Apenas 32% do público-alvo do Paraná foi imunizado com a primeira dose da vacina da dengue– o que representa cerca de 190 mil pessoas. O dado faz parte do balanço prévio da campanha de imunização contra a doença no estado. A expectativa inicial da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) era vacinar 80% do público-alvo (500 mil pessoas) em 30 cidades.
A vacinação deveria ser encerrada em 4 de setembro, segundo a programação inicial, mas a baixa procura até então (apenas 16%) fez com que a campanha fosse prorrogada. A ação terminou no último sábado (24), depois de um mês e meio, e envolta em muita resistência.
Vacina inédita
A vacina que está sendo aplicada no Paraná é a única aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil. O estado é o primeiro a adotar a medida no controle à dengue.
Estudos epidemiológicos divulgados pela Sesa apontam que, em cinco anos, a vacinação em massa pode reduzir em até 74% o número de casos de dengue nas cidades contempladas. Estima-se ainda que a medida diminua em 80% o número de hospitalizações e em 93% o número de casos graves da doença.
“Nós tivemos algumas dificuldades. A primeira questão é do pioneirismo. As pessoas têm medo do novo. Em segundo lugar, nós trabalhamos com uma faixa etária que não costuma buscar com rotina unidades de saúde. Em terceiro, a baixa circulação viral no inverno, o que não deixa as pessoas alarmadas para uma questão importante. E, em quarto, o período de férias das universidades, que ficaram de fora do atendimento por duas semanas”, afirma Julia Cordelini, diretora do Centro Epidemiológico da Sesa.
Segundo a Sesa, apenas três cidades (Munhoz de Mello, Boa Vista da Aparecida e São Jorge do Ivaí) bateram a meta inicial. Mas resultados foram positivos em municípios-chave, como Paranaguá, onde a maior epidemia da história, entre 2015 e 2016, matou 27 pessoas. De acordo com o balanço preliminar, 50 mil pessoas foram imunizadas na cidade litorânea.
Entre o ano passado e o inverno desse ano, aproximadamente 56 mil casos e 61 mortes foram registradas por dengue em todo o Paraná. Os 30 municípios da campanha, juntos, concentraram 80% das ocorrências, além de 93% dos casos graves e 82% das mortes. Em 28 municípios, a faixa etária dos vacinados foi entre 15 e 27 anos, e em Paranaguá e Assaí, cidades em que a dengue teve incidência superior a 8 mil casos por 100 mil habitantes, a faixa contemplada foi maior, de 9 a 44 anos.
Próximos passos
As regionais do Paraná ainda não contabilizaram todos os resultados, mas vão encaminhar pareceres mais precisos para a Sesa até sexta-feira (30). “Para reverter esse quadro de resistência, nós optamos desde cedo por expandir o atendimento e fazê-lo extramuro das unidades de saúde. Tivemos que ampliar o atendimento com equipes volantes, que foram até universidades e fábricas para conversar com as pessoas. Vamos seguir com essa estratégia”, explica Cordelini.
“Apesar dos números, temos que contabilizar positivamente as 190 mil pessoas imunizadas. Esse é um dado importantíssimo para uma medida preventiva do estado”, completa.
As doses restantes não serão encaminhadas para outras cidades do estado, serão acondicionadas pela Sesa e vão ser utilizadas nas próximas duas fases da campanha - em fevereiro e agosto de 2017. A Secretaria ainda não definiu como será o atendimento a quem procurar os postos de saúde no ano que vem para tomar a primeira dose. As vacinas têm validade até outubro de 2017 e custaram R$ 50 milhões aos cofres do estado.
Segundo a Sesa, a primeira dose garante eficácia de 70% no controle viral, mas as outras duas são necessárias para a efetividade do programa. As próximas campanhas serão com o mesmo grupo e nas mesmas localidades.
“A vacinação é uma medida estratégica que ataca as cidades que mais registraram casos. Mas as medidas de prevenção ainda são fundamentais e devem ser reforçadas no verão. A dengue mata, mas também tem o zika vírus, que causa sequelas, e o chikungunya, que causa lesões muito graves. Tem casos de lesões por chikungunya que deixam a pessoa nove meses sem andar. Portanto, o combate aos criadouros segue sendo uma medida necessária. Não podemos baixar a guarda”, conclui.
De acordo com a Sesa, o Paraná vem atuando em frentes diversificadas para a evitar o zika, principalmente por meio laboratorial. Hoje, o exame disponível para detectar zika só revela se o paciente está ou não com a infecção.
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