
Artesanato
Tecidos naturais e fundo branco
Sustentabilidade é palavra da moda no Brasil e no mundo afora. "O politicamente correto vai com tudo, só não em festa de gala", comenta a consultora de moda Andrea Oliveira. Ela dá as dicas básicas de como usar acessórios artesanais, não apenas feitos de pele de peixe, mas de qualquer matéria-prima retirada diretamente da natureza: investir em roupas também de tecido natural, como o algodão puro, a sarja e o linho. A combinação é simples. "Se as peças forem coloridas, você joga sobre uma camiseta branca e não precisa de mais nada."
Em vez de acabar no lixo como um problema ambiental dos mais mal-cheirosos, a pele de peixe pode ganhar colorido e os mais variados contornos depois de transformada em couro como fazem as artesãs da Copescarte, uma cooperativa fundada em Antonina há quatro anos pela bióloga amazonense Leocília Oliveira da Silva. Lá para as bandas de Manaus, trabalhando no Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), ela aprendeu a curtir pele de peixe de água doce. Depois, veio até o Sul para adaptar os processos aos bichos de água salgada e envolver um grupo de mulheres nas tramas criativas do artesanato.
O robalo desbanca a pescada amarela, a corvina e até o salmão como peixe preferido para virar matéria-prima de bijuterias, bolsas e chinelos, pela beleza do padrão das suas escamas, atravessadas por uma listra preta esfumaçada que resiste a tingimentos. As próprias escamas, separadas, também entram na composição de brincos e colares, ao lado de outros materiais naturais, como sementes de juçara e fios de tucum (feito de folhas de palmeira), gerando peças ambientalmente corretas. A cooperativa retira resíduos do meio ambiente e ainda gera emprego e renda, igualmente dividida entre as artesãs.
Muitas das 39 mulheres que trabalham com Leocília são marisqueiras. A lida diária delas é cozinhar os siris capturados por seus maridos e retirar-lhes as carnes. Cerca de 70 crustáceos precisam ser destrinchados para que acumulem um quilo do alimento que é vendido a R$ 1,70. As mesmas mãos aprenderam a curtir, colorir, cortar e colar, imaginando formas e tons para adornos femininos. "Elas criam sem copiar e sempre saem peças diferentes", diz Leocília, orgulhosa do grupo de damas de 18 a 73 anos.
Elas mesmas ainda não tiveram a chance de desfilar com suas criações por aí. As peças que fazem ficam na cooperativa para serem vendidas em feiras a que são convidadas de Foz do Iguaçu a Salvador. Aqui pelo Litoral, todo sábado e domingo é possível encontrá-las na Feira de Artesanato de Antonina, em frente ao Mercado Municipal, onde os melhores compradores são os turistas.
A Copescarte recebe mais pedidos do que dá conta de produzir. "O couro de peixe está praticamente engatinhando", diz Leocília, sobre a técnica ainda pouco disseminada, que ela mesma desenvolveu durante um mestrado na Universidade Estadual de Maringá (UEM) fazendo testes que a levaram a descobrir que a diferença entre os peixes de mar e de rio era a menor resistência da pele dos primeiros o couro de pirarara, de água doce, se mostrou mais resistente do que o couro de boi. Se de início gastava de 4 a 5 dias no processo químico, atualmente leva dois e meio. Mesmo assim, a cota semanal de produção não ultrapassa 12 quilos.
Todas as artesãs aprendem também os passos da transformação química. "A minha intenção é de que elas passem por todo processo e fiquem na parte que se identificarem mais", diz Leocília, que não esconde a própria preferência pela feitura do couro às minúcias do artesanato.
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