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Ritmo de trabalho intenso, que pode chegar a três turnos, é um dos motivos de reclamação e afastamento de professores | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Ritmo de trabalho intenso, que pode chegar a três turnos, é um dos motivos de reclamação e afastamento de professores| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Depressão

Afastada há três anos

Com diagnóstico de depressão, a professora de língua portuguesa Nilza Teresinha Dal Moro, 46 anos, de Foz do Iguaçu, está afastada da sala de aula desde 2006. A doença começou a se manifestar aos poucos. O primeiro sintoma foi a falta de sono. A professora passava noites sem vontade de dormir. Com o passar do tempo, o quadro clínico foi se agravando e ela foi obrigada a deixar o trabalho, apesar de gostar muito de dar aula. "O professor faz parte da história do aluno", diz.

Para Nilza, alguns fatores contribuíram para o quadro, os principais deles, segundo ela, foram a quantidade de alunos na sala, as cobranças ‘de cima para baixo’, a falta de respeito dos alunos e o calor insuportável. "Eu sempre fui muito perfeccionista e levava a aula certinha para os 50 minutos, mas não conseguir dar 10 minutos", diz. Nilza ressalta que, apesar das dificuldades, sempre teve apoio de colegas.

Secretaria questiona

A diretora de Administração Esco­­lar da Secretaria de Estado da Edu­­cação (Seed), Ana Lúcia Schulhan, re­­conhece os problemas enfrentados pelos professores, mas diz que a classe não é a única a ter dificulda­­des porque cada profissão tem suas consequências funcionais. Ela diz que desconhece a pesquisa da APP-Sindicato e questiona a representatividade da investigação porque atualmente há 22 mil funcionários e 101 mil professores nas escolas públicas.

Segundo a diretora, em 2005 foi feito um diagnóstico com 62 mil professores em razão do grande número de afastamentos e problemas relacionados às dificuldades com voz. Verificou-se que apenas 11% dos professores tinham doenças pré-existentes relacionadas à voz. Os demais problemas eram decorrentes da má postura; uso de roupas apertadas; uso inadequado da voz e maus hábitos alimentares. "A maioria dos professores tem maus hábitos e estresse causado pela convivência entre os pares, dis­­putas de poder", diz.

A partir do resultado da pesquisa, a Seed elaborou um programa de saúde para os professores com orientações de especialistas.

A secretaria informou que abrirá nova contratação de profissionais pelo Processo Seletivo Sim­­pli­­ficado (PSS) e que continua chamando os aprovados no último con­­curso público. Quanto à hora-atividade, a Seed diz que o aumento para 50% implicaria uma elevação de custos significativos, uma vez que obrigaria a contratação de um número grande de profissionais para suprir a demanda gerada. Esse aumento comprometeria o orçamento do Estado, in­­frin­­gindo a Lei de Respon­­sabi­­lidade Fiscal.

Em relação ao número de alunos em sala de aula, a secretaria diz ter planos de redução a médio prazo.

  • Veja uma pesquisa sobre os motivos do afastamento de professores

Foz do Iguaçu - Salas de aula superlotadas, assédio moral e o desrespeito de alunos são os vilões que mais contribuem para adoecer e afastar professores e funcionários das escolas públicas do Paraná. Conforme levantamento do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP – Sin­dicato), no primeiro se­­mestre do ano passado, 29,88% de um universo de 7.612 professores e funcionários da rede pública es­­tadual deixaram de trabalhar por um ou mais dias. Desse total, 36% ficaram doentes em decorrência das más condições de trabalho. Outros 22% faltaram por estresse, 6% alegaram estar com doenças osteomusculares e 35% pediram licença por outros motivos.

Conforme a pesquisa, os 36% dos professores e funcionários afastados pelas más condições de trabalho adquiriram doenças relacionadas a inúmeros fatores, entre eles, ruídos na escola – muitas ve­­zes causados pela proximidade das quadras esportivas das salas de au­­la –; problemas de voz decorrentes da necessidade de controlar muitos alunos em sala e complicações na coluna provocadas por móveis inadequados usados por funcionários da administração.

Segundo o técnico em segu­rança do trabalho da APP, Ede­val­ter Inácio Bueno, os ruídos em ex­­cesso podem gerar perda auditiva e dores de cabeça. Até mesmo a má ventilação, em sa­­las de aula e na cozinha, prejudica os trabalhadores. Há casos de merendeiras que trabalham em ambientes com calor de 40ºC onde não há ventilação adequada.

O sindicato ainda diz que os professores não suportam o ritmo de trabalho intenso, que para al­­guns pode chegar a três turnos. Aulas para preparar, provas para corrigir e o desafio de controlar mais de 40 estudantes em sala são exigências que acabam comprometendo a saúde.

Alguns professores, com problemas de estresse, apresentam a Síndrome de Burnout, conhecida como síndrome da desistência, na qual o educador perde todo o estímulo em continuar trabalhando. Já as doenças osteomusculares atingem principalmente funcionários em razão de atividades repetitivas, tais como limpar vidros e varrer. Como consequência, há inúmeros casos de bursites.

O professor e secretário de saúde da APP Idemar Vanderlei Beki, diz que há três reivindicações da categoria fundamentais para reverter o quadro: reduzir o número de alunos por turma, aumentar a hora-atividade dos professores e adequar a quantidade de estudantes das escolas ao número de funcionários e profissionais da área de pedagogia.

A redução do número de alunos em sala de aula é uma bandeira antiga dos professores. Eles reivindicam 20 alunos por sala de 2.ª a 4.ª séries, 30 para 5.ª a 8.ª séries, e 35 para o ensino médio.

Quanto à hora-atividade – período em que o professor prepara as aulas e faz pesquisas – a categoria quer aumento dos atuais 20% para 50%. "A maioria dos professores trabalha 40 horas e tem 8 de hora-atividade. O ideal seria 50%, ou seja, o professor trabalhar um turno e no outro dedicar-se a estudos e ficar à disposição do atendimento de alunos", salienta.

Para a categoria, é preciso adequar o número de alunos ao nú­­mero de funcionários porque os trabalhadores estão sobrecarregados. No Colégio Monsenhor Gui­lherme, em Foz do Iguaçu, segundo a APP, há três funcionários para limpar 18 salas de aula e as dependências da escola.

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