu, no município de Itaperuçu, que é conservada pela iniciativa privada.

Aniversário

No dia 13 deste mês a rotina no Parque Municipal Gruta do Bacaetava foi alterada para a comemoração dos nove anos de criação da unidade. O monitor ambiental Vilmar Poleza estava lá e, com orgulho, contava que plantou muitas árvores no parque, já que ele trabalha na unidade desde o início. Mas a ligação com a caverna é muito mais antiga. "Minha família veio morar nessa região quando eu tinha seis meses de idade."

Poleza foi o guia no passeio da reportagem pela gruta. São duas galerias, sendo que a visitação é permitida somente na inferior, que tem 200 metros de extensão. O percurso pode ser feito rapidamente, mas as imagens do local ficam na memória dos visitantes. A capacidade do parque é para 240 visitantes por dia no inverno e 260 no verão. Hoje, a unidade faz parte do Circuito Italiano de Turismo Rural de Colombo.

Por dentro da caverna passa o Rio Bacaetava, palavra que em tupi-guarani significa "casa de pedra furada". Gisele conta que ao longo desse rio existia um sistema espeleológico, uma série de 14 cavernas. Treze foram destruídas por mineradoras que atuam na região. Uma delas era a Gruta Escura. Ainda é possível ver parte da abertura da caverna na rocha que está sendo explorada pela atividade mineradora.

Diversidade

Gisele e a geóloga Flávia de Lima, que também faz parte da diretoria do Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná – Açungui, não pensam duas vezes na hora de apontar a importância da manutenção das cavernas. Junto com o espeleólogo Luís Fernando Silva da Rocha, elas lançaram em 2006 o livro Conhecendo Cavernas – Região Metropolitana de Curitiba.

As grutas são importantes como abrigo de animais, principalmente invertebrados. Gisele lembra que existem espécies que hoje vivem exclusivamente nesses ambientes e que se "especializaram" na ausência de luz. "São cegas e albinas", explica a bióloga, e se o local em elas que vivem é destruído, a espécie tende a desaparecer. A caverna também funciona como registro geológico, que mostra como a Terra vem evoluindo. "É um ambiente para estudos", aponta Flávia, inclusive da evolução do clima.

Além disso, as grutas costumam ter forte vínculo com a religiosidade. Em muitas delas foram colocadas imagens de santos e os fiéis faziam peregrinações. Flávia lembra de um caso em que nem a presença de uma santa barrou a ação de uma empresa. Foi em Almirante Tamandaré, onde existia a Gruta dos Macacos, que foi dinamitada. Mas antes disso a mineradora retirou a imagem do local e construiu uma "grutinha" do lado de fora.

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Serviço

A Gruta do Bacaetava fica na Rodovia da Uva, a dez quilômetros de Colombo. Diariamente das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 16h30.

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