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André Esteves, um dos homens mais ricos do Brasil, foi preso na Operação Lava Jato | NACHO DOCE/REUTERS
André Esteves, um dos homens mais ricos do Brasil, foi preso na Operação Lava Jato| Foto: NACHO DOCE/REUTERS

É marcada por ambição e agressividade notáveis a trajetória que levou André Esteves de uma vida de classe média na Tijuca, Zona Norte do Rio, ao posto de um dos homem mais ricos do Brasil. O sócio do BTG Pactual, maior banco de investimento da América Latina, e dono de uma fortuna de US$ 2,7 bilhões segundo a Bloomberg, foi preso nesta quarta-feira (24) no âmbito da operação Lava Jato.

Esteves nasceu no Rio em 1968. Foi durante a faculdade de matemática na UFRJ que entrou no meio financeiro. O estudante começou de baixo, trabalhando como técnico de informática do banco Pactual, de Luiz Cezar Fernandes — que, anos depois, teria o pupilo como desafeto. O estudante chamou a atenção dos chefes e foi promovido a trader de renda fixa do banco em 1990, mesmo ano em que se formou. Pouco depois, ascenderia à chefia do novo braço de gestão de recursos da instituição. Para os sócios mais antigos do Pactual, Esteves e outros dois jovens talentos — Marcelo Serfaty e Gilberto Sayão — eram conhecidos como “os meninos do Cezar”

Com os negócios que tocava dando certo, Esteves usou seus bônus de desempenho para aumentar gradativamente sua participação do banco. Enquanto isso, seu mentor Luiz Cezar Fernandes se afundava em apuros por causa de dívidas acumuladas em tentativas frustradas de diversificar seus negócios na área industrial. Na fragilidade de Fernandes, Esteves viu uma oportunidade de tomar o controle do Pactual. Em 1998, juntamente com outros sócios, adquiriu a participação de Fernandes em troca de empréstimos e de sua saída do banco.

“O Esteves havia sido dinâmico e atuante, mas sempre tive consciência de que ele venderia a mãe para ter o poder”, disse Fernandes à revista “Piauí” em 2006, no perfil “De elefante a formiga”, sobre sua derrocada no mercado financeiro.

Banqueiro tinha bom trânsito com políticos de vários partidos

Conhecido por ter bom trânsito no governo e com políticos de vários partidos, André Esteves é um dos banqueiros mais influentes do Brasil. O executivo esteve à frente de negócios importantes entre o BTG Pactual e o governo, principalmente durante a gestão Lula e no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

Ele surpreendeu o mercado no início de 2011 ao comprar do empresário Silvio Santos o banco PanAmericano, então sob intervenção do Banco Central, tornando-se sócio da Caixa Econômica Federal no negócio.

O banqueiro se comprometeu a pagar R$ 450 milhões pelo banco, que tinha um rombo de R$ 4 bilhões e não quebrou graças a empréstimos do Fundo Garantidor de Créditos.

A compra marcou a entrada do BTG Pactual no varejo bancário brasileiro. Até então, a atuação do banco era restrita às áreas de atacado (grandes empresas) e investimento.

Em um outro negócio recente com o governo, o BTG comprou, em junho de 2013, 50% das operações da Petrobras Oil & Gas na África por US$ 1,5 bilhão. A empresa recebeu o nome fantasia de PetroÁfrica e atua na exploração de petróleo e gás em países africanos.

Venda para o UBS e o ‘retorno triunfal’

Com Fernandes neutralizado, Esteves e seus sócios transformaram o Pactual em uma potência do segmento bancário de investimentos. Tanto que chamou a atenção do gigante suíço UBS, que acabou comprando o banco carioca por US$ 2,6 bilhões, um dos maiores negócios já feitos no país à época. A turma de Esteves seguiu à frente do agora chamado UBS Pactual.

Dois anos depois, enquanto levava banqueiros à bancarrota pelo mundo, a crise financeira se insinuou como mais uma oportunidade para Esteves. Vendo o UBS enfrentando perdas com o colapso das hipotecas americanas, o executivo teria se aliando a outro bilionário carioca, Jorge Paulo Lemann, em uma tentativa de comprar uma fatia da instituição suíça. Sem sucesso.

Em julho daquele ano, Esteves e um grupo de sócios deixaram o UBS Pactual e estabeleceram uma nova firma de investimentos, a BTG. A sigla é de Banking and Trading Group, mas o que se comenta no mercado é que a intenção mesmo é significar “better than Goldman” (melhor que o Goldman Sachs) — detalhe que daria dimensão às ambições superlativas de Esteves para a nova empreitada.

Mas ele não havia desistido do UBS. Em 2009, fez nova investida, dessa vez oferecendo US$ 2,5 bilhões para ter seu banco de volta. Os suíços aceitaram. O retorno de Esteves como dono do banco — agora BTG Pactual — em que começara como técnico de informática foi considerado triunfal.

Maior banco de investimento da América Latina

A intenção de Esteves era ser não só um grande banco de investimento no Brasil, mas também global. Para concretizar esse desejo, começou a expansão pela América Latina, com presença no Chile, Peru, Colômbia e México, mas o BTG também tem escritórios nos Estados Unidos, Inglaterra, China e, neste ano, concluiu a compra do BSI, empresa especializada em gestão de fortunas na Suíça.

Nos anos seguintes, o BTG Pactual se firmaria mesmo como o maior banco de investimento independente da América Latina. Em 2012, levantaria US$ 2 bilhões ao abrir seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Hoje, pelo ranking do Banco Central, o BTG é o oitavo maior banco do país, com ativos totais de R$ 154,6 bilhões (posição de dezembro de 2014).

Outra característica do BTG nas mãos de Esteves é a atuação como “merchant bank”, que é quando uma instituição financeira faz um investimento em uma empresa como sócia – em geral, os bancos apenas financiam as operações. Foi dessa forma que o BTG passou a ser acionista da Sete Brasil (sondas), da Brazil Pharma (que tem, entre outras, as redes Farmais e Drogaria Rosário), da Rede D’Or (hospitais), Estapar (estacionamentos), Estre Ambiental, DVBR (rede de postos de combustíveis que conseguiu usar a bandeira da BR Distribuidora).

Maus negócios, de Eike à Sete Brasil

Grande parte desses negócios foi fechada na sede do banco, em São Paulo. O banqueiro não possui uma sala e trabalha ao lado de outros funcionários, em um grande salão que ocupa quase um dos andares inteiros que o banco ocupa no Pátio Victor Malzoni, edifício grandioso na Faria Lima, atual centro financeiro paulista.

Mas é também suas participações que tem causado dor de cabeça para Esteves. O BTG colocou R$ 1 bilhão na Sete Brasil, por exemplo, mas a empresa foi engolida pela Lava-Jato, a empresa necessita desesperadamente de aportes e seus contratos para entrega de sondas à Petrobras estão sob constante ameaça.

Não é a primeira vez, porém, que Esteves se envolve em maus negócios. Em 2013, fechou parceria com Eike Batista para cooperarem na formulação de estratégia de investimentos. A dificuldade de encontrar saídas para o império “X” fez azedar a relação e teve impacto negativo nas ações do BTG na Bolsa. Quando a Eneva (ex-MPX de Eike) pediu recuperação judicial, no fim de 2014, o BTG tinha R$ 860 milhões de créditos a receber.

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