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Única ligação ao continente, passarela alargada em 1994 dá vazão a pedestres, motos e bicicletas | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Única ligação ao continente, passarela alargada em 1994 dá vazão a pedestres, motos e bicicletas| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Culinária

Entre as tradições mantidas na Ilha dos Valadares estão as comidas típicas dos caboclos do Litoral paranaense, muitas vezes com nomes engraçados e histórias folclóricas sobre sua origem. Grande parte dos pratos é encontrada nas festas da região, ou são feitos em família. Confira alguns pratos:

- Barreado : o tradicional prato da região litorânea é também feito e apreciado no Valadares, mas sem invenções. O que faz do prato uma iguaria única é o fato de a receita ser a mesma há séculos: carne desfiada, toucinho e temperos, tudo isso feito em panela de barro.

- Cambira (ou peixe enfumaçado com banana): peixe seco no sol ou no fogão a lenha (usam principalmente o bagre ou a tainha), que depois é cozido na panela de barro com banana da terra. Surgiu com os pescadores, que na época não tinham geladeira e precisavam salgar e secar o peixe para consumir durante o período de baixa da pesca.

- Siri metido à besta: carne de siri cozida com um molho de tomate, alho, cebola, cheiro verde e pimenta. Para incrementar, pode-se jogar a mistura junto com o arroz, durante o cozimento do grão.

- Bagre filho da puta: caboclo não guarda palavrões dentro da boca, e nem na hora da comida é diferente. O peixe é aberto e recheado (pode ser com camarão), e em seguida é costurado e espetado. Na hora de espetar o bagre, os pescadores acabavam se cutucando no espinho, e aí era só xingamento.

- Sardinha trepada: simples e clássica, é a sardinha recheada com camarão.

- Trapo de raia: carne de raia desfiada.

- Arroz lambe-lambe: o arroz é cozido junto com o marisco com casca. Quando termina de cozinhar, o marisco se abre, e é preciso lamber a casca para tirar o arroz que fica dentro. Por isso o nome.

Avistar a ponte para a Ilha dos Valadares dá a sensação de que ali há a entrada de outra cidade dentro do município de Paranaguá, no Litoral paranaense. E o que parece apenas uma impressão se evidencia nos primeiros passos – o vai-vém de pessoas, motos e bicicletas sobre a passarela é constante e ininterrupto. Mas são os números que comprovam: dos 140 mil habitantes que vivem em Paranaguá, quase 30 mil estão em Valadares, ou seja, 17,8% da população parnanguara mora na ilha.

O bairro (como é considerado pela prefeitura) teve sua primeira citação oficial registrada em 1840, mencionando que existiam propriedades no local, na época, formado por 41 casas e 141 pessoas. De lá para cá, os registros misturam lendas, contos e não se sabe ao certo o que é ficção e o que é realidade.

"Em Brumas do Passado, o autor Rubens Corrêa fala de contrabando de escravos na ilha. O que provavelmente aconteceu, mas é uma liberdade poética, não há uma descrição correta do fato", conta o tesoureiro e estudioso do Instituto Histórico Geográfico de Paranaguá, José Maria Faria de Freitas.

Em 1924, com o governo do médico Caetano Munhoz da Rocha, Valadares começa a se desenvolver, com a chegada das primeiras escolas, saneamento, serviços de saúde e de assistência social. Até então, os caboclos da ilha, como eram chamados, viviam do curandeirismo e das garrafadas com ervas para combater as doenças e o local era considerado um refúgio de poucas famílias, principalmente pescadores. Desse período em diante, começa o aumento gradativo de Valadares.

Com a população, vieram também as tradições da ilha – e do Litoral paranaense, como o fandango, o barreado, o artesanato e a farinha. Veio também o linguajar característico da região, que mistura palavras indígenas, antiquadas, muitos neologismos e uma boa dose de sotaque.

A passarela

Com a construção de uma passarela ligando o bairro a Paranaguá, na década de 1980, o crescimento da cidade dá um estouro, conta José Maria. "Aí a ilha vira uma esbórnia. Quem não tinha onde morar na periferia, que vinha das ilhas em volta da Baía, ia para o Valadares, principalmente gente de menos posses. Foi uma mistura de todos os povos", completa.

Em 1994 a passarela é alargada, possibilitando a entrada de ainda mais gente, bicicletas, motos e até carros. Hoje a passagem pela ponte é permitida apenas para veículos oficiais, os de moradores entram pela balsa. Os três bairros principais de Valadares, Vila Bela, Itiberê e Sete de Setembro, vão sendo subdivididos pelos próprios moradores, que precisavam se localizar mais facilmente na ilha que só seguia crescendo. Hoje já se perdeu as contas de quantas subdivisões existem.

Atualmente, Valadares é uma mistura de passado e presente. Algumas ruas são asfaltadas, outras ainda são de areia fina e branca. Há grandes mercados e pequenas mercearias, com frutas e verduras em caixotes. É possível ouvir, em ruas distantes, o som de pássaros e de hits como Bonde do Tigrão e Michel Teló. Mas o espírito da cidade-bairro, do caboclo, das lendas e folclores, felizmente, ainda persiste em alguns detalhes.

Veja mais algumas imagens da ilha:

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