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Ponto crítico da BR-376, entre Curitiba e o Litoral, a Curva da Santa foi reformada pela concessionária que administra a rodovia: tentativa de aumentar a segurança no trecho | Valterci Santos/Arquivo/Gazeta do Povo
Ponto crítico da BR-376, entre Curitiba e o Litoral, a Curva da Santa foi reformada pela concessionária que administra a rodovia: tentativa de aumentar a segurança no trecho| Foto: Valterci Santos/Arquivo/Gazeta do Povo

Comportamento

Motorista é imprudente em estradas mais conservadas

O comportamento do motorista tem grande parcela de influência na ocorrência de acidentes. Por mais paradoxal que possa parecer, uma estrada esburacada pode ser mais segura que outra com a manutenção em dia. Um asfalto liso e trajetos em linha reta aumentam a confiança do motorista, que pode tomar atitudes imprudentes.

O professor Coca Ferraz, coordenador do Núcleo de Estudos em Segurança no Trânsito da Universidade de São Paulo (USP), cita a Teoria de Wilde: segundo a tese, qualquer mudança no ambiente do trânsito com objetivo de melhorar a segurança faz com que o usuário troque esse ganho por outros, de mobilidade e comodidade. "Ele dirige com mais velocidade e menor atenção", diz. O mesmo acontece em relação ao nível de segurança dos veículos. O fenômeno, chamado Efeito Peltzman, indica que a adoção de itens de segurança, como os cintos, não reduz o número de acidentes, por ampliar a imprudência dos motoristas.

Para o professor Djalma Martins Pereira, do departamento de transportes da UFPR, o que está errado é o comportamento do usuário. "Somente com campanhas educativas e fiscalização efetiva poderemos reverter este quadro", diz ele.

Atendimento

Suporte eficiente ao usuário pode reduzir índices de morte

Os serviços de apoio ao usuário prestado pelas concessionárias de pedágio podem ser apontados como um fator para a redução dos índices de mortalidade em acidentes rodoviários. "O socorro é quase imediato", afirma o presidente regional da ABCR, João Chiminazzo Neto. Como as concessionárias mantêm ambulâncias com equipes para o atendimento médico localizadas em pontos estratégicos, o deslocamento, em alguns casos, é mais rápido do que o de equipes do corpo de bombeiros ou Siate.

3.336 mortes

No ano passado ocorreram 126.691 acidentes em rodovias pedagiadas em todo o Brasil, que resultaram em 3.336 mortes. No Paraná, foram 477 mortes, equivalente a 14,3% dos óbitos em todo o país, em um total de 11.167 acidentes. O fluxo de veículos pelas estradas sob concessão no estado corresponde a 6% do tráfego total no Brasil.

Os índices de acidentes, mortos e feridos relacionados ao fluxo de veículos nas estradas pedagiadas do Paraná são superiores à média nacional. Embora a quantidade absoluta de acidentes e o número de mortos e feridos tenham crescido nos últimos cinco anos em todo o país, acompanhando o aumento do tráfego e da quilometragem de rodovias sob concessão, a violência nas estradas paranaenses supera a nacional. O índice de vítimas fatais no estado é mais do que o dobro da média em todo o Brasil em 2011.

No ano passado, as rodovias sob concessão no Brasil registraram um índice de mortos de 0,021 contra 0,051 no Paraná, valor que é 137% superior ao nacional. No caso de acidentes, o índice brasileiro é de 0,830 enquanto no Paraná, o valor foi de 1,212. Já em relação aos feridos, a marca nacional é de 0,430 e a paranaense é de 0,771.

Nos últimos cinco anos, a variação entre o registrado no estado e no país está se mantendo estável e o Paraná segue a tendência de queda dos índices nacionais: após um pico em 2009, os valores regrediram e estão inferiores aos de 2007. Se por um lado a redução nesses índices mostra um possível aumento da segurança nos trechos concedidos, por outro, a distorção entre o que ocorre no Brasil e no Paraná indica que as estradas do estado passam por problemas.

Duplicação

Sem poder fiscalizar e punir os motoristas imprudentes, que têm sua parcela de culpa na ocorrência de acidentes, as concessionárias devem se ater em promover mudanças na estrutura física. Para especialistas consultados pela Gazeta do Povo, apesar de as rodovias pedagiadas terem melhor conservação e sinalização, é preciso investir na duplicação dos trechos que estão com pista simples e reforçar ações educativas dirigidas aos motoristas.

Na opinião do engenheiro civil Valter Fanini, assessor de políticas publicas do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-PR), alguns aspectos ampliaram a segurança, como a construção de passarelas e a colocação de bloqueios nos canteiros centrais para evitar a travessia de pedestres, mas essas melhorias não se aplicam de modo geral. Para ele, o imbróglio envolvendo as reduções de tarifa e ajustes de contrato para protelar a realização de algumas obras prejudicou muito a condição das rodovias paranaenses. "Os investimentos feitos foram insuficientes para alterar o perfil de segurança rodoviário em todo o trecho", diz.

Esta falta de investimentos na ampliação da malha viária é apontada como uma das causas desse maior indicador de violência nas estradas do Paraná pela professora do departamento de transportes da Universidade Federal do Paraná Gilza Fernandes Blasi. "Os trechos concedidos em pista simples necessitam de urgente duplicação", diz. A professora aponta o aumento do consumo de álcool e drogas, falhas na fiscalização e deficiências nas ações de educação de trânsito como outras razões para o crescimento dos índices de mortos e feridos.

Contratos não preveem meta de redução de acidentes

Os contratos de concessão preveem, além da realização de obras, que as administradoras das rodovias cumpram uma série de indicadores de qualidade, que avaliam desde as condições das estradas até o atendimento prestado ao usuário. Nenhum contrato, no entanto, prevê metas de redução de acidentes como medida para a melhoria da segurança no trânsito.

Apesar disso, as empresas precisam comprovar que fazem programas de educação no trânsito e de redução de acidentes, sob pena de multa em caso de descumprimento, segundo o presidente regional da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), João Chiminazzo Neto. No Paraná, as concessionárias acordaram cumprir uma meta de desempenho. Foram estabelecidos níveis de redução de acidentes por trechos homogêneos de veículos, que consideram a mesma extensão e fluxo. "Esses dados são metas que as concessionárias assumem, mas não são instrumentos de publicidade, por isso não são divulgados", justifica.

Imprevisível

Os especialistas consultados pela reportagem dizem que a inclusão de uma meta de redução de acidentes nos contratos é até viável, embora seja preciso ponderar que o comportamento do motorista é um fator imprevisível e que influencia muito a ocorrência de acidentes. "Temos rodovias ie motoristas inadequados, uma mistura explosiva", aponta Valter Fanini, assessor de políticas publicas do CREA-PR. Fanini aponta que um sistema sofisticado de indicadores de qualidade implica em melhor fiscalização do cumprimento das metas. "É mais difícil gerenciar esse tipo de contrato. Precisaríamos de um estado muito mais bem preparado do que o que temos hoje", argumenta.

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