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Nathan Sozzi (ao centro) e seus colegas de sala e de “empresa.” | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Nathan Sozzi (ao centro) e seus colegas de sala e de “empresa.”| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Eleitas

Empresa selecionou 120 escolas modelo em tecnologia no mundo

O Sesi Internacional é uma das 120 instituições no mundo (duas no Brasil) escolhida pela Microsoft como escola showcase. Além do uso da tecnologia em sala, pesou a favor do colégio a metodologia baseada em projetos e a união de alunos de diferentes turmas.

Para um uso inovador de tecnologia em sala não basta substituir a apostila impressa por uma versão digitalizada. "Este seria um caminho fácil, mas você perde a beleza, o potencial da plataforma digital", avalia o diretor de educação da Microsoft Brasil, Antonio Moraes. Ao compartilhar arquivos pela internet, por exemplo, os alunos são estimulados a produzir um conhecimento coletivo. Para isto, é fundamental que o professor seja "um curador e não apenas detentor da informação", opina Moraes.

Por que é preciso

Ensinar os alunos a depurar a alta quantidade de informações que encontram na web e reconhecer fontes confiáveis para a produção do conhecimento vira uma nova demanda dos docentes. E das mais importantes. Diretor do Sesi Internacional, João Malheiros admite: "O uso dessas ferramentas são trabalhosas, mas é preciso desenvolver estas competências na adolescência, porque é isso que eles vão encontrar no mercado de trabalho."

Tablets e smartphones viraram armas de guerra nas salas de aula. De um lado, uma geração de alunos nascida e crescida na tecnologia, que raciocina como quem alterna de janela no computador a cada segundo. Do outro, professores que mal aprenderam a controlar os "bilhetinhos" e já enfrentam whatsapps e snapchats. Para vencer esta batalha contra os gadgets, o Sesi Internacional optou por abrir mão de tudo aquilo que uma escola tradicional dispõe. Séries e salas de aula inclusas.

Inaugurado no início deste ano, o colégio fica no Campus da Indústria, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) em Curitiba, e alia o ensino integral ao bilinguismo (o inglês é a primeira língua em 50% das aulas). Como resultado, a instituição é uma das duas no Brasil escolhidas como "showcase" pela Microsoft, que premia iniciativas inovadoras na educação.

Outro diferencial é o método pedagógico da rede de escolas do Serviço Social da Indústria do Paraná (Sesi). Os cerca de cem alunos dos três anos do ensino médio são misturados, e a cada bimestre se matriculam em oficinas temáticas, que vão de robótica a liderança. Ao final devem apresentar um projeto ou resultado. Os debates são feitos em grupos de cinco, que sentam em uma mesa circular. Os critérios para formação das equipes vão de "não repetir o grupo do bimestre anterior" a "não pode sentar junto quem está namorando", conforme a orientação do professor.

A constante necessidade de resolução de problemas torna o uso do computador quase uma obrigação, e as "conversinhas" pelas costas do professor dão lugar ao debate de ideias. A aula ganha em horizontalidade e o docente "não precisa ficar lá na frente liberando conteúdo o tempo todo, ele vira um mediador do aprendizado", explica o diretor da escola, João Eduardo Malheiros Pereira. O aluno, por sua vez, se obriga a gerir o próprio tempo.

A liberdade de escolha criaria no adolescente a vontade de aprender. Soraia Guillarducci, mãe da Mariana, de 15 anos, confirma o fenômeno. "Voluntariamente talvez ela nem fizesse robótica, mas como faz parte do currículo ela se vê interessada por coisas que nem conhecia", opina.

A metodologia desenvolve "competências relacionais" como "a liderança e o desenvolvimento de resiliência", conta Pereira. Antes da criação da rede, a equipe liderada pela gerente Lilian Luitv, de operações inovadoras, perguntou às indústrias o que faltava no profissional que adentrava no mercado de trabalho. A resposta foi "alguém que fale, interaja com a equipe". As disciplinas "normais" do ensino médio são dadas dentro das oficinas.

Aprendendo a ser empreendedor aos 16 anos

Nathan Sozzi entrou no colégio neste ano, já no 2.º ano, e brinca que sente dó dos professores, obrigados a relacionar temas como "biologia" e "liderança". Mas para a "teacher" de Inglês, Graça Monares Costa, este "é o ideal de qualquer pessoa que queira dar aula, poder preparar o conteúdo em cima daquilo que achamos bacana".

No segundo bimestre deste ano, Nathan se inscreveu na oficina Smart Furniture. "A gente conheceu todo o processo de desenvolvimento do móvel, o pai de um amigo trabalha no ramo e veio dar palestra, fomos na [empresa] Flexiv, que é filiada ao núcleo de decoração do Paraná e até conversamos com o dono!", conta o garoto, com toda a empolgação de quem, aos 16 anos, prepara-se para uma faculdade de Arquitetura ou Engenharia Civil.

Durante dois meses, o grupo amadureceu o tema e frequentou as disciplinas eletivas de Design de Móveis e Inovação. O resultado foi a empresa fictícia Quatre amis et un mobile (quatro amigos e um móvel). A rapaziada montou até site para divulgar o trabalho, apresentado em forma de maquete. No final, eles competiram com alunos de outras escolas para expor o trabalho em um Congresso Moveleiro realizado na sede da Fiep, em setembro. Não ganharam, mas isso não diminuiu o "sonho de ter uma construtora" de Nathan ou a validade da experiência, até porque não ganhar faz parte da vida. Nas palavras do coordenador João Pereira: "Aqui desenvolvemos também a resiliência do aluno em sala de aula".

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