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O sonho de ficar rico de uma hora para outra está deixando muita gente pobre. Quadrilhas de vigaristas ainda aplicam o manjado golpe do bilhete premiado no país.

O dinheiro acumulado por criminosos vem geralmente de idosos, de preferência mulheres, como uma aposentada de 54 anos. "Já pensou? R$ 6 mil. Vai fazer a maior falta", diz.

O dinheiro dela seria usado para comprar a casa própria. Os filhos ainda não sabem que a mãe foi vítima esta semana, em Sorocaba (SP), de uma farsa muito bem montada.

Golpe antigo

"É um golpe antigo que remonta a década de 1940. Mas são vários fatores que influenciam no golpe: a lábia do criminoso, a ingenuidade das pessoas e a perspectiva de ganho fácil de ambos os lados", afirma o delegado Wilson Negrão.

A vítima está sempre sozinha. Um homem mais velho com aparência simples pede ajuda. Diz que ganhou na loteria, mas que é analfabeto e que está sem documentos. Em troca de ajuda para sacar o dinheiro, oferece 10% do valor do prêmio.

Um segundo golpista se apresenta como advogado, oferece ajuda e liga para uma suposta lotérica. Do outro lado da linha, um terceiro envolvido confirma os números do bilhete premiado.

Para dar credibilidade, geralmente o golpista que se passa por advogado saca uma alta quantia. Na verdade, são apenas algumas notas recheadas com papel, dando a ideia de que há muito dinheiro ali.

A aposentada de Sorocaba, achando que receberia em troca R$ 130 mil, fez o saque para os golpistas. "Eu saquei R$ 5 mil, que é na boca do caixa, e R$ 1 mil no eletrônico", conta a aposentada.

Incidência

Em São Paulo, as cidades com maior número de idosos são também as que mais registram este tipo de crime. No interior, Ribeirão Preto, Campinas e Bauru lideram a lista.

Os golpistas sempre agem no horário bancário e têm preferência pelas terças-feiras, quando acontecem cerca de 36% dos golpes.

Em imagem gravada, uma senhora de 76 anos entra na agência acompanhada pelo bandido. Durante os 20 minutos que os dois ficam ali, ela saca R$ 14 mil. A polícia tenta identificar quem é o homem que levou do dinheiro.

Nos últimos meses três quadrilhas foram presas em Florianópolis, Bauru e Rio Claro. Os grampos revelam que os grupos se conhecem. "Eu viajo para Cuiabá, para Campo Grande, Belo Horizonte, para Goiânia, para Brasília, que eu conheço tudo, entendeu?", diz um dos suspeitos na gravação.

Suspeitos monitorados

Suspeitos monitorados pela polícia foram presos em maio, quando agiam em Mato Grosso do Sul. Eles fizeram seis vítimas e acumularam R$ 270 mil.

Uma professora, estudante de direito, foi uma das vítimas em Campo Grande. "Eu fui tão besta que ela falou assim para mim: ‘Não fala para o seu filho isso aí. Você não conta para o seu filho, que isso é segredo. Só vai ficar entre nós três’", lembra a vítima.

O grupo acusado de dar o golpe é da região de Rio Claro, interior de São Paulo. Três suspeitos são da mesma família: pai, mãe e filha. Para não chamar a atenção dos vizinhos, diziam que eram empresários.

Assim, justificavam os carros e os imóveis que compravam e também as viagens que faziam frequentemente para aplicar os golpes. O problema é justificar a renda com a Receita Federal. É o que mostra uma das ligações que José Aparecido dos Santos, acusado de ser o chefe do grupo, recebe.

Homem: Eu caí no pente fino do Imposto de Renda

José: Ah, mas você resolve rápido!

Homem: Esse negócio de pente fino da Receita Federal nunca catou você?

José: Eles me deram uma multa lá, mas depois aquietou.

Homem: Só que o bagulho não é o dinheiro. O bagulho ‘é’ (sic) as propriedade que está 'molhando' pra mim, Zezé.

Viviany Araújo, procurada pela polícia, também tinha problemas com o Fisco, conforme mostram as gravações.

Mãe: O Imposto de Renda, Viviany. Está com dois carros no seu nome, apartamento que você está pagando.

Viviany: Eu tinha que arrumar um jeito de abrir uma firma para falar de onde que vêm essas coisas.

Se a vítima não tem economia, os golpistas sugerem que ela faça dívida.

Viviany: Ela ia fazer empréstimo e tudo para arrumar dois conto e 700 (R$ 2,7 mil). Ela ligou para a filha dela para contar. A filha dela falava assim: ‘Mãe, a senhora está caindo no conto do vigário’. Ela falava assim para filha dela: ‘Não é, não é conto do vigário’.

Punição

Viviany nem chegou a ser presa. Os comparsas já estão não rua. Segundo a polícia, aplicando golpes. "Com certeza, como esta mão tem cinco dedos, quem foi rei não perde a majestade. Golpista não desiste", diz o procurador-geral de Justiça de Mato Grosso do Sul, Miguel Vieira.

Segundo a lei, neste crime as vítimas não sofrem violência física e, por isso, as penas são bem leves. Dificilmente o criminoso fica na cadeia.

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