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Fachada do antigo Hotel Martins, na Rua Riachuelo: para especialistas, revitalização precisa de “ocupação” | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Fachada do antigo Hotel Martins, na Rua Riachuelo: para especialistas, revitalização precisa de “ocupação”| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Continuidade

Comerciantes querem saber da sequência das obras na Riachuelo

Com a mudança na administração municipal na virada do ano e possíveis interrupções de projetos de revitalização no futuro, comerciantes da Rua Riachuelo já veem com desconfiança a continuidade da revitalização do Centro Histórico. Chaim Jabbes, vice-presidente da Associação dos Comerciantes e Moradores da Rua Riachuelo e proprietário de uma loja na região, disse que vai se reunir com a prefeitura em breve para tentar descobrir o que virá pela frente. "A revitalização foi boa, mas é preciso dar continuidade a ela. Já colocaram onze tubos embaixo do asfalto para enterrar a fiação da rua, mas ainda não tivemos a confirmação da prefeitura de que isso será feito", afirmou Jabbes. As calçadas e a iluminação também foram substituídas.

Medidas

Ippuc quer diálogo; especialistas dizem que o segredo é a ocupação

O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) prevê ampliar os projetos de revitalização de bairros na cidade. De acordo com Sérgio Póvoa Pires, presidente do órgão, a ideia é dialogar com moradores e estimular mecanismos de interação social e geração de receita.

"O problema das calçadas [de granito] do Batel ocorreu por falta de diálogo, por exemplo. O mínimo que você precisa fazer é conversar com as pessoas que moram há décadas naquele bairro", afirma Pires.

Além dos dois bairros, a prefeitura pretende instalar um calçadão por regional, que devem ser instalados em bairros populosos, como o Tatuquara, Boqueirão e Sítio Cercado."Tudo isso estará no Plano Municipal de Desenvolvimento Sustentável, que lançaremos em 2015 e trará diretrizes para Curitiba para as próximas décadas", conclui Pires.

Centros vazios

De acordo com especialistas, o sucesso de projetos que buscam recuperar áreas degradadas depende da ocupação de imóveis e das ruas. "No Brasil, os centros estão se esvaziando. Precisamos de uma política que atraia moradores", diz o arquiteto Irã Dudeque, professor do departamento de Construção Civil da UTFPR.

Para João Virmond Suplicy Neto, presidente da Federação Pan-Americana de Arquitetos, os projetos públicos precisam atender às demandas locais. "Os espaços públicos têm de ser mais permeáveis aos privados", afirma Suplicy, antes de criticar a ideia de revitalização do Rebouças. "O projeto já começa com um erro, pois a cidade não precisa copiar situações de fora. Isso existe em Nova York e aqui seria de uma falsidade ideológica enorme."

Insegurança

Por volta das 14 horas do dia 19, um jovem que tentava fugir da Guarda Municipal na Ria Riachuelo esbarrou em um senhor de 80 anos chamado João e acabou preso com mais de 20 pedras de crack.

De acordo com João, que preferiu não ter o sobrenome divulgado, o suspeito abandonou uma carteira pelo caminho. "Estava caminhando quando ele passou com tudo por mim, esbarrou no meu cotovelo e jogou fora uma carteira. Acho que era roubada."

80%

dos R$ 5 milhões previstos para a obra de instalação do Cine Passeio (centro cultural voltado à área audiovisual que reabriria salas de cinema de rua) estavam garantidos no final do ano passado, segundo a prefeitura municipal de Curitiba.

  • Na onda das

Há cerca de dez anos, atraída pela promessa de que trabalharia em uma região com ares tão sofisticados como os do SoHo, abreviação para South of Houston Street, complexo artístico ao sul de Manhattan, em Nova York, a atriz e empresária Giselle Lima, de 32 anos, decidiu mudar a sede da sua escola de teatro. A Pé no Palco iria para o bairro Rebouças, em Curitiba. Na época, com o incentivo financeiro concedido pela prefeitura, ela não foi a única a pensar assim. Hoje, porém, Giselle e sua sócia, Fátima Ortiz, são símbolos da resistência artística no local.

"De todos os grupos artísticos que vieram para cá, apenas o nosso se manteve", diz a atriz em uma das salas do espaço. Mesmo localizada quase em frente ao Teatro do Paiol, o motivo da diáspora na região não é difícil de entender: na região, faltam consumidores de arte.

A ideia do então prefeito Cassio Taniguchi, capitaneada pelos arquitetos Sérgio Tocchio e Fernando Canalle, era dar nova vida ao Rebouças, bairro tradicionalmente fabril que havia perdido sua vocação com o surgimento da Cidade Industrial em 1973. Em 2002, pouco mais de R$ 700 mil foram destinados a projetos de 12 companhias artísticas – e o nome SoHo surgiu para indicar a futura região do Rebouças antes de virar adjetivo para o Batel.

Para Giselle, a ideia não foi para frente por falta de interesse de sucessores de Taniguchi. "Talvez isso tenha acontecido por que prefeitos que o sucederam tinham interesses em outras regiões", argumenta a atriz, que já pensou em se mudar. "Não é fácil fazer arte no Brasil, ainda mais distante de onde circula a classe artística".

Só fachada?

Não muito longe do Re­bouças, Estephanni Mi­ran­da, 25, espera que a promessa de revitalização da região onde trabalha não tenha o mesmo enredo pelo qual passou Giselle. Ela é gerente comercial em uma loja de bijuterias na Rua Riachuelo. A via teve calçadas reformadas e recebeu nova iluminação e câmeras dentro do projeto Marco Zero – lançado em 2005 para revitalizar o Centro.

"Estamos empolgados com a rua. Por isso, há um mês ficamos 30 dias fechados para readequação do quadro de funcionários e repaginação da decoração", afirma Estephanni, orgulhosa da fachada de sua loja, a mais vistosa dentre os comércios vizinhos.

Além da Riachuelo, a São Francisco é outra via da região que já ganhou novos ares. Até o final do ano passado, a expectativa era de que a Saldanha Marinho, João Negrão e Emiliano Perneta também passassem por um banho de loja. Além disso, é prevista a construção do espaço cultural Cine Passeio onde já funcionou o antigo quartel do Exército.

Com sede no Rebouças, Fundação ainda busca público "crítico" para o bairro

Há sete anos, o antigo Moinho da Avenida Engenheiro Rebouças ganhou nova finalidade: passou a abrigar a sede da Fundação Cultural de Curitiba. A mudança era parte do plano de ocupação do Novo Rebouças e atendeu aos anseios do projeto do já ex-prefeito Cassio Taniguchi.

"O objetivo da vinda para cá [o Rebouças] era preservar a paisagem e induzir que uma massa crítica se instalasse no bairro. Essa estratégia cumpriu seu papel em um primeiro momento, mas a Prefeitura consegue induzir essa ocupação, mas não tem o poder para garantir que ela ocorra", justifica Beto Lanza, assessor de planejamento da FCC.

Segundo Lanza, os grupos culturais que não permaneceram devem ter enfrentado dificuldades financeiras. "No início, havia mais grupos [culturais] no bairro. Os que saíram podem não ter mantido condições financeiras de se manter porque pagavam aluguel".

De acordo com dados do Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar), do Sindicato de Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), o valor do m² no Rebouças teve valorização semelhante a do restante da cidade. Em 2000, o m² de um imóvel usado no bairro custava R$ 527,60 – valor que pulou para R$ 2.815,60 no ano passado.

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