O comportamento atípico de Rodrigo, 13 anos, fez com que a mãe, a fisioterapeuta Cláudia (nomes fictícios), o levasse ao médico. Aos 4 anos o menino era agitado, tinha medo de usar o banheiro, não gostava de assistir tevê, tinha manias estranhas e não interagia ou participava das atividades na escola. Depois da consulta com um neuropediatra, Rodrigo recebeu o diagnóstico de hiperatividade. Foi encaminhado para uma psicóloga que, por sua vez, indicou um psiquiatra. Apesar do comportamento da criança, o psiquiatra disse que não havia nada de errado e disse para continuar com o acompanhamento psicológico, apenas para ajudar a mãe a lidar com o filho.
Dois anos se passaram e Rodrigo não apresentava nenhuma melhora. Repetiu o Jardim II e novas manias surgiram. A psicóloga suspeitou que ele tivesse Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e novamente a família foi procurar um psiquiatra. "Mas ele só aumentava a dose dos remédios a cada consulta e não parecia ter certeza do que dizia", conta Cláudia. A falta de melhora no quadro do filho e a insegurança dos médicos a levou a parar com o acompanhamento psicológico e os medicamentos também foram cortados. "Eu me sentia muito mal em dar remédios para meu filho tão pequeno sem ter um especialista que me explicasse com convicção o que ele tinha e para quê servia aquela medicação", conta.
Após três anos sem tratamento, Rodrigo passou a requerer ainda mais atenção. "Ele começou a ter medo de ser contaminado por bactérias e, além disso, passou a fazer coisas como olhar para trás dos dois lados para ver se não havia ninguém para atacá-lo", diz.
Depois de muita procura, Cláudia disse que finalmente encontrou um médico em que confia. "Ele explica perfeitamente tudo o que estamos passando. Agora sinto que realmente estou ajudando meu filho", conta. Além da hiperatividade, descobriram que Rodrigo tem TOC e síndrome de Asperger (que pertence ao espectro autista). Após seis meses de tratamento, a mãe diz que o filho está mais interessado e menos ansioso. "Antes ele era tido como preguiçoso ou dissimulado, agora todos colaboram para que ele evolua. Minha forma de lidar com ele também mudou e estamos felizes porque vemos resultados. E isso é só o início do tratamento", afirma Cláudia.
Paciência
O sucesso no diagnóstico de um transtorno mental pode depender da experiência de cada profissional, das abordagens feitas e do tempo que é passado com o paciente. Sobre a dificuldade em se encontrar um consenso entre os especialistas, o psiquiatra Marcelo Luigi Martins afirma que é preciso calma e paciência em primeiro lugar. "As famílias devem buscar orientação em clínicas estruturadas. Tudo é evolutivo e é preciso ter cautela." O neuropediatra Clay Brites ressalta a importância dos pais serem persistentes na procura pelo melhor tratamento para os filhos e considerarem a necessidade que eles podem ter de medicamentos específicos. "Um distúrbio deve ser enfrentado precocemente. Deve ficar claro que o que é fato e provado cientificamente não deve ser ignorado, para o bem dos próprios pacientes", afirma. (AC)
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