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Mariana já comprou até sapatinhos de bebê após receber ovário de Elisa: ansiedade pela gravidez | Douglas Marçal/O Diário do Norte do Paraná
Mariana já comprou até sapatinhos de bebê após receber ovário de Elisa: ansiedade pela gravidez| Foto: Douglas Marçal/O Diário do Norte do Paraná

Esperança

Sonho de dar à luz gêmeos fica mais próximo para Mariana

Se tudo der certo e não houver rejeição, Mariana Gerep de Morais acredita que já a partir de novembro poderá engravidar dos filhos – "gêmeos" – que deseja "desde pequena" e cujos nomes já estão decididos: Samuel e Isaque ou Isabel e Ana Elisa. Ao realizar o sonho, o gesto solidário da irmã ficará ainda mais evidente, uma vez que, biologicamente, os bebês serão filhos de Elisa, já que os óvulos dela também foram doados.

"Eu já havia me oferecido para doar os óvulos e até gerar a criança. Nossos maridos, quando nos conheceram, já sabiam dessa possibilidade, e sempre nos apoiaram", diz Elisa. Mariana, que se consultou com dez médicos à procura de uma solução, diz que a questão já está resolvida na família. "Agora vou pensar nos meus filhos, me preparar para eles."

Em função de o problema ser genético, Elisa diz que também planeja fazer o mesmo, uma vez que, segundo os médicos, pode entrar na menopausa em no máximo cinco anos.

Genoma idêntico dificulta rejeição

O fato de Elisa e Mariana serem gêmeas univitelinas foi o que permitiu à segunda uma nova chance de ser mãe. Elas são gêmeas monozigóticas e com DNA idêntico, o que faz com que, na prática, o transplante feito entre as duas seja considerado um iso-transplante, uma espécie de autotransplante. "Elas são como clones naturais, ou seja, são a mesma pessoa em termos de genoma. Isso ocorre quando um espermatozoide fecunda um óvulo e o zigoto que se forma se divide em dois, formando duas pessoas idênticas, com o mesmo DNA. Daí o termo monozigótico – geradas a partir de um único zigoto", esclarece o professor de Reprodução Humana da UFPR Karam Abou Saab.

O geneticista e professor da PUCPR Salmo Raskin explica que ainda não se sabe exatamente porque gêmeas monozigóticas com DNA idêntico não desenvolvem a doença ao mesmo tempo (ou até mesmo porque uma desenvolve e a outra não), mas que a explicação pode estar na forma como os gêmeos monozigóticos se formam e que pode ser de três maneiras diferentes.

A primeira, que envolve de 25% a 30% dos casos, é dos gêmeos que surgem e se desenvolvem de zero a três dias após a fecundação, e que possuem duas placentas e dois sacos amnióticos (anexo embrionário líquido que protege o bebê de choques mecânicos e garante a hidratação). A segunda, que responde por 75% dos casos, ocorre quando há uma só placenta e dois sacos amnióticos, e se forma de três a sete dias após a fecundação. A terceira, que corresponde de 1% a 2% dos casos, envolve os que surgem cerca de 14 dias após a fecundação e que apresentam apenas uma placenta e um saco amniótico. "A maioria das gêmeas univitelinas que possuem menopausa precoce são desse grupo", diz Raskin.

O primeiro transplante de ovário feito no Brasil, realizado há nove dias em Maringá (Noroeste do estado), promete renovar as esperanças de mulheres que lutam contra a menopausa precoce. A cirurgia foi realizada com duas irmãs gêmeas de 29 anos. A receptora, a turismóloga Mariana Gerep de Morais, parou de ovular e menstruar aos 23 anos. Ela recebeu três centímetros do tecido germinativo (que contêm os óvulos) da irmã, a nutricionista Elisa Gerep de Morais, e com isso pode voltar a engravidar.

Os médicos ainda precisam esperar três meses para se certificar de que não haverá rejeição por parte da receptora. Em caso de sucesso, as principais beneficiadas serão pacientes que entraram no climatério antes do tempo e que, por isso, não conseguem engravidar. A técnica foi desenvolvida originalmente para beneficiar mulheres que pararam de ovular por causa da exposição e destruição das células do ovário em tratamentos de radioterapia e quimioterapia contra o câncer. De cada dez pacientes com leucemia, por exemplo, nove têm o problema. Nesse caso, seria preciso congelar partes do próprio ovário e, após a cura, voltar a implantá-lo no corpo, reiniciando os ciclos ovulatórios, através de um autotransplante.

No caso do transplante de uma pessoa para outra, as chances de rejeição são de quase 100%. O diferencial de Mariana e Elisa é o fato de serem gêmeas univitelinas, ou seja, é como se fossem clones naturais uma da outra. A esperança é que o organismo de Mariana entenda que o que foi recebido da irmã não é um corpo estranho, mas parte de si mesmo. Neste caso, os leucócitos (células de defesa do corpo) não criam anticorpos contra as células transplantadas.

De acordo com o médico e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo Carlos Gilberto Almodin, que desenvolveu a técnica há 13 anos, o procedimento ainda é experimental. Até o momento, já foram realizados 12 transplantes no mundo mas, no caso do Brasil, a dificuldade está em encontrar pacientes. "Queremos divulgar a técnica e treinar mais médicos, mas é preciso que oncologistas e ginecologistas encaminhem essas mulheres."

Sofrimento

A menopausa precoce impõe grande sofrimento à mulher, tanto físico quanto psicológico, explica o professor da Universidade Federal do Paraná e membro do conselho científico da Sociedade Brasileira de Climatério, Jaime Kulak Júnior. "Quando o problema ocorre antes dos 40 anos, a mulher ainda não teve filhos ou então ainda está no auge de sua vida sexual e reprodutiva, e isso tem um efeito devastador", explica.

Hoje, as maiores causas do problema são as genéticas – caso de Mariana, que tem histórico na família – e relacionadas ao câncer, além da histerectomia, quando a mulher retira o útero. Na menopausa, as células germinativas perdem a capacidade de responder ao hormônio folículo estimulante (FSH) e deixam de ovular. Com isso, cai a taxa de estrogênio, progesterona e testosterona no corpo, e iniciam-se os sintomas da menopausa, além de doenças relacionadas, como as cardíacas e a osteoporose.

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