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Apesar de algumas resistências, policiais da unidade pacificadora e moradores hoje dividem o mesmo espaço com uma naturalidade nunca antes vista | Severino Silva/Ag. O Dia
Apesar de algumas resistências, policiais da unidade pacificadora e moradores hoje dividem o mesmo espaço com uma naturalidade nunca antes vista| Foto: Severino Silva/Ag. O Dia

Mesmo com a resistência da comunidade, está claro que a presença da polícia mudou as vidas para melhor na Cidade de Deus. Funcionários públicos prestando serviços hoje podem entrar mais livremente. A frequência nas escolas aumentou, com um ensino médio apresentando um crescimento de 90% nos índices de presença desde a chegada da polícia à comunidade. Caminhões de terra fazem a dragagem do rio sujo e estreito, e caminhões de lixo fazem a coleta três vezes por semana.

A polícia também realizou mais de 200 prisões desde que retomou a Cidade de Deus, e o crime caiu: seis homicídios no ano passado, frente a 34 em 2008. A maioria dos moradores está grata, embora alguns digam que algo intangível tenha sido perdido – um certo espírito de liberdade.

O capitão Jose Luiz de Medeiros, que lidera a unidade policial na Cidade de Deus, disse estar construindo uma força para o longo prazo, e trabalhando duro para conquistar a confiança dos residentes. Cerca de 12 policiais visitaram recentemente uma nova creche, girando chupetas com os dedos enquanto as crianças brincavam com seus comunicadores e se penduravam em suas pernas e coldres.

Alguns dos policiais foram liberados da patrulha para dar aulas de violão, piano e inglês. Da Silva, o instrutor de caratê, é um dos que hoje leciona em tempo integral. Leonardo Bento, 22 anos, que se inscreveu na aula depois da morte de seu irmão, conta ter pensado em se juntar aos traficantes para ter acesso a armas. Mas desde que conheceu o instrutor e policial Eduardo da Silva, mudou de ideia e hoje tenta ajudar outros moradores a vencer seu medo da polícia.

Da Silva afirmou entender a cautela das pessoas. "É impossível que eles esqueçam seu passado", disse ele. "Tudo que posso fazer é mostrar que eu estou aberto a eles". Para demonstrar seu argumento, ele vai para a Cidade de Deus desarmado e sem colete à prova de balas. "A força não cria paz", disse ele. "Ela pode inspirar respeito, mas não confiança."

Desafios

As favelas ocupadas pela polícia pacificadora no Rio de Janeiro raramente se renderam sem luta. Na Cidade de Deus pelo menos oito pessoas morreram em 2008, nas primeiras incursões da polícia. Essas batalhas devem se tornar mais frequentes à medida que a polícia atingir novas regiões. Até agora, foram instaladas 13 unidades pacificadoras, cobrindo 36 comunidades. Mas o secretário de Segu­rança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, pretende estabelecer unidades em 160 comunidades até 2014, inclusive em favelas como a Rocinha e Complexo do Afonso, que são maiores que Cidade de Deus.

Mesmo com violentos desafios à frente, muitos moradores do Rio torcem pelo programa. Milhões de dólares em doações, de empresas como a Coca-Cola e do bilionário Eike Batista, pagam por coisas como equipamentos policiais. Beltrame disse que seu principal objetivo era livrar as ruas das "armas de guerra", e não necessariamente acabar com o narcotráfico. Ele também está trabalhando para diminuir a corrupção policial, que contribui tanto para a violência quanto para a postura desconfiada dos moradores. Muitos dos policiais da paz são intencionalmente recrutados logo que saem da academia de polícia, antes que sejam seduzidos pela receptação de dinheiro do tráfico para complementar seus salários relativamente baixos.

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