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Sexo precoce tem consequências negativas para os adolescentes
Sexo precoce tem consequências negativas para os adolescentes| Foto: Bigstock

Nos últimos quatro anos, a psicóloga e pesquisadora baiana Larissa Ferraz Reis, doutoranda em saúde coletiva pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), debruçou-se sobre um tema que, recentemente, entrou no radar da sociedade por sugestão da ministra Damares Alves: os riscos da iniciação sexual precoce.

A psicóloga investigou como o uso de substâncias químicas e o tipo de relacionamento dos pais com os filhos estão relacionados à iniciação sexual precoce e ao sexo inseguro entre os adolescentes. E que consequências isso traz à vida dos jovens.

O estudo baseia-se em questionários aplicados a 6285 alunos de 7° e 8° anos do ensino fundamental em 72 escolas públicas de seis cidades, por pesquisadores treinados, sem a presença de um professor na sala de aula. As perguntas eram sobre o uso de cigarro, maconha, inalantes, cocaína e crack, consumo excessivo de álcool (cinco ou mais doses em 2 horas) e também analisavam fatores associados ao uso dessas substâncias, como pais autoritários, negligentes ou extremamente permissivos e ambiente escolar, incluindo o bullying.

Constatações da pesquisa

No artigo científico publicado na edição de janeiro de 2020 do Journal of Adolescence - periódico internacional que aborda questões de desenvolvimento entre a puberdade e a fase adulta, a psicóloga apresenta conclusões inquietantes.

A iniciação sexual foi relatada por 13% dos mais de 6 mil estudantes que responderam aos questionários, o que significa que cerca de 800 crianças e adolescentes de 11 a 15 anos disseram que já tinham iniciado a vida sexual, em média aos 12 anos e 4 meses de idade.

A pesquisadora confirmou que os jovens brasileiros estão começando a vida sexual muito cedo, recém-saídos da infância. O Observatório Nacional da Família (ONF), unidade de pesquisa da Secretaria Nacional da Família, divulgou recentemente que, em média, os meninos brasileiros estão tendo a primeira experiência sexual aos 12 anos e 9 meses e as meninas, aos 13 anos e 7 meses.

Além disso, 5,3% dos participantes relataram a prática de sexo sem o uso de preservativo, especialmente os meninos mais velhos e aqueles que usaram alguma substância. Filhos de pais considerados permissivos e negligentes foram os que mais relataram atividade sexual e sexo inseguro em contrapartida aos adolescentes que relatam ter pais presentes ou até autoritários.

O estudo aponta que a paternidade negligente foi associada à iniciação sexual precoce e ao sexo inseguro, enquanto a paternidade permissiva foi associada apenas à atividade sexual precoce.

Uso de drogas, doenças, gravidez indesejada, aborto e violência nos relacionamentos

Larissa ainda está analisando os dados para finalizar o estudo, mas já conclui que jovens que se envolvem em atividades sexuais precoces têm maior probabilidade de ter vários parceiros. "Esse comportamento pode resultar em maior risco de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), gestações não planejadas e abortos", diz a introdução do artigo, assinado também por outras pesquisadoras da Unifesp.

A psicóloga afirma ainda que, como jovens com menos de 16 anos têm menos probabilidade de usar ou ter acesso à contracepção, eles correm um alto risco de DST e gravidez não intencional. Ela aponta que a iniciação sexual precoce é um importante fator de risco também para o uso posterior de drogas, violência por parceiro íntimo, depressão, ansiedade e transtornos alimentares.

Entre os praticantes de atividade sexual, 46,8% eram envolvidos em compulsão alimentar, enquanto no grupo não sexualmente ativo a prevalência foi de 14,2%. O uso de substâncias psicoativas também aparece nos questionários relacionados a sexo.

"As drogas estão sim associadas à iniciação precoce no sexo", disse a psicóloga em entrevista à Gazeta do Povo.

"Muitos jovens usam droga antes de fazer sexo. A droga tende a reduzir a inibição. Outro efeito é que o julgamento crítico fica comprometido por conta da droga e é mais difícil se proteger."

Sugestões para uma adolescência mais segura e saudável

No artigo, a psicóloga e pesquisadora Larissa Reis deixa um alerta às famílias. "Ao proporcionar um ambiente que promove o diálogo e a confiança, os pais têm mais conhecimento e maior controle sobre atividades sociais de seus filhos e, portanto, podem restringir as oportunidades de os adolescentes se envolverem em comportamento sexual de risco."

E acrescenta uma sugestão às escolas e aos governantes. "Programas de prevenção focados na iniciação sexual precoce e no uso de substâncias que levem em conta a família precisam ser incorporados ao contexto mais amplo da saúde escolar, currículos educacionais, inclusive para adolescentes mais jovens".

É a discussão que tem sido proposta nas últimas semanas, desde que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves sugeriu que a reflexão sobre o melhor momento para iniciar a vida sexual comece a ser inserida e apresentada como opção aos métodos contraceptivos nas aulas de educação sexual nas escolas e em campanhas públicas de saúde. A ministra tem como foco não só reduzir as altas taxas de gravidez na adolescência, mas também casos de depressão, automutilação e até de suicídio entre adolescentes que, segundo ela, estão relacionados ao sexo sem sentido.

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