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Polêmica

AL cobra retratação de Requião

Declaração do governador, relacionando casos de câncer de mama em homens com a participação em paradas gays, foi amplamente desaprovada

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Deputados estaduais da oposição e da própria base aliada do governo exigem que o governador Roberto Requião (PMDB) faça uma retratação pública sobre as declarações feitas na escolinha na última terça-feira. Ao vivo pela TV Educativa, emissora oficial do governo, Requião disse que o câncer de mama em homens "deve ser consequência de passeatas gay".

Parlamentares e representantes de movimentos homossexuais repudiaram o comentário, feito quando o governador convidou o secretário de Saúde do Paraná, Gilberto Martin, para falar sobre o controle da doença na reunião semanal do secretariado.

Requião declarou que a ação do governo não é só em defesa do interesse público, mas também da saúde da mulher. "Embora hoje câncer de mama seja uma doença masculina também, né? Deve ser consequência dessas passeatas gay (sic)", afirmou.

A "piada" teve repercussão na­­­­cional e tomou conta da sessão de ontem da Assembleia Legisla­­­­tiva (AL). Os deputados cobraram do governador um pedido de desculpas oficial porque a declaração pode estimular a homofobia. "Uma frase infeliz como essa não combina com quem defende a vida e afasta as pessoas do tratamento médico porque estimula o preconceito", disse o deputado José Lemos (PT). "Estamos clamando para que a escola de governo seja aberta para fazer o esclarecimento de que o câncer de mama afeta qualquer pessoa independentemente da orientação sexual", completou.

O líder da bancada do PT, Péricles de Mello, defendeu que a "outra parte que não gostou da piada reaja para evoluirmos numa sociedade mais justa e humana".

O deputado Antonio Belinati (PP) também fez discurso alertando que a postura do governador tende a aumentar a violência homofóbica e o preconceito, inclusive contra aqueles que sofrem de câncer.

Representantes do Grupo Dignidade e da Associação Parana­­­ense da Parada da Diversidade (APPAD) foram ontem à Assem­­­bleia Legislativa pedir aos deputados que pressionem o governador a abrir espaço para direito de resposta na escolinha da próxima terça-feira. "O comentário que o go­­­vernador fez só reforça a discriminação e a violência", diz Márcio Marins.

Para o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, a fala do governador foi infeliz. "Podemos dizer que o governador tem um senso de humor diferente, mas, dessa vez, acredito que ele tenha passado dos limites. Não foi um comentário educativo nem de bom tom", afirmou. "Ele já respondeu à nossa solicitação e espero que possamos desfazer esse mal-entendido. Afinal de contas, o governo do Paraná é um dos nossos maiores aliados e o governador já demonstrou diversas vezes que tem compromisso com os direitos humanos", completou.

A Câmara de Curitiba também reagiu ao governador. A vereadora Renata Bueno (PPS), que integra a Comissão de Direitos Humanos, vai protocolar hoje uma moção de repúdio protestando contra " atitudes preconceituosas e sem qualquer responsabilidade".

O líder do governo, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), tentou minimizar as críticas com o argumento de que o governo adota políticas públicas para todos, respeitando a opção sexual de cada um, mas reconheceu que foi uma "brincadeira de mau gosto".

Preconceito

Não é a primeira vez que o go­­vernador Ro­­­berto Re­­­quião faz um comentário preconceituoso sobre cuidados com a saúde em rede nacional. Em setembro deste ano, após representantes da Associação Latino-Americana de Uro-Oncologia divulgarem a realização da Semana de Saúde do Homem, o governador perguntou se haveria toque retal gratuito durante o evento.

O secretário de Saúde, Gilberto Martin, condenou a fala do governador, pedindo que fossem evitados esses tipos de comentários, pois não colaboravam para conscientizar os homens da importância do exame.

Defesa do governador

O governador declarou ontem, em nota enviada ao site G1, que está sendo "impiedosamente criticado" pelas declarações relacionando câncer de mama às paradas gays. "O tom lúdico que usei no lançamento da campanha de prevenção do câncer de mama, entre mulheres e homens, acabou provocando uma onda de recriminações. Quando me referi às paradas da diversidade, ocorriam-me os riscos que o abuso de hormônios femininos, com fins terapêuticos ou estéticos, representam para a saúde. Entre os riscos, o câncer de mama."

O governador se justificou afirmando que sempre respeitou opções e escolhas, como cidadão ou governante, numa "insistente luta em favor da liberdade e das minorias, cuja defesa é a essência do processo democrático".

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