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O primeiro dia da audiência do caso Mércia Nakashima terminou por volta das 17h40 desta segunda-feira (18) com o depoimento de uma testemunha sigilosa, denominada "ômega". Imprensa e familiares dos acusados, o advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, de 40 anos, e o vigia Evandro Bezerra Silva, de 39 anos, acusados da morte da advogada, de 28 anos, não puderam acompanhar o interrogatório da testemunha sigilosa no auditório do fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Os interrogatórios das testemunhas de defesa – 15 pessoas ao todo - serão retomados às 13h desta terça-feira (19), de acordo com a assessoria do Tribunal de Justiça (TJ-SP). Na quarta-feira (20), haverá os depoimentos de quatro testemunhas do juízo, seguidos dos interrogatórios dos réus.

Ao final da audiência, o juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano deverá divulgar a sentença. Se pronunciá-los, os acusados de matar a advogada, que desapareceu no dia 23 de maio, deverão ser levados a júri popular. No dia 11 de junho, o corpo dela foi encontrado em uma represa em Nazaré Paulista, no interior do estado de São Paulo. Se optar pela impronúncia, o caso será arquivado e não haverá julgamento.

Nesta segunda-feira, foram interrogados, pela ordem, Cláudia Nakashima, advogada e irmã de Mércia; Alexandre Simone Silva, investigador do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP); Márcio Nakashima, irmão de Mércia; Bruno da Silva Oliveira, flanelinha que trabalha em frente ao Hospital Geral de Guarulhos; Jurandir Ferreira da Silva, que trabalha em uma loja de conveniências em um posto onde Evandro era vigia; Maria Cleonice Ferreira, que trabalha em uma ONG para a qual Márcia presta assessoria jurídica; e a testemunha "ômega", um pescador que viu o carro de Mércia ser jogado na represa na noite do dia 23 de maio e que está sob proteção da Justiça. Airton Lima, uma das testemunhas previstas para ser ouvida, foi dispensada pelas partes.

Às 16h30, começou a ser ouvido o guardador de carros Bruno Oliveira, que confirmou ter visto Mizael Bispo ter saído de seu Kia Sportage e entrado em um Honda Fit, veículo da mesma marca do de Mércia, por volta das 18h30 do dia 23 de maio, data na qual a advogada foi dada como desaparecida. O flanelinha disse ter decorado o número da placa do carro de Mizael, pois o acusado já havia passado pelo local em outras ocasiões junto com Mércia.

Às 16h45, Jurandir Ferreira da Silva afirmou que trabalha desde março de 2010 no mesmo posto no qual Evandro Silva é vigia, em um bairro de Guarulhos. Segundo ele, Mizael costumava frequentar o estabelecimento e conversar com Evandro com frequencia. Às vésperas do desaparecimento de Mércia, as visitas de Mizael, ficaram mais frequentes, segundo ele. "Conversavam por uma, duas horas. Antes (do crime), ele ia quase todo dia. Depois (do crime), parou de ir", declarou. Silva afirmou que Evandro deixou de ir ao posto a partir do dia 30 de maio, quando nem o carro nem o corpo de Mércia haviam sido localizados pela polícia.

A penúltima a ser ouvida foi Maria Cleonice Ferreira, cujo testemunho durou apenas três minutos. Ao juiz, ela declarou que se comoveu com o caso e decidiu ajudar Claudia distribuindo panfletos que alertavam para o desaparecimento de Mércia. Segundo ela, Claudia presta assessoria jurídica para a Organização Não Governamental (ONG) na qual trabalha.

Ela disse que houve denúncias de que estavam arrancando os panfletos dos postes e estabelecimentos comerciais no bairro Bonsucesso, onde Mizael mora e tem escritório de advocacia. "Não disseram quem estava arrancando. Constatamos que foram retirados e fomos lá repor", afirmou.

Às 17h15, teve início o depoimento da testemunha sigilosa, sem a presença da imprensa e dos familiares dos acusados na sala da audiência. A testemunha é um pescador que, na noite do dia 23 de maio, viu uma pessoa sair de um carro e jogá-lo dentro de uma represa em Nazaré Paulista.

O promotor Rodrigo Merli avaliou como positivo os testemunhos das pessoas ouvidas nesta segunda. "Foi confirmado em grande parte o que já havia sido colhido no inquérito. Com os depoimentos, foi possível demonstrar aquilo que a gente já imaginava. Mas nem precisava dessa prova oral. Há prova técnicas suficientes para pronunciá-los", afirmou.

Para o advogado dos acusados, Ivon Ribeiro, questionou a validade dos interrogatórios. "Alguns que eles trouxeram não sabiam dos fatos sobre os quais estavam testemunhando", declarou. Além disso, ele considera que o depoimento do investigador do DHPP tira os seus clientes da cena do crime. "Se ele declara que constam dos autos duas ligações captadas pelas antenas do centro (de Guarulhos) entre o Mizael e o Evandro às 19h33 e outra às 21h26, eles não podiam estar na represa. É fisicamente impossível", afirmou.

Violento

Antes destas testemunhas, Márcio Nakashima disse em seu depoimento que Mizael Bispo de Souza, ex-namorado da vítima e principal suspeito do crime, era violento. "Ele tinha fama de violento pelas ameaças que ela me contava", declarou o irmão. Nakashima também comentou sobre o relacionamento da irmã com o ex-policial militar. "Ele era muito ciumento. Quando ele estava junto, eu não podia falar com ela. Ela mal podia sair do lugar dela", relembrou.

O irmão afirmou ainda que Mércia chegou a trocar o número de telefone várias vezes depois que os dois terminaram o namoro. "Ele ia todos os dias à casa para tentar relacionamento com Mércia", disse Nakashima, que afirmou saber que "havia contato dos dois depois do rompimento, mas achou que eram profissionais".

A irmã de Mércia, Claudia Nakashima, foi a primeira testemunha a prestar depoimento durante a audiência, nesta segunda-feira. "Eu tenho muita raiva do Mizael. Se encontrar com ele na rua, eu dou ré e passo por cima dele", disse Claudia, durante seu depoimento.

O depoimento de Claudia começou às 11h30 e foi finalizado às 13h. Ela pediu a saída dos acusados – além de Mizael, o vigia Evandro Bezerra Silva – da sala durante seu relato. Antes de entrar na sala, ela passou mal e vomitou, pois sofre de anorexia nervosa.

A defesa de Mizael ainda tentou adiar a audiência com dois pedidos antes de seu início, que foram rejeitados. O advogado Samir Haddad Júnior também tentou a exclusão de Claudia como testemunha de acusação, alegando que ela estava movida pela emoção, mas não teve sucesso.

Os depoimentos das testemunhas e dos acusados serão gravados em vídeo. Todas as testemunhas de defesa foram dispensadas e devem comparecer nesta terça-feira (19) para serem ouvidas. O juiz também convocou o perito Renato Patoli, autor do laudo da reconstituição da morte, como testemunha do juízo.

Esta etapa do processo é conhecida como instrução ou pronúncia e antecede um eventual julgamento. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, os trabalhos poderão durar até três dias.

Acusados

O ex-namorado e ex-sócio da vítima, o advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, de 40 anos, e o vigia Evandro Bezerra Silva, de 39 anos, são apontados como "executor" e "partícipe" do assassinato, respectivamente.

Mizael sempre negou o crime. Evandro também passou a alegar inocência. Ambos respondem ao processo em liberdade provisória, mas são obrigados a comparecer a audiência. Existe ainda a possibilidade de, numa eventual pronúncia, o juiz decretar a prisão preventiva dos réus ao dar a sentença, caso haja algum fato novo que justifique isso.

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