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Henrique Pizzolato construiu sua carreira política em Toledo, no Oeste do Paraná | Ag. Senado
Henrique Pizzolato construiu sua carreira política em Toledo, no Oeste do Paraná| Foto: Ag. Senado

Brasil vai recorrer da decisão da Justiça italiana

O Brasil vai recorrer da decisão da Justiça italiana desta terça-feira que negou pedido de extradição do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. Ele foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção, peculato e lavagem de dinheiro no processo do mensalão, mas fugiu do Brasil em 2013. Em fevereiro deste ano, foi localizado pela Interpol em Modena (Itália), onde está detido. Depois da prisão, o MPF apresentou o pedido de extradição à Itália.

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Decisão pode ser uma resposta ao caso Battisti

Agência O Globo

A decisão da Justiça italiana de não extraditar o ex- diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolatto pode ter sido uma resposta a outra decisão parecida feita pelo governo brasileiro no caso do ex-ativista Cesare Battisti. Integrante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, Battisti é considerado culpado pelo assassinato de quatro pessoas (um militante, um carcereiro, um policial e um joalheiro) e foi condenado à prisão perpétua pela Justiça da Itália, em 1988.

Em 2004, ele fugiu para o Brasil. Em 2007, ele teve a prisão preventiva decretada e foi transferido, do Rio, onde morava, para a Penitenciária da Papuda, em Brasília. Ele teve, então, reconhecida a condição de refugiado político pelo Ministério da Justiça brasileiro. Em 2010, o STF aprovou o parecer do relator, Gilmar Mendes, favorável à extradição de Battisti, mas com recomendação para que a decisão final fosse dada pelo presidente da República, o que ocorreu sete meses depois: no último dia de 2010, Lula seguiu parecer da Advocacia Geral da União (AGU), negando a extradição, alegando que isto agravaria a situtação do italiano.

Em 2011, a defesa pediu que o ex-ativista fosse solto. E o governo italiano contestou a decisão, apelando por uma revisão da presidente Dilma Rousseff. Em junho do mesmo ano, o STF rejeitou o pedido de extradição de Battisti, por 6 votos a 3, e decidiu por sua libertação. Logo em seguida, ele deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília, onde estava desde 2007.

Ele permanece no país, onde se tornou escritor. O caso gerou rusgas diplomáticas entre os dois países. A Itália insistiu, durante grande parte do tempo, que Battisti tinha que cumprir pena em seu país, onde fora condenado.

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O foragido que queria governar o Paraná

Henrique Pizzolato, condenado no mensalão disputou o governo do estado em 1990. Ficou em quarto lugar criticando os corruptos.

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O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no processo do mensalão, afirmou nesta terça-feira (28) que fugiu do Brasil para salvar sua vida e que não sabia que a presidente Dilma Rousseff, sua companheira de partido, havia sido reeleita. Ele deu entrevista de dez minutos a jornalistas brasileiros e italianos em Modena, em torno das 20h30 do horário local, logo depois de ser solto pela Justiça italiana, que negou o pedido de extradição do petista que havia sido encaminhado pelo Estado brasileiro.

Relembre como foi a fuga de Henrique Pizzolato para a Itália

Questionado sobre o resultado da fuga e se havia valido a pena deixar o Brasil, disse: "Eu não fugi, eu salvei minha vida. Você acha que salvar a vida não vale a pena?"Pizzolato não disse claramente se sentia ameaçado no Brasil, apenas respondeu aos jornalistas com uma pergunta. "O que você acha?", disse. "Ninguém me ameaçou. Eu não preciso de ameaça. Eu sei ler as coisas", afirmou.

O petista também afirmou que não pediu apoio ao PT ao longo do processo do mensalão e que não sabia da reeleição da presidente Dilma. Ao falar sobre o seu envolvimento no caso do mensalão e condenação pelo STF, disse não sentir rancor, apenas "pena e indiferença". "Eu tenho é pena das pessoas que fizeram isso. Das pessoas que agem com prepotência. Que tem soberba."

Quando os jornalistas pediram que citasse alguém que agiu com soberba, afirmou: "Se você adivinhar um, ganha um fusca".Questionado sobre o que faria primeiro após se solto, disse que esperaria sua mulher, para abraçá-la, e que queria "apenas dormir".

O petista deixou a prisão com a mulher e não revelou o destino, apenas afirmou que não iria para longe. Alternando suas respostas entre o português e o italiano, o ex-diretor do BB também disse estar com a consciência "limpíssima" e que não perdeu "uma noite de sono".

Afirmou ainda que considera a Justiça italiana muito melhor do que a brasileira, porque no país europeu "os juízes não se deixam conduzir pela imprensa e pela TV"."Aqui os juízes seguem as leis, seguem as provas. Não fazem como no Brasil, que escondem os documentos para condenar os inocentes", afirmou.

Leia a entrevista, conduzida por jornalistas brasileiros e italianos:

Jornalistas (em italiano) - Fala italiano? O que o sr. acha da Justiça italiana?Henrique Pizzolato - Muito melhor que a brasileira.

Por quê?Por quê aqui [na Itália] os juízes não se deixam conduzir pela imprensa, não se deixam conduzir e pela TV. Aqui os juízes seguem as leis, seguem as provas. Não fazem como no Brasil, que escondem os documentos para condenar os inocentes.

Agora aonde vai?Agora espero a minha mulher. Vou para os braços da minha mulher.

Jornalistas (em português) - Por que o senhor acha que aconteceu isso com o sr, se o senhor disse que se sente injustiçado?Não faço ideia, pergunte a Deus.

O sr. se sente abandonado por alguém? Seu sogro acusou a presidente Dilma de não ter feito nada para lhe ajudar. O que o senhor tem a dizer?Nada. O meu sogro fala por ele, é maior de idade.

O sr. recebeu apoio do PT?Eu não pedi apoio ao PT.

O sr. ficou feliz com a reeleição da presidente Dilma?Eu nem sabia.

Foi a eleição mais apertada da história.Bom saber. Obrigado pela novidade.

Valeu a pena fugir?Eu não fugi, eu salvei minha vida. Você acha que salvar a vida não vale a pena?

O sr. estava sendo ameaçado?O que você acha?

O senhor estava sendo ameaçado de morte então?Não sei, pergunte aos brasileiros, o que eles fizeram.

A quem o senhor recomenda que a gente pergunte isso?Aos 210 milhões de brasileiros.

Quem que ameaçou o senhor?Ninguém me ameaçou. Eu não preciso de ameaça. Eu sei ler as coisas.

O senhor tem rancor de alguém?Não. Por que eu deveria ter rancor? Eu tenho é indiferença. O rancor não leva nada a ninguém. Rancor para que? para ficar doente, para eu ficar mal? Eu tenho é pena das pessoas que fizeram isso. Das pessoas que agem com prepotência. que tem soberba. Quanto a essas pessoas, eu tenho pena e sou indiferente.

Quem agiu com soberba?Se você adivinhar um, ganha um fusca.

Quanto ao Marcos Valério. o senhor acha também que ele foi injustiçado?Não sei, eu não sou advogado dele, eu não respondo por ele, nada. Eu fiz meu trabalho no banco [do Brasil] e o banco não encontrou nenhum erro no meu trabalho. O banco sempre disse que não sumiu um centavo. Não é um banco pequeno, e o maior banco da América Latina. É um banco que tem nove sistema de controle. Na minha diretoria, tinha complyance, tinha uma diretoria de controle, tinha auditoria interna, auditoria externa, tinha conselho fiscal, tinha conselho de administração, tinha comissão de valores mobiliários, tinha tribunal de contas da união, tinha assembleia de acionistas, e como o banco tem ações em Nova York, tinha que prestar contas inclusive ao sistema americano. Ninguém encontrou um centavo que tivesse desviado em dez anos. o que que vocês acham?

O que o senhor pretende fazer a partir de agora?Agora, eu pretendo, dormir.

Jornalistas (em italiano) - Vai para Maranello?Tem tantos lugares, a Itália é lindíssima. Se querem saber o que vou fazer, No próximo mês, se cumprirão 100 anos da morte do irmão do meu avô. Meu avô sempre quis voltar ao lugar onde sua família sofreu muito, no norte do Vêneto. Eu lhe prometi ir lá. Tenho três coisas a fazer: pagar o compromisso do meu avô; depois talvez andarei ao [santuário] de padre Pio [na cidade italiana de San Giovanni Rotondo, no sul da Itália], porque Deus me deu uma sorte muito grande: uma mulher que é eu não sei é um anjo ou uma santa, que me ajudou a vida inteira. Rezarei um pouco por toda essa gente que acha que pode resolver as coisas com raiva, injustiça.

Sua consciência está limpa?Sim, limpíssima, não perdi uma noite de sono pela minha consciência.

E o passaporte no nome do seu irmão?Não sei, isso não compete a mim, pergunta às autoridades.

O sr. acha que valeu a pena ter vindo pra cá, por que alguns já estão saindo da prisão?Não sei, cada um toma a decisão conforme a sua cabeça. Eu agradeço a Deus por estar sempre comigo, por ter me dado a luz, a paz, sou feliz.

Como foram esses meses na prisão?Eu não estava na prisão.

O que acha que é então o Carcere Santana?Melhor que estar no Brasil por oito anos sem poder sair de casa, ser agredido na rua.

Melhor a cadeia aqui em Modena?Muito melhor a cadeia aqui em Modena. Aqui não tem o problema de alguém agredido por que saiu uma notícia no jornal, por que uma TV contou uma mentira. Isso não se faz com as pessoas. As pessoas que têm a mídia nas mãos devem saber que podem um dia viver uma situação assim, de fazer uma pessoa prisioneira na sua casa. Eu estive oito anos sem poder sair da minha casa [no Brasil], não podia tomas o elevador, por que as vezes um vizinho não me olhava no olho, ou porque tantas vezes saia para fazer comprar e podia ser agredido por uma coisa que não sabia.

O senhor ainda acha que o seu processo foi um processo político?Foi um processo injusto. Um processo mentiroso, injusto. Esconderam as provas. E é lamentável que isso aconteça em pleno século 20. A Polícia Federal e o Instituto Nacional de Criminialística disse muito claro que eu não tinha nada a ver com a aquilo. Preferiram outras opções.

Corte italiana nega extradição e Pizzolato deve ser solto

A Justiça da Itália rejeitou nesta terça-feira (28) o pedido do governo brasileiro para extraditar o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado por envolvimento no mensalão e atualmente preso em Modena. A Corte de Apelação de Bolonha julgou o pedido feito pelo governo brasileiro e decidiu que, diante da situação das prisões no Brasil, de sua condição de saúde e por ter cidadania italiana ele não pode ser devolvido ao Brasil para que cumpra pena no país.

O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil foi condenado a doze anos e sete meses de prisão no julgamento do mensalão. Ele fugiu para a Itália ainda no segundo semestre de 2013 com um passaporte falso de um irmão morto há mais de 30 anos. Em fevereiro deste ano, ele acabou sendo descoberto na casa de um sobrinho na cidade de Maranello, no norte da Itália, e levado para a prisão de Modena.

Com dupla cidadania, a esperança de Pizzolato era a de garantir sua permanência no país europeu. O Estado revelou com exclusividade, porém, que o Ministério Público da Itália deu um parecer favorável à extradição do brasileiro em abril deste ano, apesar de sua dupla cidadania.

Para tentar frear sua extradição, a defesa de Pizzolato alegou que ele temia ser assassinado se voltasse ao Brasil e que sofre de graves problemas "psiquiátricos". Documentos obtidos com exclusividade pela Agência Estado apontam que, para os advogados do condenado, uma eventual extradição do brasileiro às prisões nacionais significaria que seu tratamento "antidepressivo" não poderia ser realizado.

Foragido

O ministro Luís Roberto Barroso, atual relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, comentou nesta terça-feira a decisão da justiça italiana de negar a extradição do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.

De acordo com o ministro, Pizzolato continuará como foragido para a justiça brasileira e poderá ser preso em qualquer parte do mundo, que não a Itália. Barroso destacou que não teve acesso à decisão italiana, mas acredita que a nacionalidade estrangeira legitimaria, no Brasil, a recusa da extradição. O relator do mensalão, processo no qual Pizzolato foi condenado, apontou que com a decisão italiana existe "frustração do cumprimento da lei". "Se a justiça condenou, idealmente a pena deveria ser cumprida", disse.

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