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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Um novo estudo realizado por cientistas americanos mostra que o vírus da zika, quando transmitido sexualmente, alastra-se desde os genitais da mãe até o cérebro do feto. De acordo com a pesquisa, publicada na revista científica Cell, o vírus encontra na vagina um nicho onde consegue se replicar por um extenso período.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a via primária de transmissão do vírus zika é o mosquito Aedes. Contudo, são cada vez maiores as evidências de que a transmissão do vírus por via sexual é possível e mais comum do que anteriormente se previa.

Zika e relação sexual

No final de julho, publicação da OMS mostrava que 11 países já haviam identificado a transmissão do vírus por via sexual.

A lista de nações que registraram a transmissão por via sexual inclui Argentina, Canadá, Chile, Peru, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha e Nova Zelândia.

Para este estudo que trabalhou com a hipóteses de transmissão sexual, o grupo de cientistas, liderado por Akiko Iwasaki, da Universidade de Yale (Estados Unidos), desenvolveu o primeiro modelo em camundongos para estudar a infecção vaginal pelo vírus zika.

“O vírus da zika parece encontrar um nicho na vagina. Observamos em nosso modelo que esse é o lugar onde o vírus pode se replicar por um período extenso de tempo. Em camundongos gestantes, a infecção vaginal pode levar à infecção cerebral e à restrição do crescimento do feto”, disse Akiko.

O laboratório coordenado por Akiko estuda há anos as infecções virais, inicialmente em mucosas genitais pelo vírus da herpes. De acordo com a cientista, seu interesse na zika foi despertado quando começaram a aparecer relatos de que o vírus pode ser transmitido sexualmente.

“Utilizando nosso conhecimento sobre herpes genital, nós tentamos compreender como o vírus da zika se comporta quando é transmitido através da vagina. Já se previa que a mucosa vaginal seria um local adequado para a replicação do vírus, mas não havia nenhuma evidência fortemente embasada, por isso criamos esse modelo de estudos em camundongos”, afirmou Akiko.

Os camundongos, normalmente, não são suscetíveis à zika e, em outros modelos de estudos de infecção, os animais precisam antes passar por um processo de engenharia genética para que se tornem vulneráveis ao vírus. Mas no caso da infecção vaginal, a equipe de Yale descobriu que o vírus pode sobreviver e se replicar por vários dias nas mucosas, mesmo em camundongos comuns. “Esse foi o achado mais surpreendente do estudo”, disse Akiko.

Quando os cientistas produziram uma infecção vaginal com o vírus da zika em camundongos gestantes normais, eles observaram infecção cerebral e um retardamento no desenvolvimento do cérebro dos fetos. Já nos animais geneticamente modificados para se tornarem vulneráveis à zika, o vírus se replicou descontroladamente no feto e causou abortos espontâneos.

Os cientistas pretendem agora prosseguir com as pesquisas sobre a infecção vaginal pelo vírus da zika em ambos os tipos de animais. “Estudar as duas coisas paralelamente nos permite enxergar todo o espectro da doença”, explicou.

A equipe está trabalhando agora, segundo Akiko, em diversas questões críticas para o novo modelo. Uma delas consiste em descobrir qual rota o vírus toma na mucosa vaginal para infectar o feto. “O fato de que um vírus transmitido sexualmente pode terminar no cérebro do feto é preocupante. Estamos fazendo uma investigação rigorosa sobre isso”, afirmou.

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