• Carregando...
Polícia manteve cerco a Paulo “Tutancamon” durante todo o dia de ontem, em Joinville, mas não obteve sucesso nas buscas: caçada continua por tempo indeterminado | Fotos: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Polícia manteve cerco a Paulo “Tutancamon” durante todo o dia de ontem, em Joinville, mas não obteve sucesso nas buscas: caçada continua por tempo indeterminado| Foto: Fotos: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
  • Antes isolados, moradores da região agora dividem espaço com viaturas da polícia

Trinta e seis horas depois de uma caça contínua e frenética ao último suspeito da morte do delegado José Antonio Zuba, 47 anos, e do servidor público Adilson da Silva, 42 anos, as forças policiais ampliaram a área de buscas, até então limitada ao distrito de Pirabeiraba, em Joinville (SC).

Segundo o coronel Edgar José Franzosi, comandante da 5.ª Região da Polícia Militar de Joinvil­le, a procura já chegou a São Bento do Sul (SC), distante 45 quilômetros. A região entre as cidades é composta basicamente por mata fechada, onde o acusado, identificado como Paulo "Tutancamon", pode estar es­­condido. "Ele continua na mata e temos que achá-lo", disse Fran­­zosi. O suspeito estaria armado com uma metralhadora de fabricação israelense.

Além de helicópteros, cães farejadores e armas especiais, a operação usa equipamentos de visão termal, que identificam fontes de calor na vegetação, cedidos pela Polícia Federal de SC. Ao todo, 150 homens das polícias civil e militar dos dois estados participam da operação.

Ontem de manhã, policiais vasculharam toda a área delimitada em Pirabeiraba, onde, na manhã de quinta-feira, dois comparsas de Tutancamon foram mortos durante confronto com a polícia. Por volta das 14 horas, 26 policiais do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) do Paraná entraram na mata, próximo ao Rio da Prata, mas não encontraram nada.

Denúncias

A polícia recebeu três denúncias ontem sobre o paradeiro do acusado, mas nenhuma delas se confirmou. No meio da tarde, o grupo do Cope soube que um ho­­mem suspeito estava de carona em um caminhão na região de Campo Alegre, a 40 km de onde estavam. No entanto, era um andarilho. Às 17 horas, chegou a segunda. Uma mulher que mora próximo à Estrada do Oeste viu um homem armado e assustou-se. Mas era apenas um policial fazendo buscas no local. Uma hora depois, o mesmo grupo voltou a Campo Alegre. Mo­­radores desconfiaram de um ho­­mem que estava andando no acostamento da BR-101, sentido Curi­­ti­­ba. Mas era outro andarilho.

Às 19 horas, os policiais retornaram ao QG para um descanso porque as buscas continuariam durante a noite. Segundo o delegado-chefe do Cope, Hamilton Cor­deiro da Paz, a operação não tem data para acabar. "Vamos continuar até que não haja dúvida de que ele [Paulo "Tutan­­camon"] tenha fugido ou até que seja encontrado".

Crime brutal

Zuba e Silva foram assassinados na última terça-feira ao verificarem uma ocorrência num camping em Pontal do Paraná, no litoral do estado. Eles foram vítimas de um grupo criminoso do Rio de Janeiro que estaria no Paraná para cometer assaltos, segundo a polícia. Foi mais uma prova de que facções organizadas de outros estados estariam atuando no estado.

Para especialistas em segurança pública, o crime brutal deve ser encarado como um alerta. "Esse caso mostra que o espaço territorial não tem mais limite de estado. Já existe uma interligação de ação do crime organizado. Está na hora, então, da instituição Estado sair na frente e tomar as rédeas da segurança pública", opina o sociólogo Lindomar Bonetti, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Para o ex-secretário de Segu­­rança de Minas Gerais Luís Flavio Sapori, atualmente professor de Ciências Sociais da PUCMG, a morte de um agente público é um aten­­tado ao Estado. "É um crime grave a morte de um agente público. É um atentado que deve ser tra­­tado de forma rápida e forte. A ação realizada demonstra a reafirmação da autoridade do poder público. O Paraná está mostrando que no estado tem lei", afirma Sapori.

Hospitalizada

A dona de casa Córdula Piske, baleada durante a troca de tiros entre policiais e bandidos, continua internada na Unidade de Trata­mento Intensivo (UTI) do Hospital Municipal de São José, em Joinville. Até o fechamento desta edição o estado de saúde dela era estável.

Medo afeta rotina de 600 estudantes

Desde que as operações policiais iniciaram na região de Pirabeiraba, em Joinville (SC), na quinta-feira, a população vive sob o medo. O clima tenso compromete a vida pacata que a pequena comunidade tinha até a chegada dos três criminosos, responsáveis por duas mortes em Pontal do Paraná.

Duas escolas municipais que atendem os filhos de moradores da região estão parcialmente fechadas, prejudicando o ensino de 663 alunos. A diretora da Escola Municipal Emílio Paulo Roberto Hardt, Ilza Schneider, diz que as aulas estão acontecendo de forma parcial apenas pela manhã. A escola atende 580 crianças entre 6 e 14 anos, do ensino fundamental, e não tem como não atender os pais que insistem em trazer os filhos neste horário. "Eles têm que trabalhar e não têm com quem deixar os filhos. Mas os voos rasantes dos helicópteros comprometem as aulas. Depois das 10 horas, aumenta o movimento da polícia, pois a escola está em uma área de risco", esclarece Ilza.

As informações de como está a situação são monitoradas constantemente por Ilza através de contatos com a polícia. Ela e os 38 professores não moram no local, mas não deixaram de ir à escola nesses últimos dois dias. Não há previsão de retorno à normalidade. "A Secretaria de Educação tem sido informada diariamente. Temos esperanças de que na segunda-feira tudo volte ao normal". Aluno da 3.ª série, Emanuel, de 11 anos, não sabia de nada até ser abordado por policiais no meio da rua. "Fiquei com medo", conta.

Creche

Próximo dali, a creche Missão Criança Canela, que atende 82 crianças até 4 anos, está com as portas fechadas desde quinta-feira. No dia do confronto com os bandidos, a diretora Haeike Teixeira diz que os pais chegaram muito nervosos, por volta das 10 horas, em busca dos filhos. O almoço para os que ficaram no local foi dado dentro de sala de aula, porque o refeitório fica em uma casa anexa que oferecia perigo aos pequenos.

Para os desavisados, o forte aparato policial alerta que as buscas continuam e que as pessoas devem ficar dentro de casa. Para a tristeza do comerciante Valderi Hleaduniak, 38 anos, dono de um mercado no bairro, o movimento de clientes tem sido tão pequeno que as vendas diminuíram 50% nos últimos dias. "Dos 100 pães que vendia toda tarde, agora não tenho vendido nenhum." Na tarde de ontem, os alunos das escolas que costumavam vir comprar doces também não apareceram.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]