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Protesto contra Dilma no dia 12 de abril. | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Protesto contra Dilma no dia 12 de abril.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Tal como em outras manifestações realizadas este ano contra o governo, surgem nas redes sociais, a poucos dias da marcha marcada para o dia 16 de agosto, os já conhecidos eventos e convocações com milhares de confirmações. No entanto, de acordo com analistas das redes sociais ouvidos pelo Globo, a mobilização deste evento, comparado às outras marchas –de 15 de março e 12 de abril – têm uma movimentação aquém, ao menos pelo Facebook, Twitter e Instagram.

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Este é o resultado da pesquisa de Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo. Especialista na análise de mídias digitais, Malini estuda as manifestações no país desde 2013 e compõe um grupo que apresentará parte de suas conclusões, objeto de um livro sobre análise de redes no país, na Associação de Estudos da América Latina (LASA), em Nova York, no ano que vem.

O especialista explica que a adesão no Rio de Janeiro e Belo Horizonte está muito baixa. Outras capitais, como São Paulo, Goiânia, Porto Alegre, Recife e Curitiba mantêm a mobilização alta, mas em menor quantidade.

“Ao visitar o Facebook e digitar palavras-chave como “Mega Manifestação”, encontramos centenas de grupos. Na minha última contagem, foram encontrados 770 eventos somente com o tema “impeachment”. No entanto, há casos curiosos como, por exemplo, cerca de 30 grupos serem administrados por um mesmo perfil”, explica Malini, que complementa. “No geral, o movimento nas redes desta vez não está tão forte como das outras.”

Malini também pondera que a redução da movimentação nas redes pode ser explicada pela concentração de páginas criadas por poucos grupos, como Revoltados em On Line e Movimento Brasil Livre. Segundo ele, a lógica desses grupos, mais massiva, é uma tendência mundial:

“Na Espanha, com o movimento dos indignados, a composição de rede se assemelha muito à nossa, não só na pauta, mas na estrutura de comunicação: são poucos grupos tentando alimentar muitos seguidores. É uma forma também de conquistar mais seguidores, mas não sei até que ponto eles são capazes de captar mais gente.”

Encontrar um mesmo perfil administrando inúmeras páginas pode ser explicado pela existência dos bots. O termo, diminutivo de robot (robô), refere-se a um software desenvolvido para simular ações humanas. Nas redes, os bots evoluíram para os chamados socialbots, que seriam contas automatizadas com a função de imitar usuários reais. Professor de ciência da computação especializado no estudo de bots nas mídias sociais, Fabrício Benevenuto explica a criação da ferramenta é fácil e produz um volume grande de mensagens automáticas.

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“Os bots são contas falsas que se passam facilmente por humanos e geram essa impressão de que “todo mundo” nas redes sociais tem uma certa opinião”, conta.

Benevenuto e outros especialistas chegaram a provar a eficiência de bots num estudo prático, criando 120 bots com características diferentes – sexo, idade, opinião, etc – para interagir com usuários do Twitter por 90 dias, conquistando milhares de seguidores. No mesmo artigo, ele e outros analistas afirmam que 61,5% do tráfego da internet no mundo é gerado por programas automatizados. Os casos de inserção de robôs nas redes é tão forte que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos investe em softwares que podem determinar se uma conta no Twitter é administrada por um robô.

No Brasil, Fábio Malini diz que esses sistemas de algorítimos estão cada vez mais desenvolvidos, o que torna mais difícil diferenciá-lo de um usuário real. Ele frisa que os bots começaram a crescer no país nas eleições de 2014. Para ele, o uso mais comum são os bots vivos, em que pessoas administram dezenas de páginas e/ou contas ao mesmo tempo. Só é possível rastreá-los a partir de um cálculo do volume de posts versus a velocidade em que são postados:

“É humanamente impossível escrever cinco posts em um minuto.”

Ativista político responsável pela coordenação da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010, Marcelo Branco participa desde 2011 de um grupo internacional de análise dos movimentos sociais e a influência deles na web pelo mundo. Para ele, não dá para mensurar a repercussão nas redes dos movimentos de junho de 2013 com os de 2015 e; em comparação às marchas de março e abril, este parece ser o menos mobilizado, ao menos nas redes. Entretanto, a baixa movimentação na internet não significa necessariamente menos pessoas nas ruas.

“Os novos movimentos são horizontais, com lideranças compartilhadas, e que por isso mesmo não têm um representante para falar por todos. São indivíduos que se conectam na rede e com uma identidade coletiva. Essa realidade cresce nas redes até viralizar. Não percebo isso nos movimentos de 2015. Nas ruas, eles são obviamente fortes. Nas redes, não.”

O ativista faz questão de distinguir as manifestações de 2013 e 2015. Segundo ele, as marchas deste ano expressam uma nova direita. Em comum com 2013, eles também questionam a representatividade dos meios democráticos.

“Parte dos novos manifestantes desconfia dos meios de comunicação, não acredita em instituições democráticas. Muitos se propõem a apoiar o golpe militar, uma visão anti-sistema, com ideologia militar e do Estado mínimo, muito diferente das manifestações de 2013, a favor de mais democracia. Há uma tendência que cada vez mais questiona a democracia como ela é conduzida, uma tendência com o objetivo de empoderar esse cidadão para que ele possa construir políticas públicas, através de novas ferramentas. Mas esse público não encontra voz nesses movimentos clássicos. “

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