• Carregando...
Para Sheila Machado, o baixo salário e a falta de tempo não são desculpas para não ler: “Vou muito a sebos, troco com colegas” | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Para Sheila Machado, o baixo salário e a falta de tempo não são desculpas para não ler: “Vou muito a sebos, troco com colegas”| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Projeto estimula leitura de livros em sala de aula

A Escola Estadual Dom Orione, no bairro Santa Quitéria, em Curitiba, é um caso de local onde conviviam vários professores com diferentes práticas de leitura. Mas, graças um projeto, a situação mudou. Todos os dias, por 25 minutos de manhã e outros 25 à tarde, todos param o que estão fazendo para ler. Não importa quem seja – aluno, professor, funcionário ou algum visitante que estiver por lá no momento.

A professora de Mate­­mática Sônia Soely Mendes passou a ler de meio livro por ano para quatro. Ela, que é professora há 20 anos, só chegava perto dos que eram da área, literatura nem pensar. Com o tempo livre para ler em horário de aula, a prática hoje é outra. "Passei a escrever mais e melhor. Sem contar que os alunos começaram a se interessar pelo o que eu lia. A gente passa a ser referência", conta.

No caso da professora de Português Sheila Martins Machado, a leitura faz parte da sua vida há muitos anos por causa da sua formação em Letras. Mesmo com pouco tempo livre e com o salário que a carreira oferece, ela consegue estar cercada de livros. "Eu vou muito a sebos, troco com colegas. Dá para ler livros sem gastar muito."

Interação

A partir da literatura, o professor consegue trazer outro tipo de conhecimento para a sua área, atendendo o conceito de interdisciplinaridade. "A interação com os alunos é outra, assim como a forma como o professor dialoga com a ciência, pois aumenta seu repertório. O que lê se torna mais criativo e inovador em sala de aula", comenta a professora do Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Eliege Pepler.

Os professores da educação básica brasileira (ensino fundamental e médio) não gostam de ler. Segundo dados do questionário da Prova Brasil 2011, 21% dizem que leem às vezes e 34% nunca entram em contato com um livro. Ou seja, menos da metade tem esse prática. As causas são várias, entre elas a formação deficiente do docente, que não inclui a leitura como parte importante de seu desempenho profissional; a falta de tempo devido à dupla jornada para compensar os baixos salários; e o pouco incentivo do poder público.

No primeiro caso, a falta de valorização da leitura é apenas mais um fator da defasagem de qualidade dos cursos de Pedagogia e licenciatura, apontada pelos especialistas como um dos grandes problemas da educação hoje. Além de um currículo fraco, a carreira não consegue atrair jovens com um bom histórico escolar.

Quanto ao tempo diário de trabalho, a maioria dos professores atuam em dois períodos – ou até três – para dobrar o salário. O tempo que eles têm livre geralmente é na própria escola, a chamada hora-atividade, mas ela é voltada à preparação de aulas e correção de trabalhos e provas. "O ideal seria que dentro dessa hora-atividade existisse mais uma ou duas horinhas para que ele pudesse ler outras coisas que não as relacionadas à sua disciplina. Mas é complicado porque hoje já se faz milagre com o tempo que se tem", diz a professora do Departamento de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Suzete Bonatto.

Influenciador

O principal efeito de um professor que não lê é a não formação de novos leitores. Ou seja, de alunos que não vão ter gosto pela leitura nem vão entender a importância dela. De acordo com o escritor e professor Paulo Venturelli, a leitura fundamental é a literária. É ela que vai desenvolver a inteligência e a sensibilidade, além de mudar a percepção que o professor tem do mundo e das coisas. "Esse é o problema principal da educação do Brasil, a falta de leitura. O professor não sabe o que fazer com o livro e não sabe ensinar o aluno a usá-lo."

Por isso, mesmo que a pesquisa mostre que os índices são maiores em outros tipos de leitura, como jornal – 63% leem sempre – e revista – 65% leem sempre –, por exemplo, a leitura literária tem um papel que não pode ser substituído.

Segundo a pesquisa Re­­tratos da Leitura no Brasil 2012, do Instituto Pró-Livro e Ibope, o principal influenciador de leitura de crianças e jovens é o professor – 45%, superando o papel da mãe, que é de 43%.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]