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Operação foi exaltada em manifestações de rua que pediam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff | Henry Milleo/Gazeta do Povo/Arquivo
Operação foi exaltada em manifestações de rua que pediam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo/Arquivo

No começo passava quase despercebida como ‘só mais uma’ operação da Polícia Federal para combate à lavagem de dinheiro e tráfico internacional de drogas. Prestes a chegar aos três anos de duração no dia 17 de março, a Lava Jato cresceu a ponto de se transformar na maior operação de combate à corrupção do país, assombrando pelo menos dois governos e podendo ditar o futuro das eleições de 2018.

De 2014 para cá, a lista de políticos envolvidos no escândalo de corrupção na Petrobras não para de aumentar. Nessa semana, o procurador-geral da República Rodrigo Janot entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de abertura de 83 novos inquéritos envolvendo autoridades com prerrogativa de foro. Ele também pediu o levantamento do sigilo dos depoimentos de colaboração premiada de executivos da Odebrecht – o que promete dar início ao “fim do mundo” em Brasília.

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A Odebrecht, inclusive, representou um ponto de virada nas investigações, na avaliação da força-tarefa que atua em Curitiba – berço da operação. “Um ponto de virada importante foi o Setor de Operações Estruturadas. Porque era a Odebrecht, uma empreiteira que era muito sonora em relação à Lava Jato, de não admitir de forma alguma algum ilícito, de ser bastante irredutível”, explica a delegada da Polícia Federal Renata Rodrigues. “De uma hora para outra a gente conseguiu, em uma investigação, simplesmente desmontar a estrutura deles de pagamento de propina, e que a gente está vendo agora que é um monstro”, completa.

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O monstro deve atingir Brasília em cheio e colocar em maus lençóis o segundo governo em um ano. Diversos parlamentares da base governista e ministros do presidente Michel Temer (PMDB) estão no centro das acusações. Na lista de inquéritos apresentada por Janot ao STF há pelo menos seis ministros: Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral), Bruno Araújo (Cidades), Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Comunicações e Inovação) e Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e Serviços). A lista engloba também os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM) e Eunício Oliveira (PMDB), respectivamente, e outros senadores da base do governo: os peemedebistas Romero Jucá, Renan Calheiros e Edison Lobão e os tucanos José Serra e Aécio Neves.

O próprio presidente, inclusive, pode perder o mandato em uma ação que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investiga irregularidades na campanha de 2014. Informações colhidas na Lava Jato têm sido compartilhadas com o TSE e podem ser o pano de fundo para a queda de Temer.

Segundo presidente

Temer poderá ser o segundo presidente do país a cair por influência da Lava Jato. No ano passado, o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) também teve a operação como pano de fundo.

A situação do governo Dilma começou a ficar mais complicada quando, prestes a completar seu segundo aniversário, a Lava Jato deu um passo arriscado em direção ao ex-presidente Lula, que foi levado coercitivamente a depor no início de março do ano passado. As investigações contra ele acabaram resultando em um movimento arriscado do ex-presidente e a um contra-ataque ainda mais arriscado por parte da Lava Jato.

Em março, depois da condução coercitiva, Lula tentou assumir o cargo de ministro da Casa Civil de Dilma, cargo que lhe garantiria prerrogativa de foro e tiraria as investigações das mãos do juiz Sergio Moro, levando tudo ao STF.

A estratégia não deu certo. Um dia antes da posse, Moro levantou o sigilo de interceptações telefônicas do ex-presidente, mostrando ao Brasil o que foi interpretado como tentativa de obstrução de Justiça – o famoso áudio em que Dilma dizia que ia mandar o “Bessias” com o termo de posse para que Lula usasse em caso de “necessidade”. O ex-presidente não pôde virar ministro e Dilma acabou sofrendo o impeachment depois de uma votação na Câmara e no Senado em que os parlamentares afirmavam votar pela cassação por serem “contra a corrupção”.

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Primeira lista

Já em 2015, quando a Lava Jato completou um ano desde a deflagração, estava claro que não era mais ‘apenas’ uma operação contra lavagem de dinheiro. Nessa altura a operação já havia colocado na cadeia ex-diretores da Petrobras e diversos executivos das maiores empreiteiras do país – fato até então inédito no Brasil. No mesmo mês do aniversário da Lava Jato, Janot entregou ao STF a primeira lista com cerca de 50 políticos com prerrogativa de foro que deveriam ser investigados na Corte.

Futuro

Apesar de a cada ano a Lava Jato parecer chegar no seu ápice, a expectativa é que ela não pare onde está e não termine tão cedo. “Na minha avaliação, não chegou nem a 30% ainda”, avalia o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Testa. “Temos que ver a força das instituições, se alei vai valer ou não”, completa.

“A gente tem consciência que a gente tem um volume de informação muito grande que ainda vai dar ensejo a novas linhas, novas interpretações dos fatos”, diz Renata Rodrigues.

A expectativa, porém, não é das melhores. “Às vezes a gente acha que não pode piorar, ou que o nível de comprometimento dos agentes públicos e políticos não pode ser maior, e então a gente entra numa fase nova e desbarata todo um novo núcleo. A cada flanco que se abre nada mais nos surpreende nesse sentido de as coisas serem mais graves”, diz a delegada.

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