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Engenheiros civis de todo o país se reuniram no início do mês em Curitiba do 19.º Congresso Brasileiro de Engenheiros Civis (CBENC). Durante os dias 5 e 7 de dezembro, profissionais, entidades de classe e empresas discutiram questões ligadas à melhoria da infraestrutura e logística do país, além de formas de valorizar a profissão e melhorar a qualidade de ensino.

Esses assuntos foram abordados em entrevista à Gazeta do Povo por Francisco Ladaga, presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis (Abenc) e representante do Paraná no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).

Em um estudo recente, o Ipea alertou que o número de engenheiros precisará triplicar até 2020 caso a economia brasileira cresça a um ritmo de 4% ao ano. Há tantos profissionais disponíveis no mercado ou corremos o risco de uma escassez de engenheiros?

Existem 303 escolas de engenharia civil no país. Com uma conta básica, sabemos que há mais de 200 mil garotos para se formar nos próximos cinco anos. Hoje, registrados, há 200 mil engenheiros civis. E com certeza tem muita mais gente que estava trabalhando em bancos, porque era mal remunerada, e agora, com o boom de produção, voltou para o mercado. O problema não é falta de profissionais. O que falta é melhores salários e oportunidades de mercado, além de novos treinamentos e cursos de atualização.

O mesmo estudo diz que a baixa qualidade dos cursos brasileiros pode ser um entrave para que a necessidade do mercado seja atendida.

Não aceitamos essa discussão de que a universidade forma mal o profissional. Mas reconhecemos que é preciso voltar a boa engenharia. Estamos buscando o resgate da engenharia civil que sempre esteve presente no Brasil, com competência e capacidade. Todo mundo quer visitar a obra de Itaipu, mas poucos se interessam em saber que o projeto começou aqui no Paraná.

A formação dos engenheiros brasileiros foi inclusive criticada mês passado pelo ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, Wellington Moreira Franco, o que causou um mal-estar entre entidades e representantes da classe.

Ele [o ministro] veio questionar que o engenheiro civil não tem competência. O ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) tem o melhor curso de engenharia civil, puxadíssimo, com especialização em aeroportos. Como o ministro vem dizer isso? Todo mundo sabe do potencial de cursos como o do ITA, a grande seleção que é pra entrar nestes locais.

Ainda em relação à formação, se sabe que a taxa de evasão nos cursos de engenharia é maior do que 50%, o que também compromete o número de profissionais que chega ao mercado. Por que isso ocorre?

O aluno pode ter aptidão, mas não tem conhecimento básico para continuar na engenharia, em áreas como matemática e física. Países como a China e Coreia do Sul fizeram uma política educacional de desenvolvimento tecnológico desde o ensino básico, levando isso para uma geração futura. No Brasil, os alunos não conseguem passar por esse ciclo básico. E aí vem o governo federal criar cursos de tecnólogo, onde não há matemática e física.

Muito se fala que, a curto e médio prazos, os setores de exploração de petróleo e gás, além de extração mineral, demandarão profissionais mais especializados. Há engenheiros ou cursos no país para atender essas áreas?

Muitas dessas autorizações de exploração de petróleo que o governo está dando é para empresas estrangeiras. E com a argumentação de que não há profissionais no Brasil, as empresas vêm com o pacote fechado [trazem engenheiros de fora]. Mas acredito que o Brasil tenha competência e capacidade para suprir todas essas necessidades. Além do mais, não existem estatísticas [sobre o mercado]. Qual é a estatística mais fiel na área de engenharia? A própria pesquisa do Ipea diz que não há falta de engenheiros no país.

A falta de engenheiros em prefeituras e órgãos públicos é um problema recorrente. Os engenheiros não estão interessados em trabalhar nesses locais ou não há interesse do setor público em contratar?

Primeiro, é uma questão de oferta e procura. Antigamente, tinha muita oferta e pouca procura na área. Mas o problema é que há muitos anos não se vê concursos para engenheiros. Eu mesmo fui engenheiro do estado, me aposentei e até hoje não foi suprida a minha vaga. Essa é uma política que tem de mudar.

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