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Mapa da distribuição dos povos indígenas no Paraná entre 1540 e 1640, elaborado por Cláudia Parellada e José Luiz de Carvalho |
Mapa da distribuição dos povos indígenas no Paraná entre 1540 e 1640, elaborado por Cláudia Parellada e José Luiz de Carvalho| Foto:

Memória

Índios deixaram rastros históricos em conchas e pinturas nas cavernas

Ainda hoje há registros históricos da presença dos índios antes da colonização europeia no Paraná. Um dos mais famosos são os sambaquis, encontrados principalmente no Litoral, que corresponde a aterros elaborados por diferentes populações pré-coloniais, principalmente de conchas de moluscos e, em menor escala, de ossos de animais.

Alguns foram planejados e construídos como grandes centros cerimoniais para a realização de sepultamentos. As grandes montanhas de sambaquis (algumas com mais de 30 metros de altura) revelam inúmeros objetos e rituais das comunidades. Estima-se que existam 340 sambaquis pelo Paraná.

Pinturas

Muitos povos primitivos que ocuparam o Paraná deixaram nas paredes das cavernas memórias de milhares de anos atrás. As pinturas, geralmente vermelhas ou pretas, são figuras de animais associadas a seres geométricos, seres humanos e plantas. A maior parte das pinturas rupestres no Paraná está concentrada em abrigos e cavernas na região dos Campos Gerais.

No fim do mês passado, a arqueóloga do Museu Paranaense Cláudia Parellada descobriu em Piraí do Sul um novo conjunto de arte rupestre. A data estimada das pinturas é de 4 mil anos e retrata uma cena de dança ritual. "É uma descoberta muito importante para o Brasil. Esta área está cadastrada há 22 anos, mas não havia recursos tecnológicos para fazermos a exploração", diz.

A cena apresenta cerca de 120 figuras, sendo que muitas parecem flutuar, entre elas figuras humanas, animais e seres fantásticos. Segundo a arqueóloga, é um trabalho sofisticado pelos detalhes e porque a maior parte do painel parece ter sido pintada ao mesmo tempo.

Preservação

Veja alguns patrimônios pré-coloniais tombados como patrimônio histórico no Paraná.

• "Sambaquis A e B do Guaraguaçu", município de Pontal do Paraná, tombado em 1982;

• "Sítio Arqueológico da Cidade Real de Guairá", localizado no município de Terra Roxa, tombado em 2007;

• Sítio arqueológico de Santo Inácio, no município de Santo Inácio, em processo final de tombamento;

• Sítio arqueológico de Loreto, no município de Itaguagé, em processo final de tombamento;

• Duas reduções jesuíticas espanholas localizadas nas margens do Rio Paranapanema, em processo final de tombamento.

  • Sambaquis são aterros feitos de conchas e moluscos

Um território tomado por aproximadamente 200 mil índios, a maioria pertencente aos ancestrais dos atuais povos Kaingang, Xokleng, Xetá e Guarani (na época chamados Carijós devido à plumária dos adornos que usavam). A história do que conhecemos hoje como Paraná remonta há mais de 10 mil anos. Antes da "descoberta" dos colonizadores europeus, a área era tomada por indígenas que foram pegos de surpresa com a chegada do homem branco.

Os primeiros povos a chegarem ao Paraná eram oriundos de terras andinas e amazônicas. Nesse período, conforme a arqueóloga do Museu Paranaense Cláudia Parellada, o clima era mais frio e seco, com a vegetação predominante de campos e cerrados. Esses povos conviveram com animais já extintos, como a preguiça gigante, o mastodonte e o tigre dente de sabre, fazendo grandes pontas de projéteis, caçando aves, pequenos mamíferos e roedores, além da pesca.

"Com o clima tornando-se cada vez mais quente e úmido, outros grupos caçadores e coletores migraram para o Paraná, ocupando em momentos diversos tanto o vale de grandes rios, como o Iguaçu, o Ivaí, o Tibagi e o Paraná, como topos de morros e montanhas e o litoral", afirma Cláudia.

Os primeiros ocupantes eram caçadores-coletores e nômades, mesmo aqueles que produziam seus alimentos. Estes, pela natureza das suas atividades, permaneciam nos lugares por período mais prolongado. Tal mobilidade explica a rápida dispersão do grupo pelo território, criando uma falsa impressão de que o ocupavam completamente. Segundo Cláudia, as variações climáticas explicam parte das rotas seguidas por alguns grupos para facilitar a busca por alimentos. Além disso, disputas de poder, mudanças por mortes e capturas também motivaram as constantes migrações indígenas.

Para caçar, os indígenas usavam armadilhas, arpões e flechas com pontas de osso, madeira e pedra, e preparavam os alimentos com auxílio de talhadores, raspadores e facas lascadas em rochas ou minerais. Testemunhos desse período foram encontrados em um dos sítios arqueológicos mais antigos do Paraná: Ouro Verde, situado no Sudoeste paranaense, no vale do Rio Iguaçu, e onde foram identificados vestígios de caçadores-coletores do grupo chamado Umbu, com mais de 9 mil anos.

Já os primeiros povos ceramistas e agricultores chegaram ao Paraná há 4 mil anos. "Eram os agricultores Itararé-Taquara que moravam em aldeias com 200 a 300 pessoas, divididas entre 4 e 6 casas comunitárias", conta a pesquisadora. Em áreas próximas plantavam roças de milho, amendoim, feijão e abóbora. Também coletavam mel, pinhão e alguns frutos.

Os indígenas paranaenses viram suas vidas mudarem com a chegada definitiva dos primeiros colonizadores espanhóis a partir de 1550. Os nativos deram adeus ao "sossego", muitos deles escravizados pelos europeus.

Índios ficaram no fogo cruzado entre portugueses e espanhóis

A rotina indígena no Para­ná começou a mudar com a chegada dos colonizadores europeus. Até 1549, o norte do litoral paranaense era ocupado por aldeias de tupiniquins, de língua Tupi. Na mesma época, até 1560, a baía de Paranaguá era habitada por Carijós, de língua Guarani. Nessa época, o Brasil estava dividido.

O Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Portugal e Espanha, colocava sob domínio espanhol a Região Oeste do território paranaense (onde hoje fica a fronteira com a Argentina e o Paraguai). Nessa área, denominada Província del Guairá, povoada por grupos indígenas das famílias linguísticas Tupi-Guarani e Jê, a Coroa espanhola fundou três cidades, a primeira em 1554, chamada Ontiveros.

Missões jesuíticas

A antropóloga Cláudia Parellada explica que a partir de 1610, numa tentativa de conquistar Guairá com o menor número de conflitos com os grupos indígenas Guarani e Jê, foram criadas 15 missões jesuíticas, que tiveram apoio da Espanha.

Paralelamente, os portugueses começavam a ocupar o litoral do Paraná, iniciando a fundação de pequenos arraiais. Ainda em meados de 1578, há relatos históricos que apontam a exploração de ouro na região, que seria o primeiro descoberto no país.

Com a descoberta do metal precioso, formaram-se Companhias de Índios das Minas para explorar a mão de obra de indígenas carijós, também levados como escravos para as localidades de São Paulo e Goiás. Nessa época, o Litoral era percorrido por indivíduos isoladamente ou por bandeiras predadoras de índios, sem que se fixassem na região.

Caça aos escravos

Os ataques dos bandeirantes portugueses vindos de São Paulo eram constantes na região espanhola do Paraná. O objetivo era afugentar os espanhóis da localidade e capturar indígenas para trabalhar em áreas agrícolas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Muitos índios foram mortos durante essas investidas dos europeus.

Esse processo de destruição durou até 1631, quando todas as missões foram destruídas ou simplesmente abandonadas. A cidade espanhola de Villa Rica foi sitiada por três meses pelos paulistas e arrasada em 1632. Ciudad Real del Guairá foi abandonada na mesma época, pois os habitantes temiam o ataque dos bandeirantes. Assim, a Região Oeste do Paraná tornou-se parte da Coroa portuguesa.

Somente em 1646 o lusitano Gabriel de Lara, motivado pela exploração de ouro na região onde hoje é Paranaguá, iniciou o povoamento português nessa região do estado, efetivando a mineração no Paraná.

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