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Policiais e moradores em frente a residência abordada no último fim de semana | Reprodução
Policiais e moradores em frente a residência abordada no último fim de semana| Foto: Reprodução
  • Confusão reuniu grande efetivo da PM

VIDA E CIDADANIA | 2:15

Segundo denúncias feitas por moradores do Bairro Alto, policiais militares teriam agido de forma truculenta durante uma abordagem. Os moradores acusam os PMs de agressão e racismo. Denúncia será investigada, segundo a corporação

Uma perseguição a um motociclista que andava sem capacete terminou de forma desastrosa no último fim de semana, no Bairro Alto, em Curitiba. Moradores relatam que policiais militares invadiram uma casa sem mandado de busca ou de prisão e agrediram moradores e vizinhos, entre eles uma idosa e uma portadora de deficiência. Na sequência, quatro pessoas foram detidas. Elas denunciam que foram torturadas. Uma advogada foi presa por desacato e afirma ter sido vítima de racismo. A Corregedoria da Polícia Militar (PM) instaurou um inquérito para apurar o caso.

Veja o vídeo com o depoimento completo da advogada que acusa os PMs de agressão e racismo

A ocorrência foi registrada na Rua Rio Guaíba, na noite de sábado (24). Na descrição da ocorrência, a PM afirma que um motociclista sem capacete fazia manobras perigosas e teria desobedecido a ordem de parada de uma equipe policial, entrando em uma casa. O mesmo registro faz referência ao uso de armas não letais, como bastões e teasers (aparelho de choque), para controlar cerca de 50 pessoas que teriam se aglomerado diante da residência.

O caso só veio à tona nesta terça-feira (27), depois que uma das pessoas que foi presa, a advogada Andréia Cândido Vítor denunciou a truculência da ação da PM. Os relatos dão conta de que os policiais invadiram a casa para onde o motociclista fugiu e agrediram moradores.

Um vídeo divulgado pela Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (AbraCrim) traz depoimento de seis pessoas que afirmam ter sido agredidas pelos policiais. Eles apresentam sinais nas costas e braços, arranhões e cabeças enfaixadas. Uma delas é uma senhora de 74 anos. Outra, uma adolescente que tem problemas de locomoção.

"Eu peguei no braço do policial e falei: ‘pelo amor de Deus, não faz isso’. E quando eu fui ver, o policial me deu uma cotovelada, eu caí no chão e bati com a minha cabeça na parede. Depois disso, eu não vi mais nada", relata a adolescente. Em vídeos gravados por moradores, é possível ver quando ela é retirada da casa, carregada por um homem.

O dono da casa invadida afirma que um de seus filhos ainda está hospitalizado por causa dos ferimentos. As gravações feitas após a ação policial mostra manchas de sangue em vários cômodos e peças de roupa e até pedaços de um cacetete que teria sido usado pela PM. "Nós não somos vagabundos. Nós somos gente", lamentou o dono da casa.

Os vídeos gravados pelos moradores mostram ainda o grande contingente policial em frente à casa. Uma policial parece debochar dos moradores. Outro policial se refere à população como "cambada" e chega a gritar um palavrão, quando um morador questiona uma das prisões.

Tortura

Quatro pessoas foram detidas pela PM, entre elas a advogada Andréia Vítor. Ela conta que, acompanhada de uma líder comunitária, questionou o tenente que comandava a ação sobre os motivos da abordagem à residência. O tenente teria xingado as mulheres de "vagabundas" e "vadias" e, quando Andréia se apresentou como advogada, recebeu voz de prisão por desacato.

"Eu disse: ‘Eu preciso de um representante da OAB. Ele gritou: ‘Você não precisa de nada, sua vagabunda. Entra no carro que você vai ter o que você precisa’", narrou a advogada.

Andréia afirma que ela e os outros três presos foram algemados e levados de viatura até um módulo policial localizado na Praça da Liberdade. Lá, todos teriam sido postos de joelhos e espancados, com tapas no rosto e pontapés. A advogada afirma ainda ter sido vítima de injúria racial. "Uma das policiais olhava para mim e dizia: ‘Você não é advogada? Advogada o quê? Com essa corzinha?’", relatou.

A denúncia será apresentada na quarta-feira (28) ao Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná (MP-PR). A intenção dos denunciantes é que os policiais respondam criminalmente pelos atos. "Era uma infração administrativa de trânsito, mas resultou nesta barbárie. Barbárie é o nome que resume o que ocorreu", disse o advogado de Andréia, Elias Mattar Assad.

Apurações

Os policiais envolvidos nas denúncias pertencem à 3ª Companhia do 20º Batalhão da PM. O chefe da Corregedoria, coronel Marcos César Vinícius Kogut disse que já recebeu a denúncia e determinou a abertura de um inquérito policial militar, para apurar o que ocorreu. "Foi solicitado o acompanhamento do MP-PR, para que transcorra tudo normalmente e que se apure o que realmente aconteceu.

Caso os abusos sejam comprovados, as investigações internas conduzidas pela PM podem terminar em punições que variam de repreensão a expulsão dos envolvidos. O coronel reconhece que os policiais terão cometido uma infração grave, se os detidos tiverem sido, de fato, levados ao posto policial antes de serem encaminhados à Polícia Civil. "O padrão da corporação é deslocar com os detidos direto à delegacia da Polícia Civil após a prisão", disse.

O coronel ressaltou que a corporação tem interesse em apurar o que realmente aconteceu e de punir os excessos. "A PM instrui seu efetivo para atuar dentro da lei. Os abusos não devem nos chocar, mas devem ser apurados com rigor. As denúncias são importantes para que desvios se tornem cada vez menos corriqueiros", afirmou.

A descrição da ocorrência, feita por policiais da 3ª Companhia do 20º Batalhão menciona que as equipes policiais teriam sido hostilizadas pelos moradores que se aglomeraram diante da residência que foi abordada. O documento diz que os agentes foram xingados pela população a recebidos a pedradas. Um soldado teria sido atingido por um soco.

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