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Marcos Joaquim atua no projeto: “gosto de saber que o meu trabalho é importante para alguém” | Walter Fernandes/Gazeta do Povo
Marcos Joaquim atua no projeto: “gosto de saber que o meu trabalho é importante para alguém”| Foto: Walter Fernandes/Gazeta do Povo

Alfabetização

Material auxilia inclusão escolar de alunos com deficiência visual

Os livros produzidos pelos detentos da Penitenciária Estadual de Maringá (PEM) tornam o ensino de crianças e adolescentes com deficiência visual semelhante ao aplicado em escolas para aqueles que enxergam. Segundo a professora Angela Mari Labatut, especialista em educação especial, com o material em relevo, por exemplo, é possível iniciar a alfabetização das crianças de 6 anos com desenhos, assim como ocorre no ensino regular. "As figuras são o primeiro passo para a alfabetização de uma criança, seja ela portadora de uma necessidade especial ou não." Além disso, ela salienta que o uso de livros falados, com a riqueza de detalhes e sonoplastia presentes nos livros produzidos pelo Visão de Liberdade, ajudam a despertar nas crianças e jovens o interesse pela literatura.

Integração

Deficiente visual de nascença, o hoje técnico administrativo e revisor de literatura em braile do CAP, Ricardo Vieira, lembra que foi alfabetizado na década de 1980, aos 9 anos, e que naquela época o ensino para cegos era limitado a poucos exemplares de livros didáticos. "Tinha muita vontade de ler Monteiro Lobato, mas minha única opção era ouvir na tevê os episódios do Sítio do Pica Pau Amarelo. Hoje, para compensar, leio todos os livros juvenis e infanto-juvenis produzidos pelo programa." Para Vieira, o método de alfabetização similar ao do ensino regular torna o deficiente visual mais integrado socialmente.

Ler e pensar

O projeto Ler e Pensar, da Gazeta do Povo, também está entre os finalistas do Prêmio ODM Brasil, que reconhece ações que contribuem para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Criado em 1999, o programa incentiva a leitura e contribui na formação de educadores e crianças. Atualmente atende 105 mil alunos, de 526 escolas, em 53 cidades paranaenses.

Uma ideia implantada há quase dez anos na Penitenciária Estadual de Maringá (PEM), no Noroeste do Paraná, ganhou reconhecimento nacional recentemente. O projeto Visão de Liberdade, que emprega a mão de obra de presos na fabricação de material pedagógico para deficientes visuais, é um dos 60 finalistas do Prêmio Objetivos do Milênio Brasil. São livros falados, paradidáticos e em braile, além de maquetes e brinquedos em relevo.

"Havia uma carência desse tipo de material para auxiliar na aprendizagem dos alunos com deficiência visual, especialmente longe dos grandes centros", conta Maria Ângela Bessan Sierra, coordenadora do Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual (CAP), de Maringá, que idealizou o projeto.

Com o aval da direção da penitenciária e do Conselho de Segurança (Conseg), o material começou ser produzido pelos detentos em 2004. Atualmente, o programa atende diretamente 454 alunos dos ensinos fundamental e médio de 119 municípios das regiões Norte e Noroeste do estado. Desde a implantação já foram confeccionados cerca de 60 mil unidades – 58,5 mil trabalhos didáticos em relevo, 379 livros e 48 apostilas em braile, além de 118 livros e 16 apostilas faladas, com 150 cópias cada, enviados para diversas unidades de ensino especial no Brasil. Recentemente, os produtos foram enviados para a Biblioteca Pública de Sobreda, em Portugal, onde estão disponíveis para a consulta de milhares de pessoas. Segundo Maria Ângela, o próximo passo é exportar o material didático produzido na unidade prisional de Maringá para outros países de língua portuguesa.

Importância

Para o presidente do Conseg, coronel Antônio Tadeu Rodrigues, a iniciativa é importante, pois além de beneficiar o ensino do deficiente visual, auxilia na ressocialização do detento. "Acho que esse modelo é interessante e deveria ser mais adotado pelo Estado. Hoje, a maioria dos presos fica ocioso nas unidades prisionais e gera um custo muito alto para o governo. Então, é uma forma de ocupar esta mão de obra e beneficiar o detento e a sociedade." A cada três dias de trabalho, o preso reduz um dia da pena.

Para o interno Marcos Joaquim Ferreira, de 44 anos, participar do projeto é importante para ocupar a mente na prisão. "Mas também gosto de saber que o meu trabalho é importante para alguém, que o que eu produzo ajuda alguém a ter mais conhecimento." Ferreira está há seis anos na prisão. Ele foi condenado a 35 anos por assalto. Há três anos no Visão de Liberdade, ele já conseguiu reduzir em um ano a própria pena.

Gravação era feita em câmara fria desativada

O início do projeto Visão de Liberdade foi difícil. A coordenadora do CAP, Maria Ângela Bassan Sierra, lembra que as primeiras gravações dos livros falados eram realizadas em uma câmara frigorífica desativada dentro da Penitenciária Estadual de Maringá (PEM) por causa da falta de recursos. "Era um local completamente inapropriado. Tínhamos o problema da alta temperatura e da acústica ruim", lembra.

Os problemas começaram a ser resolvidos com a criação de parcerias entre a Secretaria de Estado da Justiça e Direitos Humanos – responsável pela PEM – e a Receita Federal e a Fundação Banco do Brasil (FBB). "Esses parceiros doaram aparelhos de gravação e impressoras especiais, que serviam para a fabricação dos primeiros livros impressos, falados e materiais em relevo", explica.

Anualmente, a produção dos materiais custa R$ 12 mil, segundo estimativa do CAP. O projeto Visão de Liberdade conquistou duas premiações em 2011, com benefício total de R$ 80 mil: Prêmio Cidadania Herbert de Souza da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil e Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. "Esse dinheiro foi investido na construção de um novo estúdio de gravação, o que melhorou consideravelmente a qualidade dos livros falados gravados aqui", afirma o diretor da PEM, Vaine Gomes.

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