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Dois vereadores de Sandovalina, a 603km de São Paulo, foram algemados e presos em flagrante. A prova da corrupção é um envelope com dinheiro vivo. Os políticos se dizem inocentes. "Não estou sabendo de nada."

Não é o que mostram as imagens obtidas com exclusividade pela reportagem do Fantástico. O prefeito da cidade, Divaldo Pereira de Oliveira, denunciou à polícia que vereadores vinham tentando extorquir dinheiro dele. A negociação passou a ser gravada. Segundo o prefeito, os dois políticos da oposição queriam propina para aprovar um projeto do Executivo para a liberação de quase R$ 1 milhão. O dinheiro, segundo o prefeito, seria usado para pagar salários atrasados e obras.

"Eles começaram a mandar recado que queriam negociar, queriam dinheiro", conta o prefeito.

Como está no segundo mandato, o prefeito não se candidatou este ano. Já os vereadores se reelegeram. O encontro para acertar o valor da propina foi a mais de 40 quilômetros de Sandovalina, em um restaurante na divisa de São Paulo com o Paraná.

"A primeira proposta seria de R$ 40 mil: R$ 20 mil para cada vereador", diz Oliveira.

A imagem não é nítida, mas dá pra ver que participam da conversa, além do prefeito e dos vereadores, mais três homens. Dois seriam empresários que não tiveram os nomes divulgados. O terceiro não foi identificado.

"Houve uma participação e isso que está sendo apurado agora. Teriam atuado como intermediários entre os vereadores e o prefeito", explica o delegado Luis Otavio Forti.

O vereador Alan Ferreira diz que precisa de dinheiro porque gastou muito na campanha eleitoral deste ano. "Eu gastei 50 paus. Gastei um monte para se eleger, para ainda ficar com um poderzinho na mão."

Ele define assim os políticos que fazem falcatruas. "O cara pode ser ladrão, mas se ele for um ladrão bom, você tem que tirar o chapéu para ele."

Os vereadores afirmam que se receberem o dinheiro o prefeito de Sandovalina pode ficar tranqüilo. "Vamos aprovar suas contas. Igual diz o outro, uma mão lava a outra."

O prefeito diz que não tem todo o dinheiro. Depois de uma hora de conversa, o valor da propina diminui para R$ 20 mil.

No dia seguinte, o prefeito recebe uma ligação de Alan Ferreira. O vereador tem pressa em receber o suborno.

Alan: "Sou eu, o Alan". Prefeito: "Oi, Alan". Alan: "O negócio fica pronto hoje?" Prefeito: "Está pronto, é só você falar. Já está até na mão. Não é fácil arrumar vintão, não, filho". Alan: "Você é doido. Não fala isso".

Depois desse telefonema, os vereadores assinaram um pedido de sessão extraordinária para que o projeto do prefeito fosse votado. Os dois acham que estão prestes a receber o dinheiro.

Ficou acertado que o pagamento seria no mesmo dia, em um posto de combustíveis, na Rodovia Assis Chateaubriand, a mais de 40 quilômetros de Sandovalina. Os vereadores acreditavam que ninguém iria desconfiar de nada. Só não sabiam que policiais já estavam espalhados, escondidos por toda a área.

Eles reafirmam que vão votar a favor do projeto. Mas, desconfiados, não querem pegar o dinheiro. "Pode deixar aí."

O motivo foi a descoberta de uma fita adesiva, que prendia um pequeno microfone na camisa do prefeito.

- Você está operado? - Por que? - Com a fita . - Com certeza. Eu tive problema. Estou fazendo infiltração no rim.

A desculpa não convence e os vereadores pedem que o dinheiro seja entregue em outro lugar. Logo na saída do posto, acontece a prisão.

Procurado pela reportagem do Fantástico, o advogado dos acusados não quis gravar entrevista, mas disse que já entrou na Justiça com um pedido de liberdade provisória.

Para o delegado que investiga o caso, mesmo que o dinheiro não tenha sido entregue, as imagens são provas suficientes para condenar os dois políticos. "Eles podem sofrer uma pena de prisão de dois a oito anos e perda do mandato eletivo."

Sandovalina tem nove vereadores e cerca de três mil habitantes. Fica no Pontal do Paranapanema, uma região conhecida pelos confrontos agrários. Um dos vereadores mora em um assentamento de sem-terra. Quem convive com ele está indignado.

"A gente vota para poder ver se melhora, e põe um corrupto no poder? Isso aí é revoltante demais", protesta um agricultor.

Sem a aprovação do projeto que libera verbas para o pagamento de funcionários, o prefeito Divaldo Pereira de Oliveira tomou uma decisão: "Estamos decretando estado de emergência, para, através de decreto, fazer esse remanejamento de verba e pagar todo mundo".

Assim que o mandato terminar, no mês que vem, o prefeito diz que vai abandonar a política: "Tenho medo só por causa de uma cisma perante a família. Fora isso, não tem problema nenhum. Eu acho que eu fiz o que a lei manda".

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