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Logo que voltou a viver aqui, em 1993, depois de muitos anos em Nova York, o crítico literário Wilson Martins explicou com uma comparação o Brasil que via nas ruas e no noticiário: "o brasileiro pulou do carro de boi direto para o automóvel". Demos um salto tecnológico mais rápido que a educação que adquirimos e isso explicaria, segundo ele, o país moderno e caótico em que o Brasil se transformara.

Mais ou menos na mesma época, entrevistei um italiano que dirigia a fábrica de uma multinacional, em Curitiba. Ele me disse que saberia que o Brasil tinha se tornado um país desenvolvido no dia em que os operários voltassem para casa depois do trabalho levando um jornal embaixo do braço. Segundo ele, na Itália era comum ver uma banca de jornais na vizinhança de fábricas porque os trabalhadores, ao saírem do trabalho, compravam um exemplar para ler em casa. Na opinião daquele executivo, a informação igualava as pessoas e as habilitava a tomar decisões.

Tudo indica que o italiano nunca vai dizer que o Brasil é um país desenvolvido a não ser que revise o critério. Os jornais impressos vão escasseando sem que tenham se tornado parte da vida da maioria dos brasileiros. As tiragens dos jornais jamais foram proporcionais ao tamanho da nossa população, comprovando a impressão do italiano de que muitos brasileiros atravessavam a vida sem serem bem informados.

Agora, todos, inclusive os mais humildes, estão adotando o computador, mesmo aqueles que nunca se tornaram leitores. Wilson Martins diria que é mais uma área em que descemos de cima do carro de boi para sentar atrás do volante de um automóvel. E sem passar pela autoescola, eu acrescentaria.

Um jornal foi fechado esta semana. O Jornal da Tarde circulava na cidade mais rica do país, São Paulo. Sem nem entrar na importância particular deste jornal, é uma notícia triste para todo mundo. Os jornais impressos estão em crise nos países desenvolvidos, ameaçados de extinção. As pessoas estão perdendo o hábito de dedicar a atenção exigida por uma mídia em papel.

Sim, as pessoas ainda leem notícias, mas cada vez mais isso se dá num novo contexto, digital, em que se pula de um texto para outro rapidamente, de um site para outro. Há muito mais informação na internet que em uma edição de jornal. Mas isso não garante que quem se informa só pela internet saiba mais ou analise melhor os fatos. A tentação de pular de um assunto ao outro é muito grande e este "dinamismo" torna superficial o contato com a informação.

Outro dia li em um livro (O Inverno da Nossa Desconexão, ed. Paz e Terra) uma comparação que pode soar grosseira, mas que me parece muito precisa. Uma mãe que vivia na Austrália, ao comentar o hábito dos adolescentes de fazer a lição de casa com a ajuda da internet, disse o seguinte: "é como usar um vibrador para fazer creme chantili – não dá o resultado esperado e desperta outros pensamentos que tiram a atenção do trabalho". A mesma frase maliciosa pode ser aplicada à tentativa de se informar usando a internet.

A internet exige mais disciplina e método que o jornal impresso. Ela é tão incrivelmente variada que o leitor corre o risco de gastar horas e cansar seu cérebro pulando de link em link e, ao fim da jornada, ainda não ter um conjunto consistente de informação.

Não sabemos ainda onde vai dar tudo isso, se as novas gerações usarão o vibrador (opa! Perdão, quis dizer a internet) para tudo ou se a fadiga provocada pelos excessos vai nos fazer revalorizar a leitura de periódicos ou de livros. Por enquanto, lamentamos as mortes dos que vão ficando pelo caminho.

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