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Durval Barbosa, delator do mensalão, em sua primeira aparição pública: “Quem tiver sua culpa que assuma, pois muita coisa vai acontecer” | Marcello Casal Jr./ABr
Durval Barbosa, delator do mensalão, em sua primeira aparição pública: “Quem tiver sua culpa que assuma, pois muita coisa vai acontecer”| Foto: Marcello Casal Jr./ABr

Procuradoria da república

"Silêncio" de Arruda é rebatido

Folhapress

Brasília - Um dia após o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) permanecer calado durante depoimento à Polícia Federal sobre o esquema de corrupção que é investigado em sua gestão, o Ministério Público Federal (MPF) desconstruiu as justificativas da defesa para que ele não falasse: a de que sua defesa não havia tido acesso a todos os documentos do inquérito que o investiga.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, na semana passada, os advogados de Arruda foram autorizados a ter acesso a todo inquérito, inclusive a parte sigilosa, que investiga Arruda, o ex-vice-governador Paulo Octávio (sem partido), assessores, deputados distritais e empresários.

A permissão teria sido assinada pela subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge. A estratégia da defesa para Arruda permanecer em silêncio chamou atenção porque os advogados reclamaram por diversas vezes de que Arruda tinha sido preso por determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça) sem que ao menos tivesse tido a chance de oferecer sua versão dos fatos.

"O Ministério Público sabe tudo. O delegado provavelmente também. E eu só vou permitir que o [ex-] governador se manifeste de forma plena na medida que eu tenha acesso irrestrito à apuração feita até agora. Está faltando tudo", afirmou o advogado de Arruda, Nélio Machado.

Brasília - O jornalista Edmilson Edson dos Santos, conhecido como "Som­­­bra", uma das principais testemunhas do esquema do mensalão do DEM, em Brasília, afirmou ontem que políticos e empresários do Distrito Federal continuam "achacando" pessoas ligadas à investigação – apesar de o ex-governador José Roberto Arruda estar preso.

A declaração foi dada aos jornalistas, após prestar depoimento à Polícia Federal, e pode comprometer a estratégia da defesa de Arruda de pedir sua soltura. O ex-governador solicita habeas corpus sob a alegação de que não pode mais obstruir as investigações por já estar fora do governo do DF.

Sombra disse ontem que contou à PF o que vem ocorrendo em Brasília. "Apenas levei a eles alguns fatos que estão acontecendo aqui fora", disse. "Se [pessoas envolvidas no caso] continuarem procurando dificultar o trabalho da Justiça e da polícia, fazendo rolo, e achacando empresários, acho que sim [que podem haver novas prisões, além da de Arruda]". Pergun­­­tado se a chantagem teria sido feita por políticos ou empresários, respondeu: "Ambos, na cara de pau".

Amigo de Durval Barbosa, delator do esquema de corrupção no DF, Sombra foi um dos pivôs do episódio da tentativa de suborno de testemunhas, que levou o ex-governador José Roberto Arruda à prisão, em 11 de fevereiro. O jornalista teria recebido uma proposta de pessoas ligadas a Arruda para desacreditar as acusações de Durval.

Aparição pública

Na primeira aparição pública desde a revelação do mensalão do DEM, Durval Barbosa, ex-se­­­cretário de Relações Institucio­­­nais do Distrito Federal no governo Arruda, mandou recados pa­­­ra os políticos e empresários de Brasília. Ao depor hoje à CPI da Corrupção, instalada na Câmara Legislativa do DF, afirmou que resolveu denunciar o esquema porque "não aguentava mais os achaques" do governador cassado e do ex-vice-governador Paulo Octávio, que renunciou ao cargo após o escândalo. Durval avisou, em tom de ameaça, a todos os envolvidos: "Se contrariei algum interesse específico, não tenho culpa. O rolo compressor vem aí, nem começou. Quem tiver sua culpa que assuma, pois muita coisa vai acontecer".

Durval ratificou os 40 depoimentos dados até agora à Polícia Federal e ao Ministério Público como réu colaborador do inquérito conduzido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas ele se recusou a responder às perguntas dos deputados. Logo após os recados iniciais, usou o direito de ficar em silêncio, assegurado por habeas corpus da Justiça e questionou a legitimidade da Câmara para comandar a CPI, uma vez que vários dos seus membros são acusados de recebimento de propina. "Só presto depoimento para entidades sérias e nas quais confio", afirmou.

Com essa postura de Durval, a sessão da CPI durou apenas 35 minutos. Sob flashes intensos, ele entrou no ambiente com pose de herói anticorrupção, penteado com gel e trajando blazer escuro sobre camisa branca. Diante da insistência do deputado Batista das Cooperativas (PRP), Durval disse, irritado, que seria mais útil interrogar os envolvidos no esquema. "A sociedade está ansiosa para ouvir o ex-governador Arruda, o Paulo Octávio, seus assessores, os secretários e os deputados envolvidos darem suas explicações", afirmou.

A sessão foi realizada num au­­­ditório do Instituto Nacional de Criminalística, da PF, sob forte esquema de se­­­gurança porque Durval está sob proteção policial. Suas delações levaram à deflagração da Operação Caixa de Pandora, em 27 de no­­­vembro passado. Ele anexou ao inquérito 30 vídeos com cenas de corrupção explícita em que Arru­­­da, deputados e secretários do go­­­verno aparecem guardando maços de dinheiro nos bolsos, em pastas e até nas meias e cuecas.

Em 11 de fevereiro, Arruda foi preso, com mais cinco pessoas, acusados de obstrução da Justiça e tentativa de suborno ao jornalista Edson dos Santos, o Sombra.

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