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Alexandre: sem chance de revisão | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Alexandre: sem chance de revisão| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

O mutirão carcerário chegou tarde para Alexandre Carlos Simões, que, preso pelo furto de um telefone celular, poderia ser um dos beneficiados no Paraná com o regime semiaberto. Poderia, não tivesse sido morto na última rebelião da Penitenciária Central do Estado (PCE), ocorrida entre 14 e 15 de janeiro. Ele foi um dos seis executados por grupos rivais na carceragem. A história de Alexandre, morto aos 21 anos, expõe tanto as falhas do sistema prisional quanto as do Judiciário.

O drama começou na véspera do alistamento militar. "O sonho dele era servir o Exército", diz a mãe, a doceira Joana Maria Lino Simões. Às 13h30 do dia 30 de agosto de 2006, policiais militares faziam ronda na Vila Futurama, região do Umbará. Polícia na periferia desperta sentimentos contraditórios, e dessa vez não seria diferente. "Sai daí, entra", disse ao filho quando ouviu a frenagem da viatura nos pedregulhos da rua. "Por quê? Não devo nada pra ninguém", respondeu ele apoiado no portão.

Conforme o Boletim de Ocorrências, a PM recebera denúncia de que pessoas armadas estariam intimidando moradores. Ao ver Alexandre, um policial o chamou com gestos. "Agora vai", disse Joana. O policial tentou algemá-lo. Alexandre reagiu. Vizinhos presenciaram a ação. "Todos viram que ele não tinha arma", diz a mãe. Mas um revólver apareceu, e a posse foi atribuída a ele. Dois dias de prisão foram suficientes para tirar dele a primariedade e acabar com os sonhos de ingressar no Exército.

Alexandre seguiu ajudando a mãe a distribuir no comércio do Umbará os doces que ela fazia. Num sábado de janeiro de 2007, no entanto, se desentendeu com um grupo de jovens na Praça Eufrásio Correia, ao lado da Câmara Municipal. Voltou no domingo com três amigos para tirar satisfações. Deu briga. Ao fim da confusão, Alexandre pôs no bolso um celular que não era dele e permaneceu sentado no banco da praça. A polícia chegou em cinco minutos. Alexandre foi preso por furto.

O depoimento da moça que estava com Alexandre, uma suposta amiga, foi decisivo para a condenação a 5 anos e 4 meses de reclusão. Ela disse que ele incitou os demais à briga e depois lhe ofereceu o produto do furto. Alexandre passou nove meses no Centro de Detenção e Ressocialização (CDR) de Piraquara. Em 15 de outubro daquele ano, Joana protocolou na Comissão de Direitos Humanos da OAB uma denúncia de agressão contra o filho nas dependências do CDR. Ficou semanas sem poder visitá-lo.

Fuga

Com a progressão de pena, Alexandre foi enviado à Colônia Penal Agrícola (CPA) para cumpri-la em regime semiaberto. Não deu um mês e fugiu, alegando estar ameaçado de morte por outros internos. Segundo Joana, a direção da CPA foi informada e teria feito pouco caso. Quatro meses depois da fuga, Alexandre foi baleado na Vila Futurama ao buscar o grupo que assaltara a lan house da irmã. A essa altura, Joana já havia mudado de bairro depois de vender a casa dela na vila para pagar advogados.

Internado no Hospital do Trabalhador com três tiros na altura do peito, Alexandre não apresentou documentos. Sua identidade foi descoberta por meio das digitais. Depois de recuperado, foi levado direto para a PCE, onde chegou a cumprir um sexto da pena e de onde só sairia morto, dia 15 de janeiro. Não houve tempo de o mutirão carcerário rever seu processo e, assim, vislumbrar alguma chance de cumprir o resto da pena em regime semiaberto.

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