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Indiara Barbosa, 37 anos, foi a vereadora mais votada nas eleições de 2020, em Curitiba.
Indiara Barbosa, 37 anos, foi a vereadora mais votada nas eleições de 2020, em Curitiba.| Foto: Divulgação/Novo

Alvo de piadas machistas pelo canal Porta dos Fundos, a vereadora mais votada de Curitiba, Indiara Barbosa, do Partido Novo, acredita em motivações políticas e ideológicas por trás da publicação de vídeo que insinua, falsamente, seu sucesso nas urnas a favores sexuais.

“Acredito que sim, pois a crítica foi muito forte em relação ao partido e às ideias que ele representa. Criticaram a sociedade curitibana e o meu partido. De certa forma, há, sim, viés ideológico”, disse ela à Gazeta do Povo.

A vereadora afirma que vê a paródia como liberdade de expressão e que não pretende entrar com medidas judiciais contra o canal, mas que espera uma retratação por parte do Porta dos Fundos.

Procurada por e-mail, a produtora respondeu que "o grupo Porta dos Fundos comunica que a personagem Yollanda, que aparece na esquete "Yollanda Vereadora" publicada no canal do Youtube do grupo no último domingo (dia 22) de fato não é a recém eleita vereadora Indiara Barbosa. Yollanda é uma criação de ficção e humor. Ela existe há 9 anos e, dentro do seu universo, explora a sua sexualidade livremente. O Porta dos Fundos acredita que o Brasil precisa de mais mulheres em cargos públicos". O vídeo foi retirado do ar na noite de segunda-feira (23).

A produtora, porém, não explicou as alusões do vídeo a Curitiba, ao Partido Novo e ao resultado das eleições municipais na cidade.

Leia a entrevista com a vereadora a seguir:

O vídeo que está sendo repercutido amplamente nas redes sociais não a cita diretamente, embora fale em "vereadora mais votada em Curitiba", do partido Novo. Por que as pessoas teriam associado o personagem ao seu nome?

Vi o vídeo pela primeira vez quando alguém me marcou no Instagram. De início, eu estava tentando entender o que era aquilo, e logo vi que não tinha nada a ver comigo, embora citassem "a vereadora mais votada da cidade". Achei estranho, mas entendi que era uma sátira e estavam tirando sarro dos curitibanos e do partido. Pensei: "é só uma piada".

Mas as pessoas começaram a perguntar, nos comentários, se era verdade que eu tinha vazado nudes. Alguns disseram que "na cidade deles também tinha ocorrido algo semelhante". São pessoas que não me conhecem, não sabem nada a respeito da minha história, e que começaram a pensar se essa história toda era verdade, aquilo mesmo.

Eu acredito muito na liberdade de expressão e encarei aquele como um vídeo de humor. Não tem como fugir. Mas comecei a me preocupar em ter que me explicar.

A senhora sofreu algum tipo de episódio semelhante durante sua campanha? Você já acompanhou situações dessa natureza dentro do partido ou observou outras mulheres?

Eu acredito que essa é uma discussão necessária, porque muitas mulheres sofrem assédio, machismo, preconceito. Mas, no partido, eu nunca passei por situação assim. Inclusive, muitas mulheres foram eleitas pelo Novo: 34% de mulheres no Brasil todo e nas capitais, 73%. Isso revela que estamos conseguindo mudar o quadro, e a participação da mulher é fundamental. Isso vai melhorar a oportunidade de igualdade e tratamento, nós estamos conseguindo demonstrar isso na prática. Por isso estamos sofrendo ataques.

Não fui eleita por nenhum desses motivos [citados no vídeo]. Sou auditora contábil, trabalhei por 13 anos em uma multinacional e abri mão da minha carreira para entrar na política. Não adianta só reclamar de políticas e não se envolver, não fazer nada.

Eu já sabia que entrar na política não seria fácil, pois é um ambiente pouco receptivo. Mas esse tipo de situação nos deixa ainda mais fortes, mais motivados a mudar, não se abater com isso e melhorar a política.

As mulheres que estão na política sofrem assédio quase todos os dias nas redes sociais. Isso é meio padrão. A partir do momento em que você começa a ter vários seguidores, começa a ter esse tipo de assédio mais brando nas redes. No partido, por outro lado, isso nunca ocorreu, em hipótese alguma. Não passamos por esse tipo de situação. Elegemos duas mulheres justamente porque o tratamento dentro do partido é igual para com todos.

Qual o seu posicionamento com relação ao vídeo do Porta dos Fundos? E se não tivessem envolvido seu nome nisso, qual seria o seu posicionamento?

Acredito na liberdade de expressão, as pessoas têm que ser livres. Mas há essa questão do machismo velado. Temos essa cultura de associar o sucesso da mulher a qualquer outro motivo que não a competência dela. Ainda vemos isso.

O canal [Porta dos Fundos] diz, em algumas situações, defender as mulheres, e um dos principais personagens, o Fábio Porchat, tem um post em sua página incentivando as pessoas a votar em candidatas mulheres. Mas eles não se atentam para o fato de que estão reproduzindo um comportamento prejudicial às mulheres.

É um canal seguido por milhões de pessoas que não me conhecem. Isso me preocupa, e foi por isso que me posicionei e muitos outros se manifestaram em minha defesa.

Existe, em sua perspectiva, motivação política e ideológica por trás do vídeo?

Acredito que sim, pois a crítica foi muito forte em relação ao partido e às ideias que ele representa. Criticaram a sociedade curitibana e o meu partido. De certa forma, há, sim, viés ideológico.

Eu não era conhecida, mas ter sido a candidata mais votada incomoda estruturas da política tradicional, de certa maneira. Tudo isso talvez tenha relação.

A senhora vê isso como liberdade de expressão? Vai entrar com alguma medida judicial?

Estamos avaliando. Embora fosse uma personagem, estavam citando muitas características que me aproximaram da situação. Esclarecer melhor as coisas talvez supra esse problema de tentar denegrir a minha imagem, prejudicar a minha reputação.

Liberdade de expressão é isso. Muitas pessoas saíram em minha defesa, não seria motivo para censurar o canal. Eles têm que estar abertos para escutar e entender a gravidade do que eles fizeram e, em seguida, se retratarem.

MADELEINE LACSKO: Vídeo do Porta dos Fundos não é machista porque não existe machismo na esquerda

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