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Trem se aproxima da Avenida Affonso Camargo, na região central de Curitiba: trilhos e composições trazem riscos para moradores e para motoristas. Quem vive perto da linha também se incomoda com o barulho, principalmente à noite | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Trem se aproxima da Avenida Affonso Camargo, na região central de Curitiba: trilhos e composições trazem riscos para moradores e para motoristas. Quem vive perto da linha também se incomoda com o barulho, principalmente à noite| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Vandalismo aumenta riscos

Os 48 cruzamentos entre ruas e ferrovias existentes dentro de Curitiba – tecnicamente conhecidos como passagens de nível – são um dos problemas causados pela presença do trem dentro da cidade. Segundo as autoridades, o vandalismo dificulta a sinalização dos cruzamentos. De acordo com o estudo "Sinalização e segurança no transporte ferroviário de dentro das cidades", a Urbs instalou cancelas em 32 passagens de nível. Todos os equipamentos foram furtados, sem exceção, incluindo as hastes de alumínio das cancelas e os equipamentos eletrônicos dos sinalizadores.

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Proposta é bem recebida por técnicos

Especialistas em transporte ouvidos pela reportagem em princípio aprovam a nova proposta de desvio ferroviário apresentada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc). O coordenador do curso de Educação e Gestão de Trânsito e Transporte da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Hardt, afirma que a decisão de retirar a linha ferroviária do centro de Curitiba é urgente. "É interessante para a cidade e para o próprio serviço ferroviário. Hoje o trem tem de passar em uma velocidade menor, tem limitação de horário e riscos de acidentes constantes. Este ramal já deveria ter saído da capital há muito tempo".

Para Hardt, a ideia de implantar o contorno ferroviário seguindo os contornos rodoviários norte e sul é a melhor saída. "É onde haverá o menor impacto". Ele afirma que somente o trecho que passa na Bacia do Passaúna exigirá cuidados para prevenir riscos de acidentes. "Mas como é somente uma parte, isso é mais fácil de ser feito".

Para o também professor do curso de Educação e Gestão de Trânsito e Transporte da PUCPR, Paulo Fernando da Silva Moraes, o único problema do projeto, em princípio, é a rede de ciclovias. "São distâncias muito grandes para serrem percorridas como casa/trabalho. As ciclovias têm um aspecto mais lúdico do que uma solução de transporte. Na prática, fica como outras ciclovias que são utilizadas apenas para passear no fim de semana".

Um dos principais interessados no trajeto do trem – a América Latina Logística (ALL), empresa que opera a malha ferroviária em Curitiba – , disse que também gosta da nova ideia. Em nota, a ALL "informa que ainda não teve acesso ao projeto em questão, mas adianta que considera positiva a iniciativa da retirada dos trilhos de área urbana do município". De acordo com a empresa, isso contribui para o aumento da segurança (com menor número de passagens de nível) e da produtividade da operação ferroviária de cargas na região.

Paola Carriel e TC

  • Confira as alternativas propostas para acabar com o tráfego de trens no centro de Curitiba

Uma nova proposta de desvio ferroviário elaborada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), em parceria com a superintendência estadual do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), promete ser a solução para um velho problema: o tráfego de trens no centro da cidade. Essa já é a quinta proposta de contorno ferroviário discutida em Curitiba em menos de dez anos. Ao contrário das anteriores, entretanto, a nova alternativa deve aliar o sistema ferroviário a outros meios de transporte: aeroviário, rodoviário, marítimo e de ciclovias, consolidando um plano diretor multimodal que envolve Curitiba e outras cinco cidades da região metropolitana.

Por enquanto, tudo não passa de uma proposta – aliás, ninguém sabe ao certo quanto vai custar. A nova ideia, no entanto, apresentada pelo prefeito Beto Richa (PSDB) ao diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, em Brasília, na última segunda-feira, deve agora ganhar ares mais concretos. A superintendência estadual do Dnit ficou responsável por elaborar os projetos preliminares, executivos, financeiros e estudos de impacto ambiental nos próximos seis meses. A expectativa é, então, incluir o projeto no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal e começar a tirar as obras do papel em 2010, colocando um ponto final em uma questão conturbada.

A nova proposta é mais um capítulo de um enredo que se arrasta por anos. Desde 2002, há um projeto de contorno ferroviário – avaliado em R$ 82 milhões – engavetado por problemas de concessão de licenciamento ambiental. Pelo projeto antigo (veja quadro ao lado), a linha férrea passaria a oeste de Curitiba, em um percurso de 43,7 quilômetros, entre duas áreas de proteção ambiental (Passaúna e Rio Verde).

Os estudos que culminaram nessa antiga proposta iniciaram em 2000. Na época, chegou-se a levantar ainda outras duas alternativas. De acordo com uma delas, o contorno ferroviário passaria a leste de Curitiba. A proposta foi descartada, pois aumentaria o percurso dos trens que vão para o interior, já que eles teriam que dar uma volta em torno da cidade. Uma outra proposta previa que o contorno fosse levado ainda mais para o oeste. A ideia também foi descartada, pois levava o desvio ferroviário para longe demais da capital.

Optou-se pela alternativa de desvio ferroviário passando entre as duas áreas de proteção ambiental. Mas em 2002, o projeto foi para gaveta. No ano passado, a superintendência estadual do Dnit lançou uma nova alternativa: a de rebaixamento da linha férrea na zona urbana. A ideia consistia em construir túneis subterrâneos para evitar que o trem atrapalhasse o tráfego urbano.

Em princípio, a alternativa parecia boa e simples. De acordo com o Ippuc, entretanto, os estudos mostraram que a proposta continha vários problemas, como: consolidação da linha férrea no meio da cidade; interferência no sistema de água e esgoto; inviabilização de construção de trincheiras no futuro em alguns cruzamentos; custo da obra (semelhante à de um metrô); além dos problemas com ventilação e aquecimentos nos túneis, já que os trens são movidos a diesel.

Novo trajeto

Uma parceria entre o Ippuc e a superintendência estadual do Dnit, então, fez nascer a nova proposta apresentada em Brasília, no início desta semana. De acordo com a nova alternativa, o traçado do contorno rodoviário norte e sul seria utilizado para a construção de uma linha férrea paralela. "A linha férrea correria 70% ao longo da rodovia. O impacto é infinitamente menor", diz Luiz Hayakawa, arquiteto do Ippuc.

Mas, por que não se pensou nisso antes? Segundo Hayakawa, na época do projeto anterior (aquele engavetado por falta de licenciamento ambiental), o Contorno Rodoviário Norte ainda não havia sido construído. E quando foi implantado, inclusive, recebeu críticas pelo fato de adentrar um trecho da área de preservação ambiental do Passaúna – impacto que também seria causado pela nova linha férrea, mas, que segundo os criadores da nova proposta, não traz grandes efeitos. "O problema já está consolidado ali. Já é uma zona impactada", defende Hayakawa.

Pela nova proposta, uma nova linha férrea seria feita sobre os diques do canal extravasor do Rio Iguaçu, ligando o novo desvio ao Porto de Paranaguá. Um ramal até o aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, também está previsto, além da construção de ciclovias no lugar de toda a linha férrea que seria desativada no centro da cidade. As ciclovias seriam feitas também em todo o contorno da cidade, acompanhando a rodovia e a ferrovia, formando uma rede metropolitana.

Se a nova proposta por implantada, a parte ferroviária da Rodoferroviária, hoje usada como pátio de manobra, seria desativada. O terminal de cargas dos trens seria feito no lugar de uma ocupação irregular próxima à Repar, refinaria localizada em Araucária, na região metropolitana – os moradores seriam relocados para um outro espaço ainda a ser definido. A rodoviária poderia receber a função de terminal de transporte metropolitano – papel hoje desempenhado pelo Terminal Guadalupe (equipamento que ganharia um novo fim). Já o transporte rodoviário estadual e interestadual poderia continuar na rodoviária ou ser transferido para o extremo da cidade, no Contorno Sul, com a Linha Verde. A nova proposta também prevê que um terminal de passageiros seja feito em Piraquara, para incrementar o turismo ferroviário.

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