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Não é a grama do vizinho que é mais verde; é seu cachorro que late mais alto e sua casa que faz mais barulho. E, seja com rusgas simples ou com a violência extrema do assassinato, os paulistanos acabam brigando seis vezes mais com o vizinho do que no temido trânsito da cidade. É o que aponta levantamento feito pela Polícia Militar: das 35 mil chamadas diárias ao 190, 12% tratam de conflitos de vizinhança, enquanto o trânsito corresponde a 2% das queixas.

Os conflitos entre vizinhos e as brigas familiares somam 80% do total de 27.727 atendimentos da PM e 80% das 8.730 ocorrências nas delegacias dos dez Centros de Integração Comunitária (CICs) de São Paulo, a maioria instalada em bairros simples da capital. Nos bairros nobres, onde a polícia também é chamada para acalmar "barraco chique", as pendências se transformam em arrastados processos na Justiça.

Na câmara de mediação do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), as brigas entre vizinhos são 45% dos atendimentos. E, de acordo com uma pesquisa realizada pela administradora de imóveis Lello com os mais de mil síndicos de seus condomínios, o cachorro do vizinho é responsável por 30% dos conflitos. As vagas na garagem respondem por 25% das queixas, seguidas dos vazamentos, com 12%, e das confusões com crianças e adolescentes (8%).

Cachorro

"No meu prédio, um morador tem um cachorro que pesa 20 quilos. A regra é carregar o cão até o jardim, mas o vizinho diz que não agüenta tanto peso. Aí o cachorro faz xixi no elevador, o vizinho limpa, mas não é a mesma coisa. Teremos uma assembléia para decidir o que fazer", diz o advogado Fernando Augusto Zito, 29 anos, síndico de um condomínio de alto padrão, com 334 apartamentos.

Como Zito trabalha com condomínios, acabou assumindo o posto de síndico do conjunto onde mora há menos de um ano. Está no cargo há três meses e, já no segundo dia, escapou de levar um soco no meio de uma briga na festa de um morador. Teve de chamar a polícia. "E quem brigou nem era morador do prédio", acrescenta.

Nas últimas semanas, o sumiço de uma bicicleta estremeceu a relação de Zito com o morador, que queria reaver o prejuízo com a administração do prédio. O caso foi parar na comunidade que os moradores mantêm no Orkut.

Para a família do aposentado Jair Muner, a briga por causa dos cães teve um final triste. O vizinho dos Muner implicava com o latido dos cachorros. Chamava a polícia durante a noite, reclamando de barulho. Ele envenenou o cocker Caco, que foi internado e sobreviveu. Duas semanas depois, colocou lingüiça com "chumbinho" na garagem dos Muner. A vítima foi o vira-lata Jorge, que morreu em poucos minutos. "Queríamos brigar na hora em que vimos o Jorge caído no chão. Meu pai, que encontrou os restos da comida envenenada, chamou a polícia. Em uma semana, o vizinho ficou com medo e se mudou", conta Aveline, filha de Jair. "Eu assisti à mudança dele de camarote, na porta de casa", comemora.

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