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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Depois de inverter a tendência e registrar queda no ano anterior, o Paraná retoma a posição de líder em derrubada de Mata Atlântica. O aumento foi expressivo: fotos de satélite mostraram que a área desmatada mais do que dobrou em 2014-2015 em comparação com 2013-2014. E, mais uma vez, cidades da região centro-sul, que guardam os principais remanescentes de araucária, estão na lista das que mais registraram desflorestamento. No acumulado dos últimos 30 anos, o Paraná foi o estado que mais suprimiu Mata Atlântica, sendo responsável por um quarto de tudo o que foi derrubado deste tipo de formação florestal no Brasil.

Em números absolutos, Minas Gerais teve mais perdas no período 2014-2015, com 7.702 hectares. Já no Paraná desapareceram 1.988 hectares de florestas contra 921 hectares no período anterior – representando alta de 116%. Cada hectare equivale a um campo de futebol. Os dados são do Atlas de Remanescentes, divulgado nesta quarta-feira (25) pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O levantamento considera apenas derrubadas maiores que 3 hectares – assim, não enxerga o chamado desmate seletivo, em que somente as espécies mais rentáveis são cortadas, resultando no empobrecimento da biodiversidade da área .

Para a coordenadora do estudo, Marcia Hirota, a retomada do desmate no Paraná é “preocupante”. “A gente achou que já estivesse estabilizado, mas voltou a crescer. Assim, reacende a luz de alerta”, comenta. O estado retrocedeu a índices semelhantes ao que havia registrado em 2012 e 2013. Ela destaca que o Paraná conseguiu frear a onda de desmatamento registrada em décadas passadas, que chegava a ordem de 30 mil hectares por ano, mas está ainda longe do patamar de outros sete estados, que tiveram desmate zero. Foi esse volume enorme de derrubada florestal nas duas décadas anteriores que colocou o Paraná como recordista nacional de supressão de Mata Atlântica nos últimos 30 anos. No período, Santa Catarina, que tem números semelhantes dessa formação florestal, teve quase metade do desmatamento do Paraná.

Raio-x do Paraná

Segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, o município paranaense que mais cortou florestas nativas no último ano, com diminuição de 189 hectares, foi Prudentópolis, na região dos Campos gerais. Em seguida estão Lapa (163 hectares), Pinhão (123 hectares) e Bituruna (113 hectares).

No estado, restam apenas 3% das florestas que abrigam o pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia), que é uma espécie ameaçada de extinção.

O Paraná também foi um dos estados com maior desmatamento de restinga, com o corte de 12 haectares. Por outro lado, o estado é um dos que possuem maior extensão de mangue - 33.403 hectares, que é a vegetação menos suprimida do país: apenas 4 hectares foram desmatados no Brasil.

Apesar dos números preocupantes, o Atlas revela que alguns municípios do estado conservam boa parte de sua mata nativa, como Guaraqueçaba (80,2%) e Guaratuba (80,2%). Também estão na lista Antonia, Pontal do Paraná, Matinhos, Céu Azul, Morretes, Serranópolis do Iguaçu, Paranaguá e Matelândia, a maioria deles no litoral do estado.

Marcia alerta também que, novamente, são registradas grandes áreas derrubadas em cidades do Centro-Sul, como Prudentópolis, General Carneiro e Bituruna. “São sempre nos mesmos municípios e justamente onde tem área de floresta com araucária”, reforça. Do total desmatado no último período, 89% foi em áreas cobertas pelo pinheiro que é símbolo do estado. Ela conta que as informações serão encaminhadas para o Ministério Público.

Para Clovis Borges, diretor-executivo da SPVS, os números do atlas que mostram aumento na derrubada de Mata Atlântica são reflexos da política de assalto sobre as áreas naturais que vem sendo praticada no Paraná. Para ele, a conservação ambiental não entrou na agenda de prioridades do estado e vários interesses econômicos estão agindo para acabar com o pouco que resta. “Nos dias de hoje, 1,9 mil hectares perdidos em um anos, nos dias de hoje, é um descalabro”, dispara.

Novo secretário lamenta números e afirma que ações para frear desmate começaram

Recém-empossado como secretário estadual de Meio Ambiente, Paulo Mexia não disfarçou o desconforto com os dados que apontam aumento na derrubada de Mata Atlântica no Paraná – mas também relatou que já imaginava que o estado estava registrando crescimento da retirada de florestas nativas. Ele ocupava o cargo de diretor-geral da secretaria e assumiu o posto de secretário estadual depois que o titular Ricardo Soavinski foi nomeado para um cargo federal na gestão de Michel Temer.

“É um número desconfortável, mas a gente já sabia que não seriam bons”, disse Mexia. Ele acredita que a crise econômica, principalmente, teria levado a um novo ataque aos remanescentes florestais. O novo secretário afirma que pretende tomar uma série de medidas para frear o desmatamento e que uma das ações já estaria em curso. Equipes de fiscalização teriam começado, nos últimos dez dias, a verificar, em campo, se as autorizações de corte foram cumpridas nos termos estabelecidos (ou se mais vegetação foi suprimida). “Não é por amostragem. Será um trabalho uma a uma”, garante. Os números sobre a quantidade de autorizações que serão verificadas ou o tamanho da equipe envolvida no trabalho não foram informados.

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