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| Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O depoimento de Claudio Melo Filho é a mais impressionante descrição de que se tem notícia do enorme balcão de negócios chamado Congresso Nacional. Uma antologia da corrupção. Em 82 páginas, o diretor de Relações Institucionais da Odebrecht – lobista, em bom português – conta sem meias palavras como literalmente comprava projetos de interesse da empresa para qual trabalhava.

Melo Filho relata que “sabia que o apoio legislativo oferecido pelos agentes políticos às empresas se dava, na prática, ao menos em troca de contribuições em períodos eleitorais, quando não em troca de contrapartidas financeiras mais imediatas”. Diz que, num determinado momento, percebeu que deveria passar a “trabalhar” com uma elite parlamentar, dispensando políticos com menor poder de influência. Um grupo que, segundo ele, “teria melhores condições de gerar resultados positivos para a minha empresa”.

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O delator faz uma descrição do toma-lá-dá-cá para ser lembrada por muitos anos. Não poderia ser mais eloquente: “A minha empresa tem interesse na permanência desses parlamentares no Congresso e na preservação da relação, uma vez que historicamente apoiam projetos de nosso interesse e possuem capacidade de influenciar os demais agentes políticos. O propósito da empresa, assim, era manter uma relação frequente de concessões financeiras e pedidos de apoio com esses políticos, em típica situação de privatização indevida de agentes políticos em favor de interesses empresariais nem sempre republicanos”.

O executivo lista 54 “políticos estratégicos” para sua atividade. E impressiona mais uma vez ao relatar a organização de determinados grupos. Segundo seu depoimento, por exemplo, Michel Temer e Renan Calheiros eram líderes do PMDB na Câmara e no Senado, respectivamente. O primeiro tinha como prepostos Eliseu Padilha e Moreira Franco. O segundo, Romero Jucá. Todos protagonistas do atual governo.

Muito ainda se escreverá sobre o diário de Claudio Melo Filho. E a ele ainda se somarão os relatos de outros 76 executivos da maior empreiteira do país, entre eles Marcelo Odebrecht. Ainda é cedo para medir seus efeitos. Existe um risco de que, de tão abrangente, acabe diluído. Diante de tamanho poder de fogo, não há dúvida: a estratégia dos abatidos será zerar o jogo.

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