Combate
Os especialistas indicam caminhos para agir contra os criminosos
Transferência: Quando o Estado é atacado, o governador precisa negociar com o Ministério da Justiça o envio dos líderes das facções para as penitenciárias federais. Isto mina a comunicação entre eles. Também é preciso monitorar os substitutos e evitar que consigam a influência entre os presos.
Isolar líderes: O limite para um preso ficar nas penitenciárias federais é de dois anos. O governo do estado não pode esperar de braços cruzados a volta deles. A estrutura tem que garantir que não haverá contatos entre os líderes para não se reorganizem.
Em conjunto: A retomada do controle das cadeias deve ser feita com autoridade, sem abrir concessões aos detentos. A parceria com o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil ajuda nesta tarefa. É possível aumentar a capacidade de articulação entre as instituições.
Dentro da lei: As forças de segurança pública não podem fazer justiça com as próprias mãos porque haverá troco por parte da facção criminosa. A sociedade não deve cair no erro de apoiar grupos de extermínio. A crise acaba e eles saem de controle e começam a assassinar outros alvos.
Atingidas
Veja as cidades catarinenses que já sofreram atentados:
Balneário Camboriú Blumenau Brusque Canelinha Criciúma Florianópolis Gaspar Itajaí Itapema Navegantes Palhoça São Francisco do Sul São José Tijucas Tubarão
63 ataques
desde o começo da semana. Este é o número de atentados ocorridos em Santa Catarina até agora. Três suspeitos foram mortos pela polícia e 47 foram presos. Outras 64 pessoas, foragidas e não identificadas, foram acusadas por testemunhas e comparsas de terem tido participação nos crimes.
Fim de semana em Santa Catarina
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Os ataques de criminosos a ônibus, carros particulares e estruturas de segurança que têm colocado Santa Catarina em estado de pânico nos últimos dias parece não ter perspectiva de acabar. Às 23h30 dessa sexta-feira, um novo atentado deu início ao quinto dia de ataques: dois homens de moto atiraram cinco vezes contra a base da Polícia Militar no Campeche, Sul da Ilha, sem deixar vítimas.
No começo do sábado, logo após a meia-noite, mais um ônibus urbano foi incendiado, na Estrada do Forte, em São Francisco do Sul, no Litoral Norte. Segundo testemunhas, o ônibus foi abordado por um grupo armado que fez os passageiros, cobradores e motorista descerem e atearam fogo no coletivo, que seguia a rota Enseada-Centro de São Francisco. Até a manhã de sábado somavam 46 os ataques ou tentativas de destruir ônibus e veículos particulares.
Ainda nesse sábado, às 3h30, a base da Guarda Municipal de São José, no bairro Areias, também foi alvejada: dez disparos atingiram o prédio da instituição e duas viaturas que estavam no pátio.
Cadeia alimenta facção
Segundo especialistas, usuários de drogas e traficantes com dívidas estariam sendo usados pelo Primeiro Grupo Catarinense para os ataques. Por trás das organizações criminosas que estão levando o terror ao estado estariam as condições precárias dos presos nas casas de detenção, utilizadas para assediar novos membros na promoção da violência. Afinal, "filiar-se" às facções resultaria em melhores refeições, direito a uma cama e integridade física garantida.
Por este motivo, a retomada do controle das unidades prisionais seria o primeiro passo para a solução do problema do crime organizado, afirma Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública, ex-diretor da Secretaria Nacional de Justiça e de Inteligência do Ministério Público de São Paulo. Ele diz que, no contexto atual, o caminho natural de um preso recém-chegado a uma cadeia é se tornar integrante da facção para ter uma pena livre de violência.
O ex-delegado da Polícia Federal e homem responsável pela guarda de Fernandinho Beira-mar durante um período que ele passou na cadeia José Paulo Rubim lembra que toda a proteção e favores desfrutados pelo detento serão cobrados pela facção após o retorno à liberdade. Os ataques vistos agora seriam o "pagamento" desses novos integrantes.
Maus tratos em cadeia seria razão da violência
Diogo Vargas, do Diário Catarinense
O sistema prisional superlotado e a facção criminosa que age das cadeias e dá provas de vencer barreiras para se comunicar com meios externos ajudam a explicar os motivos de Santa Catarina estar enfrentando um quadro de violência e terror nas ruas antes nunca vivenciado.
As cerca de 50 prisões catarinenses abrigam atualmente mais de 17 mil presos, quantidade bem acima das 10 mil vagas existentes. Na mais conturbada delas, a Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, estão 1,2 mil detentos, entre eles os líderes do Primeiro Grupo Catarinense. A facção criminosa seria a protagonista dos atentados a ônibus e a unidades policiais registrados desde segunda-feira no estado.
Nos últimos anos, a Penitenciária de São Pedro foi palco de mortes de presos em brigas entre eles e recentemente de denúncias de tortura contra os agentes prisionais e a direção. Os maus-tratos seriam os supostos motivos que teriam levado os detentos a ordenar a vingança nas ruas até a queda do diretor, Carlos Alves.
Ele nega abuso e conta com total apoio da direção do Departamento de Administração Prisional pela linha de rigor na disciplina e corte nas regalias que teria imposto na prisão. Mesmo assim, Carlos Alves pediu afastamento na quarta-feira, no auge dos crimes nas ruas. O agora ex-diretor teve a mulher assassinada em São José, a agente Deise Alves, supostamente a mando de presos, como represália ao trabalho que desenvolvia à frente do cárcere.
Policiais ouvidos ao longo da semana disseram que o alcance dos criminosos da facção vai além de São Pedro. Uma das células mais atuantes estaria na Colônia Penal Agrícola de Palhoça, unidade prisional marcada por fugas e condições de regalias aos detentos.
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